A cultura do "não"
Às vezes nos perguntamos por que certas coisas em nossas vidas não deram certo ou não saíram exatamente do jeito que gostaríamos. Mesmo nos doando ao máximo às atividades do dia-a-dia, nos frustramos com os resultados obtidos.
O que pretendo mostrar é algo muito presente em nosso cotidiano, mas que passa despercebido aos nossos ouvidos. Nós somos negativistas por natureza. É só prestarem atenção em uma palavrinha presente em boa parte de nossas conversas. O “não”. Ao mesmo tempo que alguém pode considerar isso uma bobagem, outra pessoa achará isso cômico. Os dois sentimentos se mesclam aqui na medida certa.
Alguns exemplos. Dificilmente você ouve alguém perguntar: “Você foi lá ontem?”, “Ele fez o que eu pedi?”, “Será que ela trará minha encomenda?” ou “Tem aquele arquivo contigo?”. O que se escuta são as mesmas frases acima, só que com um pequeno acréscimo: “Você NÃO foi lá ontem?”, “Ele NÃO fez o que eu pedi?”, “Será que ela NÃO trará minha encomenda?” ou “NÃO tem aquele arquivo contigo?”.
É tão automático o uso do “não” que a gente simplesmente não percebe que está falando. Nós já perguntamos as coisas de maneira negativa. Então esperar uma resposta também negativa é conseqüência.
Nos últimos tempos surgiu mais uma pequena palavra em meio às frases que utilizamos que também denota negatividade, pois determina exclusão. Aliado ao “não”, apareceu o “ou”, ou seja, surgiu a cultura do “ou não”. Vejam exemplos que já ouvi: “Faremos o relatório para ver se há necessidade de implantação do projeto, OU NÃO”, “Faz assim que dá certo, OU NÃO”, “Ele levou os papéis no banco pra ver se vai ser aceito OU NÃO”. Com o perdão da redundância, NÃO há necessidade de usar o “não” e o “ou não” nas frases, mas a gente insiste em usá-las.
Como disse no segundo parágrafo, o ser humano é negativo por natureza. Quem sabe se reduzirmos essas pequenas e tão deprimentes palavras de nosso vocabulário as coisas que almejamos possam vir ao nosso encontro de maneira tão especial? Sejamos positivos com aquilo que objetivamos. De nada adianta planejar, fazer, analisar e agir se nós mesmos já imaginamos que os resultados não serão satisfatórios.
Aqui estou buscando mostrar o lado sério disso tudo, mas tanto em casa quanto em meu trabalho já brinco com todo mundo com relação a isso. Se alguém me pergunta, por exemplo, “se eu NÃO fui no jogo ontem”, respondo com outra pergunta: “Você quer saber se eu fui OU NÃO fui?”. Provavelmente na tentativa de fazer essa pessoa evaporar da sua mente esse costume.
Vamos usar a brincadeira para acabar com esse vício de linguagem. Assim como ouvimos “subir pra cima”, “entrar pra dentro”, “elo de ligação”, “encarar de frente”, “goteira no teto”, “surpresa inesperada” e tantas outras bobagens, usaremos nosso bom humor para tornar nossas vidas ainda mais prazerosas. O “sim” é uma palavra tão bonita e sai tão levemente de nosso lábios. Mesmo sem utilizá-la, percebe-se a sua presença naquilo que falamos ou demonstramos. O diálogo torna-se muito mais produtivo se todos estiverem com idéias positivas.