Antigamente (nem tanto assim) meu pai me dizia: - Cuidado meu filho, porque nem tudo que reluz é ouro! Meu velho pai (nem tanto assim) só queria me preparar para um futuro escancarado que estava diante de mim, mas que na maioria das vezes, gostamos de enxergar a miragem e idealizá-la como algo tão real que até conseguimos viver bons momentos prostrados diante de um monte de areia quente do deserto usando cachecol por pensar que estamos no pólo norte.
 
Falar da vida dos outros é fácil; criar e até viver a novela da vida alheia é algo tão brasileiro, aliás, tão latino, que às vezes eu me envergonho de ser daqui ou de pertencer a esta mesma raça; enxergar os defeitos alheios é simples; enxergar que o vizinho tem rabo e jamais admitir a presença do seu próprio é docinho na boquinha.
 
Na última semana foi noticiada amplamente a detenção de um famoso atleta que ficou um dia inteiro na cadeia por não ter pagado três meses de pensão alimentícia dos filhos; até aí tudo bem! Todos os dias centenas de brasileiros vão a cárcere temporário pelo mesmo tipo de descumprimento legal e este fato não será o último a acontecer, muito menos a ser noticiado.
 
No caso do atleta preso por determinação judicial, eu falo de carteirinha que não vi nada de mais, até mesmo porque, em toda história ligada à pensão de alimentos para menores, sempre há outra história abstrusa que a justiça não tem caráter para investigar, muito menos revelá-la; cada pai e cada mãe têm uma alegação absurda ou para não pagar ou para receber a grana da pensão; em alguns casos os filhos também têm umas historinhas pra lá de curiosas para justificarem que necessitam do dinheiro; ainda tem as histórias de gente que não pariu ninguém, que não amou ninguém, sequer viu os bacuris, mas são forçados a pagar em detrimento de outros, portanto, pensão alimentícia é a maior roubada e eu questiono muitas vezes o senso de justiça na questão da execução.
 
A pátria posa de boa mãe; a Constituição diz que o Estado tem deveres quanto aos menores, mas na hora que o tema é grana pra comprar comida (em tese), quem pariu Mateus que o balance; a Grande Mãe Pátria diz que não tem nada a ver com isso!
 
Eu estou divorciado há 10 anos e jamais me vi diante da obrigação de pagar para não ir preso; muito disso porque encerrei um casamento, mas sempre (ou quase sempre) busquei uma amizade sincera com minha ex-esposa e meus filhos, mas já vi muita gente dormir em noite de natal, aniversário da sogra e até durante o velório do pai, na cadeia porque não pagou o dindin dos meninos.
 
Na maior parte das histórias novelísticas os homens dizem que suas ex-esposas utilizam a grana do mercado das crianças para sair com os namorados, já as mulheres, na maior parte também das mesmas histórias afirmam por seus advogados que estão passando fome e que as crianças (muitas vezes jovens sadios de 20 anos) estão passando por vexame diante a sociedade já que seus pais não lhes provem o que é de direito; esta é a regra para a maioria das cobranças.
 
Certo mesmo é que a Lei, que é soberana e irretorquível, diz que as despesas que constituem “alimentos” para os menores (em alguns casos até maiores), devem ser rateadas em igual parte entre os pais; em tese a mãe que provar judicialmente que seus filhos necessitam de R$ 1.000,00 para sobreviver com dignidade (???), deve ela suprir R$ 500,00 e esperar o restante do genitor, caindo por terra uma tabela imaginária que os catecúmenos criaram de percentuais que são aplicados sobre os salários dos devedores (quase) eternos.
 
Voltando ao caso daquele atleta que foi preso esta semana, segundo falatórios dos repórteres que cobriam o mega evento policial no Rio de Janeiro, “o cara” paga todo mês a sua ex-consorte R$ 18 mil, o que me faz crer que o padrão alimentício de seus filhinhos chega a R$ 36 mil e pelo visto não é; o atleta teve que pagar quase R$ 50 mil na bucha para ter o direito de sair do xilindró. Para a questão especial desta pensão alimentícia eu prefiro não comentar mais nada...!
 
O que mais me surpreendeu neste caso foi a rolagem de dívida daquele mesmo atleta que foi preso; pode ter parecido uma jogada de marketing para justificar o motivo dele ter ido parar na cadeia, mas pelo visto não é. O atleta que dantes já se mostrou um sujeito rico; hoje responde várias ações judiciais que juntas somam mais de R$ 10 milhões em pedidos, algumas já com trânsito em julgado. A imprensa revelou que ele não paga o condomínio da cobertura que fica em um dos melhores e mais caros bairros cariocas há pelo menos 5 anos; já o IPTU do mesmo imóvel a Prefeitura do Rio não ver a cor de seu dinheiro há 7 anos.
 
O próprio imóvel que ele mora irá a leilão ainda este mês para tentar saldar parte da dívida que ele já carrega por condenação; segundo sua ex-consorte, aquela dos R$ 18 mil de pensão, o imóvel que ela mora com os filhos do atleta também já foi a leilão judicial três vezes devido a vários distúrbios financeiros do atleta galã.
 
Não faz muito tempo que eu morei num prédio em que havia um casal jovem, pelo visto recém casados; eu nunca tive (nem quis) ter acesso a seu apartamento, mas fui síndico e pude perceber que eles pagavam a taxa de condomínio uma vez por ano; quando estávamos prontos para ingressar em juízo com a cobrança das taxas eles acabavam dando um jeito com a família e pagavam suas obrigações. O que mais me intrigava era que ambos desfilavam a bordo de um lindo Audi A3 cheio de janistroques e “tirando uma de porretas”; um vizinho deles quis certa vez comprar as rodas do carro para enfeitar o seu e sabe qual foi à resposta? Não! Questionados pelo vizinho atrevido porque não vendiam as rodas para pagarem o condomínio eles disseram que isso eles sempre achavam uma solução; o carro estava 15 meses sem pagamento das taxas legais, mas o jovem casal não podia ser visto sem a aparência do luxo; resumindo: comiam moela de galinha e arrotavam caviar!
 
Tenho quase certeza que o caso daquele atleta é muito similar; dizem que ele anda pelas cidades fluminenses a bordo de carros exclusivíssimos e personalizados, oriundos de Maranello na Itália; dizem que sua mansão na cobertura que vai a leilão tem mais de mil metros quadrados; dizem ainda que ele é o melhor amigo de muitos “amigos” que sempre necessitaram de sua grana; dizem que sempre esteve na presença das gatas mais belas do Brasil e quando isso ocorria ele fechava boates e alugava andares de hotéis de luxo para seus prazeres íntimos; também contam as más línguas que ele ajuda dezenas de associações de pessoas carentes. Deste jeito, com um pouquinho de crédito a mais até eu poderia morar em Mônaco!
 
Ninguém tem nada a ver com a vida particular deste atleta, muito menos eu; mas que tem muita história ainda pra rolar, isso tem! Porque eu não falo o nome deste atleta que todos já sabem que é? Vejam bem! Outro dia eu falei de um hotel de Minas Gerais que deixava trancada a porta do sanitário comum, fui processado cinco vezes; falei de um clérigo satânico do Rio de Janeiro que rouba os pobres, fui processado duas vezes; esqueci de colocar os créditos de uma foto que ilustrou uma de minhas crônicas o fotógrafo queria R$ 100 mil pelos direitos; agora, se falo o nome do atleta é capaz dele querer que eu pague parte de sua dívida! Não escrevo nem com uma Taurus Ponto 40 apontada pra mim!
 
A vida é assim amigos; nem sempre o que reluz é ouro! Que o diga a pirita!
 
 
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
www.irregular.com.br
 

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Enviado por CHaMP Brasil em 20/07/2009
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