Caminhos de santidade - SERMO XLV

CAMINHOS DE SANTIDADE

Pois esta é a verdade de Deus: a santificação de vocês (1Ts 4,3).

Em geral, nas pregações, discursos ou textos que se escuta e lê por aí, nas nossas atividades da Igreja, a palavra santidade nos aparece, muitas vezes, como algo distante, inacessível aos humanos e simples mortais. Tal conjunto de modelos é capaz até de desanimar a muitos, uma vez que ligamos a idéia de santidade àqueles santos dos altares, Maria, mãe de Jesus, Santo Antônio, São Francisco, Santa Teresa e outros tantos que foram canonizados pela Igreja e hoje figuram em uma galeria de pessoas cuja atividade parece inatingível para muitos de nós.

Na Bíblia, não existe algo como uma “santificação parcial”. Ou se é santo ou não. Pertencemos a Cristo completamente desde o momento em que nascemos de novo (pelo batismo), e permanecemos assim enquanto estivermos ligados a ele pela fé. A santificação sempre sinaliza uma experiência total de propriedade de Deus com relação à criatura humana. Essa propriedade se completa na conversão e deve continuar assim por toda a nossa vida cristã.

Existem diferentes aspectos para a idéia de santificação. No sentido relacional, de que fomos separados por Deus, o trabalho está completo. O verbete sanctus tem dois sentidos: separado (para Deus) e sanado (do pecado). Pertencemos a Deus. Fomos santificados por ele que nos cumula de graças para fortalecer nossa caminhada até o derradeiro encontro. Por causa do que Cristo fez na cruz, Deus tem o direito de nos reclamar como seus. Afinal, o Filho morreu para que fossemos santos.

No sentido moral, entretanto, no sentido de crescimento na graça, ainda estamos no processo de santificação. Nestes dois versículos – “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (cf. Jo 17,17) e “o mesmo Deus da paz santifique vocês em tudo” (cf. 1Ts 6,23) – o verbo santificar aparece no presente, como em um processo contínuo pelo qual participamos da santidade de Cristo em um sentido distinto, moral e prático. Pela fé, e em total dependência de Deus, somos transformados pelo poder dele que trabalha em nós, para nos limpar e purificar do pecado, a fim de que o caráter de Cristo seja formado dentro de nós.

Pois esta é a verdade de Deus: a santificação de vocês.

A busca da santidade reflete a nossa vida oculta com Cristo, em Deus. Que recomendações sobre a vida cristã Paulo faz em Colossenses?

Portanto, se vocês foram ressuscitados juntamente com

Cristo, busquem as coisas lá do alto, onde Cristo vive,

assentado à direita de Deus. Pensem nas coisas lá do Alto e

não nas que são aqui da terra; porque vocês morreram, e a

vida de vocês está oculta juntamente com Cristo, em Deus.

Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então,

todos vocês também serão manifestados com ele, em glória.

(cf. Cl. 3,1-4).

Estes versículos são muito significativos, e revelam muito claramente o aspecto relacional da nova vida em Cristo. Somos ressuscitados com Jesus, porque primeiro morremos com ele. Isto é, no momento da conversão, morremos para o velho eu e agora passamos a viver uma nova vida em Jesus, na qual, pela fé, pelo poder do Espírito Santo, manifestamos em nossa carne, nosso coração, nossas palavras e atos, o caráter de Cristo, “o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, justiça, santificação e redenção” (cf. 1Cor 1,30).

Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os

mandamentos de Deus e a fé em Jesus. (Ap 14,12).

Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a

oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas

(Hb 10,10).

Na linguagem hebraica, a palavra santo, freqüentemente traduzida como “santificado” (kadosh) aparece em suas várias formas mais de sessenta vezes no Antigo Testamento. No grego, o verbete águios, que geralmente aponta para o sentido de “santo”, aparece quase cem vezes no Novo Testamento. Em ambos os casos, as palavras não traduzem apenas algo “santificado”, mas também como “santidade”, “tornar santo” ou simplesmente “santos”. Deste modo, só pelo significado original, recebemos um indicador poderoso de que a santificação humana está ligada indissoluvelmente à idéia de santidade que brota de Deus.

Mas o que é, afinal, santidade? No hebraico, o significado básico é “colocar a parte para uso santo”, ou apenas “separar” do pecado para Deus. Assim, os que são santificados pertencem a Deus e ao seu serviço. Aplicado aos homens, o conceito de santidade supõe adesão, entrega e compromisso ao projeto de Deus. É a partir desse compromisso que Deus decide santificar o homem, tornando-o justo e íntegro.

Pois esta é a verdade de Deus: a santificação de vocês.

Desde o princípio do “povo de Deus” o Senhor falou a Moisés: “Sejam santos, porque eu Javé, o Senhor de vocês sou santo” (Lv 19,2). Quanto a vocês santifiquem-se e sejam santos, porque eu sou Javé, o Deus de vocês (20,7). Sejam santos para mim, porque eu Javé sou santo. Eu separei vocês de todos os povos, para que pertençam a mim (v. 26).

Santa Terezinha do Menino Jesus, por exemplo, buscou a santidade através da realização de ações simples e tarefas que mostravam sua humildade. Seu livro História de uma alma (1898) tornou-se uma das biografias religiosas mais lidas de todos os tempos.

Modernamente, sem fugir ao sentido original da palavra, santidade é a virtude daqueles que fizeram triunfar em si os valores básicos que advém do amor de Deus. Originariamente, só Deus é santo e santificador, porque só ele é transcendente e possui visão de todas as coisas. Sua perfeição consiste na justiça e na integridade. No livro do Apocalipse é dito ao vidente João que a multidão que caminha, com vestes brancas e palmas verdes nas mãos, são os vitoriosos que superaram as tribulações, enfim, os separados, os santos (cf. 7,14).

É informado, na mesma alocução, que aqueles fiéis lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro. Trata-se de uma metáfora que aponta para a purificação e a santidade, obtidas a partir da opção totalizante pelo Cristo, redentor de todos os santos. Fomos e salvos, purificados e encaminhados à santidade a que preço? Ao preço do generoso sangue de Jesus.

O apóstolo Paulo abre uma das suas cartas exortando seus leitores à santidade na obediência da fé e das virtudes cristãs, ou seja, a uma submissão livre, que os fará viver de acordo com a vontade de Deus, manifestada em Jesus Cristo:

Escrevo a todos vocês que estão em Roma, que são amados

por Deus e chamados à santidade. Que a graça e a paz da

parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam

com vocês (Rm 1,7).

O indivíduo não se torna santo depois que entra no Reino de Deus. Ele constrói os caminhos de sua santidade nesta vida. Todos os santos que conhecemos sempre realizaram boas obras em suas vidas. Precisamos conhecer a história de alguns santos, não como intercessores (após a morte), mas como um bom exemplo (enquanto vivos) a ser seguido, já que foram pessoas que viveram o evangelho na pele e muitos até morreram por ele.

Quem lê a vida dos santos fica impressionado com os milagres que Deus realiza através de muitos deles em vida, por exemplo: pedras que param no ar, levitação, curas diversas, cirurgias miraculosas. Muitos santos, depois de mortos, apresentam “corpos que não se corrompem” (santas Clara, Bernadete e Catarina Labouré, por exemplo), etc.

Santidade, desta forma, significa um ser diferente, estabelecer uma separação total a Deus. Dessa dedicação total a Deus, vem o sagrado, o consagrado. Sem um coração santo não se pode viver em santidade. Santidade é o clamor do coração de Deus para o seu povo desde a Antigüidade até os dias de hoje.

A santidade dos cristãos, na seqüência do judaísmo, é fruto do chamamento de Deus (cf. Rm 1,7). O cristianismo herdou muitos de seus arquétipos da espiritualidade judaica. Já antes da fundação do mundo os cristãos foram “chamados a serem santos e irrepreensíveis diante de Deus” (cf. Ef 1,4). A santidade é graça, legítimo dom de Deus, e deriva da consagração que faz o cristão entrar na intimidade divina (cf. 2Cor 1,12).

Ela requer, no entanto, uma exigência de vida perfeita que é imitação de Deus (cf. Ef 5,1), serviço a Deus (cf. Rm 6,13), corrida em direção à meta fixada por Jesus Cristo (cf. Fl 3,12ss) e, enfim, um serviço a todos e à Igreja.

Deus deseja uma geração que seja exclusiva para si, separada para ele, consagrada para seu projeto. E esse anseio do coração de Deus se revela em toda Bíblia. É um cuidado da parte de Deus com os seus escolhidos. Não há como falar em Santidade, separação, consagração, dedicação, obediência e fidelidade, sem falar de Daniel e seus amigos (Sidrac, Misac e Abdênego). Daniel é um exemplo forte e sua história se apresenta como uma das mais lindas no que diz respeito à dedicação a Deus.

Assim como Samuel e Daniel foram chamado, todos nós trazemos em nosso coração a missão de ser profetas. Não são só os bispos, os padres e os pastores que tem essa missão. Todos os batizados são vocacionados ao profetismo e à santidade. Às vezes precisamos de mais espaço para desenvolver essa atividade, cerceada por vários fatores dificultadores.

A Santidade, por nos aproximar de Deus, por ser agradável a Deus e totalmente desagradável ao inferno, abre portas para a manifestação poderosa de Deus. Os milagres acontecem, a libertação deixa os inimigos perplexos. Tudo isso, porque a santidade nos insere no mistério de Deus e o desejo do nosso coração se alinha ao desejo do coração de Deus que se realiza plenamente em nossas vidas e através das nossas vidas.

Quem já experimentou a graça da santificação não precisa fazer esforço em praticar o bem e a justiça. É tão lógico como a figueira dar figos e a videira, uvas.

O homem santificado opõe-se a todo tipo de pecado; anda nos estatutos do Senhor e guarda os seus juízos e os observa. Uma pessoa, homem ou mulher, com coração puro vê pureza em tudo; o de coração impuro vê impureza em tudo e interpreta com malícia qualquer coisa. Não basta falar de santidade. Precisa vivê-la. Esse é o testemunho.

A verdade não pode ser adulterada ou deturpada. A mente carnal combate sistematicamente a santidade. O coração do homem carnal não admite a lei de Deus, a verdade, porque restringe suas tendências impuras. Sem a santidade, ninguém verá o Senhor, isto é, não entrará no Reino de Deus. A santidade não pode ser protelada para se buscar nos momentos de agonia, de sofrimentos, na vida.

Pois esta é a verdade de Deus: a santificação de vocês.

Quem não se preparar e tiver vida santa na terra, não terá santidade na eternidade. A santidade é requerida a partir da vida presente. Todo aquele que crê em Deus Santo deve buscar ser santo. Ser santo não é sugestão, mas imperativo para todo aquele que se tornou filho de Deus pelo batismo e pela adesão a Cristo.

A santidade é uma qualidade moral de pureza do espírito, alma e corpo. O cristão é, portanto, um elemento raro no mundo corrompido, pois tem a qualidade de santidade cujo grau e intensidade vai gradualmente crescendo, mas, na essência, já tem todos os atributos divinos.

Ora, sabemos que Deus é cem por cento santo. Essa qualidade de ser santo, puro, isento de mistura da velha natureza, humana e adâmica, deve fazer parte da vida e do esforço de todos os cristãos.

Um cristão autêntico tem em seu coração o amor, fé, paz, mansidão, sinceridade, bondade, honestidade, enfim, todos os frutos do Espírito Santo, e esses traços de caráter vão sendo confirmados, ampliados, amadurecidos e desenvolvidos. Pureza é a ausência do pecado; assim como a saúde é a ausência da doença. Esvaziando-se dos pecados, imediatamente o cristão deve ser cheio de santidade de Deus, e essa plenitude de pureza deve ser o estado permanente de cada um que segue a Jesus Cristo.

Há que se descartar qualquer tentativa de desejar ver a Deus, se guardarmos em seu coração a iniqüidade e a impureza. A partir disto, vamos estudar a “natureza da santificação”. Quando se fala em “santo”, devemos considerar os seguintes sentidos:

1 – SEPARADO do terreno, do humano, ou do mundo para Deus. Viver no mundo sem se contaminar por seus valores inferiores. A pessoa santa, então, é considerada “separada” para o uso santo no serviço do Senhor;

2 – DEDICADO. O que é requerido para culto de adoração a Deus. Uma pessoa dedicada é santa, pois passou a ser propriedade exclusiva do Senhor;

3 – CONSAGRADO é uma pessoa que se entrega a Deus, no sentido de viver de modo justo (isto é, justificado pelo sangue de Jesus derramado na cruz);

4 – PURO. “Mas como é Santo aquele que os chamou, sejam vocês também santos em toda a sua maneira de viver” (1Pd 1,15).

Assim, a santificação inclui a remoção de qualquer mancha ou sujeira que seja contrária à santidade da natureza divina. A santidade de Deus é o modelo que temos para a nossa vida. A Bíblia nos convida, conforme lemos acima a “sermos também santos em todo o seu procedimento”.

A santidade de Deus não tolera o pecado. Lemos em Isaías: “Mas as iniqüidades de vocês fazem separação entre vocês e o Deus de vocês; e os seus pecados esconderam o rosto de vocês, de modo que ele não os ouça” (Is 59,2).

Santidade é um dom da graça de Deus: “Agora, pois, se atentamente ouvirem a minha voz e guardarem o meu estatuto, então vocês serão a minha possessão peculiar dentre todos os povos, porque minha é toda a terra; e vocês serão para mim reino de sacerdotes e uma nação santa. São estas as palavras que devem ser faladas aos filhos de Israel” (Ex 19,5s). Na trilha da santificação, quanto mais lemos a palavra de Deus mais santidade adquirimos: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17,17).

Quais são os caminhos que nos conduzem à santidade? São diversos, cada um, buscando a unção do Espírito Santo pode descobrir os seus. Em geral eles passam por alguns fatores, como,

1. OBEDECER

Submeter-se é cumprir uma norma com interesse de coração;

2. SEVIR

O serviço é uma atividade própria do discípulo que quer ser santo;

3. PARTICIPAR

Entender a autoridade é manifestar o desejo de estar junto com quem dirige espiritualmente a comunidade;

4. NÃO MURMURAR

Quem reconhece e entende o vigor da Autoridade Espiritual não pratica conspiração contra essa autoridade (cf. Nm 16). Quem tem Autoridade Espiritual tem a assinatura e o respaldo de Deus.

O desprendimento das coisas materiais, o desprezo pelas riquezas humanas, fúteis e supérfluas, também é uma forma de se adquirir a santidade, Santo é aquele que não se deixa corromper pela ilusão dos bens, do dinheiro ou das honrarias humanas:

Se queres ser perfeito, vai, dá tudo o que tens aos pobres e

segue-me (Mt 19,21).

Paulo considerava santos os membros da Igreja que se distinguiam em honrar seus irmãos, adorar a Deus e encontrar em Cristo um sentido para suas vidas (cf. Fl 4,21). Em termos de doutrina, a santidade do povo de Deus se manifesta através de numerosas circunstâncias, como derramamento de carismas, oração fervorosa, testemunho audacioso, apostolado intenso, caridade incondicional, etc. Na prática, quais são as características básicas de um santo?

• ter fé; acreditar no poder e na redenção do Deus Uno e

Trino;

• participar da Igreja de Cristo;

• ser uma testemunha do Ressuscitado;

• amar a Deus e ao próximo;

• colocar-se a serviço de todos, especialmente dos mais

fracos e necessitados;

• ser uma pessoa de esperança;

• possuir atitudes de conciliação, perdão e desprendimento;

• em razão da fé, do amor e da esperança, nunca desistir da

busca da santidade, com destemor e alegria;

• pessoa de oração, meditação e adoração;

• possuir um senso de apostolado missionário;

• desenvolver as virtudes da humildade e da simplicidade;

• não apenas ter fé, mas testemunhá-la de forma consciente,

crescente e comunicante.

...............................................................................................

Você conhece, ao seu redor, alguma pessoa que possua essas características em sua vida pessoal, social e religiosa? Acho que é difícil encontrar quem reúna todos esses fatores. É difícil, mas não é impossível.

Pois eu, felizmente, conheço uma pessoa que percorre, com sua vida, uma vigorosa trilha de santidade. Não vou dizer seu nome nem dar maiores pistas por razões até éticas, e para não chocá-la, caso ela leia este texto. Trata-se de uma senhora, viúva, magrinha, frágil, cabecinha branca, sorriso fácil e olhar vivo, de oitenta anos, cuja vida virtuosa aponta para o céu e tem um incrível perfume de santidade.

Essa cristã admirável, mora sozinha, em uma casinha simples de um bairro modesto. Não tem estudo nem maiores luzes intelectuais. Sua sabedoria é originária da vida e das luzes do Espírito Santo. Sua humildade chegou a ser confundida com dificuldade de compreensão. Ela se inscreveu, há tempos, para um curso de estudos bíblicos e teologia popular, sendo dissuadida por um racionalista, sob a alegação de que não iria entender nada. Mesmo assim, ela frequentou as aulas assiduamente e teve bom aproveitamento, especialmente no sentido espiritual. O que faltou em capacidade intelectual foi esbanjado naquela intuição que só o Espírito de Deus é capaz de dar aos justo.

Há algum tempo, a referida senhora teve um grave problema de saúde: um câncer no estômago, que a levou a uma amputação daquele órgão. Ela fez cirurgia, tratamentos correlatos e, embora se alimentando de forma reduzida, conforme sua limitação permitiu, conseguiu sobreviver. Hoje ela está curada e, num sinal de gratidão, vai (de ônibus) todos os anos à Basílica de Aparecida, São Paulo, em ação de graças pelas maravilhas que o Deus da vida realizou nela.

É incrível constatar sua alegria de vida, seu desprendimento e, sobretudo sua fé. Ela está sempre alegre, sorrindo e disposta a servir. Não tendo muitos recursos, ela apanha as frutas de seu pátio (figos, laranjas, goiabas e abóboras) e faz saborosos doces em calda, distribuindo-os generosa e gratuitamente a amigos, parentes e vizinhos. Alguns agraciados lhe dão o açúcar; outros nem isto.

Sua festa de aniversário, comemoração recente dos oitenta anos, foi uma demonstração do carinho de seus amigos. No sistema “cada um traz um prato”, cerca de cinqüenta pessoas se acotovelaram na casa, da tarde até a noite, para abraçá-la e festejar a graça de seu convívio. É claro que não faltaram os doces caseiros, marca inconfundível da generosidade da dona da casa.

Embora more a umas seis ou sete quadras da igreja, a subir, ela sempre se faz presente na Missa, nas reuniões de seu movimento eclesial e nas demais atividades comunitárias. Ela não perde sua Eucaristia, e vai a pé, enquanto muitos, tendo carro, encontram desculpas para não se fazerem presentes naquelas atividades.

Quando, depois da missa ou de alguma atividade de igreja alguém lhe oferece carona, muitas vezes ela reluta, dizendo que vai incomodar e dar trabalho. Ela era ministra extraordinária da Sagrada Comunhão. Em face de sua enfermidade, seu mandato foi suspenso. Depois de curada, sua humildade a impediu de solicitar às "autoridades religiosas" seu reingresso.

É interessante notar, em sua personalidade, aquelas características básicas da santidade, referidas anteriormente. Não se trata de atitudes tênues, mas demonstrações vigorosas de quem é amigo de Deus, e sempre tem uma atitude de fé, de serviço e santidade.

É lamentável notar que muitas pessoas, a quem fiz observações sobre a santidade desta senhora, não se entusiasmaram com o fato de a comunidade ter em seu seio uma pessoa dessa envergadura. Como seria bom se os membros da nossa igreja pudessem haurir dela o ensinamento, as pistas da virtude e os testemunhos de quem já desfruta em vida dos caminhos da santidade.

Será lamentável, se não for trágico, depois que ela morrer, algumas pessoas constatarem que foram contemporâneas de uma pessoa santa, e que não tiveram a devida sensibilidade de enxergar ao seu lado uma pessoa de Deus. Depois que uma pessoa com esse toque de santidade deixa o convívio humano, muitos vão fazer romarias ao cemitério, celebrar missas, acender velas e mandar imprimir “santinhos”.

No entanto, enquanto vivia, a pressa, o materialismo e o comportamento superficial de muitos, não conseguiu enxergar a graça de ter uma pessoa desse quilate ao nosso lado. Como se leu na vida dos santos, se você elogia sua espiritualidade, ela fica sem jeito e se confessa uma pessoa pecadora.

Será que não foi esse remorso e essa frustração que se abateu sobre os que viveram na mesma época de Francisco, Antônio, Teresa, Bernadete e tantos outros? A Bíblia ensina a enxergar Deus enquanto ele está por perto; a buscá-lo enquanto ele se deixa encontrar. Igualmente, a fé e a sensibilidade cristã nos leva a cultuar as pessoas santas que vivem perto de nós.

Temos muito a aprender com elas. Ao invés de orarmos diante de imagens de gesso, depois, é salutar desfrutarmos, agora, de suas presenças, exemplos e testemunhos.

Embora não seja uma pessoa de nossa família, parece que a conhecemos há muitos anos e a amamos por causa de sua alegria, simplicidade, coragem, pureza, disponibilidade e entrega à causa de Deus.

................................................................

Pois esta é a verdade de Deus: a santificação de vocês

Santidade para ser autêntica sempre aponta para a perfeição. Torna-se santo quem aspira ser perfeito, separando-se de todo o mal, a intriga, a inveja e A divisão. Sabemos que Deus é perfeito. Mesmo assim, Jesus nos aconselha a sermos perfeitos como o Pai é perfeito (cf. Mt 5,48).

Ora, como sabemos que as promessas de Jesus são verazes, e que ele jamais faz jogo de palavras, fica-nos a certeza que, se vencermos todo o mal que nos cerca, podemos, efetivamente, alcançar aquela perfeição, legítimo dom de Deus, que nos é oferecida.

O autor é um leigo, 67 anos, pregador de retiros, evangelista e doutor em Teologia Moral. Escritor (110 livros publicados no Brasil e exterior) e Biblista.