A importância de novas utopias

Faz parte da imanência humana a projeção de sonhos e esperanças, como forma de motivação para enfrentar as agruras do cotidiano e para projetar o amanhã. Cada um, em seu universo interior, idealiza e projeta suas próprias utopias como mecanismo de defesa de seu sistema emocional, psíquico, biológico, como forma de sobrevivência mesmo. Projetadas, elas passam a ser a grande força motriz de nossa existência, de nossos projetos de vida, contribuindo para as utopias e realizações coletivas, na medida em que são partilhadas com outrem.

É o sonho, o desejo de realizar, de ser, de possuir, de conquistar, de projetar-se além de seu tempo e de si próprio, que tem movido o homem, em sua trajetória terrena, desde os primórdios de nossa civilização. Foi dessa maneira que o ser humano evoluiu, mostrando sua condição de ser racional, criado à imagem e semelhança de Deus, para elevar-se para a plenitude de suas potencialidades, na busca de sua transcendência.

As tribos, as famílias, os povos, as nações, as cidades, são frutos desse ideário humano, dos desejos, das esperanças que alimentaram nossos ancestrais na busca de transformação de suas próprias vidas e das vidas daqueles que deles descendiam.

Fruto também desse ideário humano é a ciência, as grandes invenções, os grandes descobrimentos, o conhecimento tradicional, a cultura, com todas as suas matizes e faces. É possível identificar, como fruto de utopias individuais e coletivas, a evolução da humanidade e a conformação do mundo geopolítico contemporâneo.

As conquistas espaciais embutem uma das mais ousadas e fantásticas utopias do homem, na busca de explicar a origem do universo, de conhecer a existência de outras formas de vida e as riquezas minerais que por ventura existam fora de nosso planeta, de encontrar Deus no infinito.

Os sonhos e esperanças individuais, que constituem o cotidiano de todos nós, podem constituir também as motivações de nossas próprias vidas, renovando o sentido de nossa existência, e nos impulsionando para superar obstáculos e vencer dificuldades. A força e a determinação com que nos entregamos a esses sonhos e esperanças podem dar-lhes existência própria, impregnando outros e, desse modo, se transformarem em sonhos e esperanças coletivas.

Somos, portanto, indutores de processos motivacionais, em nossos semelhantes. Somos semeadores de conceitos, de projetos, de propostas, de conquistas, muitas vezes, sem nos darmos conta de nossa força transformadora.

Devemos nos compreender como unidade de transformação. Entendendo nossa importância, para o tempo e para o mundo em que vivemos, saberemos, como agentes transformadores, mudar o rumo de muitas coisas, em torno de nós.

Essas mudanças, no entanto, devem começar dentro de nós mesmos, com nossa compreensão, com nossas atitudes, e com a grandeza que pode ter a nossa utopia, por aquilo que ela contenha de sentimento coletivo. Esse processo é um processo de extroversão, de busca e partilha com nossos semelhantes, procurando auscultar seus anseios e interpretar seus sentimentos.

Tempos em tempos, precisam ser consagradas novas utopias coletivas, como forças motivadoras de sentimentos comuns, como anseios difusos, que possam congregar a energia do sentimento coletivo, para sua realização. O mundo precisa de utopias coletivas, como forma de capitalizar ações que nos levem a um mesmo destino, consagrando anseios universais.

A utopia da paz é a mais bela e antiga utopia do homem. Ela é reafirmada, de forma permanente, a cada tempo, a cada crise, a cada ano, a cada instante, como um anseio universal. Ela nos move para ações pacifistas, para a defesa da vida, da harmonia, do respeito a valores construtivos e brilha, flamejante, em sua brancura simbólica.

A consagração de novas utopias coletivas, no entanto, precisa de mecanismo indutor. O principal indutor deve ser o poder público, deve ser o Estado, teoricamente concebido para promover o bem estar social. Essa indução pode estar implícita no conjunto das políticas públicas, através de programas e ações que motivem, que seduzam, que predisponham os cidadãos a unirem suas forças para atingirmos determinados objetivos.

Precisamos, portanto, de utopias que possam ser luzes, estradas, caminhos, horizontes para os cidadãos, para os pais de família. Essas utopias precisam ser delineadas, precisam ser conceituadas, precisam ser postas como destino para motivarem as esperanças e os sonhos, especialmente, da juventude.

Falta de perspectivas para os jovens, incluindo mercado de trabalho, formação educacional superior, formação de nível médio, insegurança social, desagregação familiar, proliferação das forças do narcotráfico, vitimando crianças e adolescentes e os aprisionando num mercado de crimes. Esse cenário de desencanto, de desestímulo, põe em risco o futuro de nosso país, pois atinge os que deverão conduzi-lo amanhã, como profissionais, como pais de família, como cidadãos responsáveis.

A permissividade, a tolerância em relação ao uso das bebidas alcoólicas, por menores é um reflexo desse estado de notório descaso em relação ao cidadão, à família, à juventude e à sua formação. Amar a cidade é construir utopias para os sonhos da juventude.

Precisamos, portanto, projetar novas ou renovadas utopias, para que sirvam de horizontes para uma sociedade premida pela deturpação dos valores tradicionais da família, pelo extremo inventivo ao consumo, pelo assédio do narcotráfico, e pela falta de perspectivas para sua juventude.

Ivan Sarney
Enviado por Ivan Sarney em 22/07/2009
Reeditado em 23/07/2009
Código do texto: T1714147
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