Não confio em políticos
Ao ser incluída na relação dos senadores que usaram as cotas parlamentares de passagens para fazer doação a familiares, a presidente do PSOL, Heloísa Helena contra-atacou: “Não tentem me misturar com esses bandidos. Estou em paz com a minha consciência”. O filho da ex-senadora se utilizou do privilégio para viajar com o dinheiro público, entretanto, Heloísa Helena se considera muito superior aos seus pares. Os que integram o grupo de admiradores radicais da política alagoana também acreditam piamente na sua honestidade e são capazes de acreditar que Helena sempre estará num plano superior totalmente blindada e imune às fraquezas do resto da humanidade.
Mantendo a sina da maioria dos proletários brasileiros, mantive por muito tempo uma ideologia socialista e utópica, na qual acreditava que os políticos da esquerda eram pessoas incapazes de praticar os mesmos erros dos governantes da direita. Lula, aquele de quem sempre fui grande admirador, conseguiu me provar em poucos meses de governo que filosofia de vida e poder nem sempre são compatíveis. Aquele que lutou a vida inteira contra banqueiros, patrões, Fundo Monetário Internacional (FMI) e ALCA, logo cuidou de trazê-los para o seu lado como forma de garantir a tal “governabilidade”. O sindicalista que se fez importante e famoso ao liderar as greves num passo de mágica passou a condená-las.
Tive o prazer de entrevistar Heloísa Helena em Macapá há alguns na Unifap. Eis uma mulher determinada e corajosa a quem tanto admiro. Fico a me perguntar: Uma vez no poder, o que há de diferente em Lula e Heloísa Helena no comando do Brasil? E entre Waldez e Capiberibe no Estado do Amapá? E entre Euricelia Cardoso e Barbudo em Laranjal do Jari? Eu tenho minhas preferências que são embasadas numa série de requisitos. Mas também confesso que há casos de políticos que gosto sem qualquer explicação técnica ou lógica.
Seria ausência de sensatez se considerasse que todos os mandatários são exatamente iguais, pois cada um ser é ímpar e possui convicções que lhes são peculiares, mas a política os torna muito semelhantes, quase cópias perfeitas. O discurso torna-se afinado. Os pretextos para não atender as prioridades da população são os mesmos. O que antes das eleições era totalmente viável torna-se impossível depois que o vencedor assume o comando. Os fartos recursos tornam-se escassos. O que antes poderia ser feito de qualquer jeito passa a seguir a burocracia que a lei determina. Aquele que procurava o povo, agora se esconde. O pior de tudo é ainda ter que suportar o discurso populista, típico dos grandes ditadores.
O que distancia um ser do outro é o poder. É o mesmo poder que também tornam iguais as convicções ideológicas dos nossos políticos e autoridades. Não há santos no poder. Se existisse alguma coisa nessa vida a que eu pudesse santificar, seria a ingenuidade e a ignorância daqueles que acreditam que algum ser humano estará imune aos privilégios, as mordomias e a corrupção histórica que foi instalada no âmbito político há mais de 500 anos neste país.
*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br -
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