Baixos salários massificam o descrédito do professor
Recentemente tive a oportunidade de conversar com professores da região onde ingressei na árdua e importantíssima missão de ensinar, no Rio Grande do Norte. As reclamações que costumo ouvir dos colegas do Amapá e do Pará não diferem em nada dos meus conterrâneos. A única diferença é que os salários dos profissionais da educação da região Norte são ligeiramente superiores aos que são pagos no Nordeste. Felizmente essa disparidade foi muito pior nos tempos que antecederam a criação do FUNDEF e FUNDEB. Não entendo o porquê, mas sinto que muitos educadores do Brasil a fora se sentem constrangidos ao falar de salários. Talvez não tenha consciência de que os baixos salários é um fator de baixa auto-estima e massifica o descrédito do profissional.
Mesmo sendo a remuneração um fator importantíssimo, a maior agonia revelada pelos professores é com a aprendizagem e a indisciplina apresentada pelos alunos. Apesar de os educadores terem buscado melhor formação nos últimos anos, os resultados diagnosticados nos alunos através das avaliações nacionais são pífios. O próprio MEC divulgou que a formação dos professores melhorou em todos os níveis de ensino e houve redução dos professores leigos na última década. Contudo, afirma o estudo, “apenas 57% dos docentes que atuavam na pré-escola, ensino fundamental e ensino médio, possuíam formação em nível superior, que seria aquela ideal”.
Na pré-escola, por exemplo, 27% dos 259 mil docentes tinha nível superior, em 2002, contra 17%, em 1991. O índice de profissionais com o fundamental incompleto caiu de 6% para apenas 1%, nesse período. Considerando a formação exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - magistério ou licenciatura - 91% dos professores que atuam nesse nível de ensino possuem a formação adequada.
No ensino médio, das 469 mil funções docentes, 89% têm a graduação completa e 79% deles a licenciatura. Neste nível de ensino, no entanto, quase 11% dos docentes ainda possui somente o ensino médio completo, indicando a necessidade de maiores investimentos em formação.
Na educação superior, do total de professores em 2001, 54% tinha mestrado ou doutorado concluídos, 31% possui especialização e cerca de 15% concluíram somente a graduação. Em 1991, o percentual de mestres e doutores era de 35%, 19 pontos percentuais menor.
Nos últimos anos, o número de ingressos nos cursos de graduação que oferecem licenciatura mais que dobrou passando de 166 mil, em 1991, para 362 mil, em 2002. Neste período a matrícula cresceu de 556 mil para 1.059 mil e o número de cursos passou de 2.512 para 5.880, com uma grande participação da rede pública, que concentra 3.116 cursos.
Segundo dados do SAEB, mais de 80% dos professores da educação básica participaram de formação continuada nos últimos dois anos. Essa realidade é similar para todas as regiões do País. No entanto, o mesmo estudo relata que o cruzamento dessa informação com os resultados alcançados pelos alunos nas provas de Língua Portuguesa e Matemática do Saeb indica que os cursos de formação continuada aparentemente apresentam pouco impacto no desempenho dos alunos. Segundo o estudo, isso indica “a necessidade de ampliar as pesquisas nessa área e, eventualmente, reorganizar esses cursos, redefinindo seus objetivos e métodos”.
Diante das informações divulgadas pelo MEC, fico com a impressão de que muitos professores estão buscando as universidades apenas por status ou simplesmente para melhorar a remuneração. Isso não é todo ruim.
*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br . Visite o site: www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlopes).