Brinquedo e violência urbana
A partir da entrada em vigor do rigoroso Estatuto do Desarmamento, está afirmada a prática de uma política pública federal contraposta à violência, no conjunto da sociedade brasileira, como forma de proteção da vida. A compra, a guarda, a devolução, o porte da arma de fogo está ali disciplinado, de modo assegurar maior proteção à vida.
A essa política federal devem estar aliadas políticas públicas, estaduais e municipais, que constituirão a grande base sobre a qual poderão ser assentadas as campanhas e as práticas de uma cultura de paz, incluindo a educação familiar e escolar, como premissas indispensáveis à adoção de novas práticas culturais.
A ação do governo representa uma resposta a um anseio de todos nós, pais de famílias e cidadãos pacíficos, à onda de violência que está grassando em nosso país, neste início de século. Violência que insiste em exibir seus tentáculos, cada vez mais longos, mais diversificados, mais densos e perversos, envolvendo, preferencialmente, jovens de menor idade, como vítimas ou autores.
Sabemos que a violência é um dos instintos da espécie humana, convivendo conosco, de forma latente, por toda a nossa vida. A paz é um ideal, um sonho a ser alcançado, sendo produto de reflexão, de determinação de conquistá-la, como uma condição para nossa própria felicidade.
A violência, por ser instintiva no ser humano, independe da condição social e econômica dos povos. Ela permanece em estado de latência e pode ser exercitada, a qualquer momento, sob o estímulo de uma situação que a desperte.
Os fatores sociais são condicionantes de comportamentos violentos. Eles não são, no entanto, determinantes da violência na espécie humana. A violência é inata no homem e está ligada, biológica e ontologicamente, à sua história social, passando por todos os estágios de sua evolução.
Não podemos esquecer, no entanto, que o homem é o reflexo de sua criação, daquilo que lhe foi ensinado na mais tenra idade, na família e na escola, até por volta dos dez anos, quando os traços fundamentais de nosso caráter e de nossa personalidade se formam.
Valores como amor, solidariedade, fraternidade, respeito aos mais idosos, às leis e regras de convívio em grupo; os princípios éticos, o sentido da liberdade responsável, os limites do possível e do não possível; todos esses valores, que são éticos também e definitivos, só podem ser aprendidos nessa fase de formação do futuro adulto.
Portanto, é necessário que nos empenhemos para dar uma formação mais adequada aos nossos filhos, a partir do ambiente de nossa casa, de nossa família. A cada dia, o mundo fica mais amplo para o cidadão de qualquer país, motivado pelos avanços de uma sociedade cada vez mais globalizada em seus valores, sua comunicação, seus códigos de conduta, e nos torna responsáveis pela sustentabilidade do planeta e pela sobrevivência da espécie humana.
A cada dia, no entanto, devemos nos sentir mais responsáveis pelos destinos da espécie humana, pela segurança de cada cidadão, do conjunto da sociedade, buscando ressaltar valores que engrandeçam a nossa espécie, evitando os que contribuam para sua degradação social.
Para isso, a educação que nós pais devemos dar a nossos filhos tem que ser compatível com esses valores positivos, com os sentimentos e os anseios de um mundo melhor, evitando estimular a violência sob quaisquer que sejam as suas formas.
Devemos, portanto, estar atentos para não darmos exemplos de violência em nossa própria casa, nos métodos de disciplina familiar que estabelecemos para a educação de nossos filhos e na relação que temos com o nosso cônjuge.
Do mesmo modo, os brinquedos com que presenteamos nossos filhos não devem representar um estímulo à violência: armas de brinquedos, fitas de vídeo games que são combates, jogos de destruição, do mesmo modo não devem constituir-se em presentes que os pais devemos dar aos nossos filhos ou aos filhos dos outros.
A maioria dos jogos eletrônicos que se encontram à venda são verdadeiros treinamentos para a violência, para matar. Esse treinamento é mais cruel porque os jogos são interativos, fazendo com que a criança que os está manipulando aponte e dispare a arma, matando, destruindo tudo o que aparece como alvo móvel.
É claro que as crianças que crescem treinadas assim vão banalizar a vida, a morte, e matarão sem piedade, sem se sentirem culpadas de nada, como se estivessem jogando no vídeo game. O que dizer dos adolescentes que estão se digladiando em gangues, com vítimas fatais; que estão matando colegas no ambiente da escola; que estão matando cidadãos, com requintes de crueldades, por motivo mais fútil e torpe, até para se divertirem?
Os jogos eletrônicos, também, estão treinando as crianças para matarem. Vamos cruzar os braços para isso? Estou convicto que não devemos nos omitir. Proibindo a comercialização desses jogos que treinam para matar. Não comprando esses jogos, não comprando, não presenteando com armas de brinquedos, não estimulando as crianças a praticarem a violência, sob qualquer forma. Denunciando essas práticas nocivas, estaremos contribuindo para um mundo mais pacífico, salvando a vida de milhares de pessoas, dentro dos anseios de paz universal que deve ser a grande utopia deste milênio.