Virginia Woolf / Clarice Lispector "Uma breve comparação"
Uma das maiores escritoras modernistas Adeline Virginia Stephen, nasceu em 25/01/1882 em Londres, Inglaterra. Viveu no período Inter Guerras e Crises Sócio-econômicas (1ª e 2ª Guerra Mundial, Revolução Russa, Guerra Civil Espanhola e Crise de 29). Nunca freqüentou escolas ou universidades o que lhe deixava triste.
Virginia sofria de distúrbios bipolares, isto influenciou muito no seu trabalho, nos seus relacionamentos, na sua vida.
Em 28/03/1941 Virginia tem outra crise semelhante as que já havia sofrido quando jovem, vestiu um casaco pesado e encheu os bolsos de pedras e entrou no rio próximo de sua casa suicidando-se.
Suas principais obras:
1915- The Voyage Out
1919- Noite e dia
1922- O quarto de Jacob
1925- Mrs. Dalloway
1927- Rumo ao Farol
1928- Orlando - Uma Biografia
1929- A Room of One´s Own
1931- As ondas
1933- Flush: Uma Biografia
1937- Os anos
1940 - Roger Fry: Uma Biografia
1941- Entre atos
A escritora modernista aborda temas técnicos como: fluxo de consciência, uma técnica literária introduzida por James Joyce, em que o monólogo interior de um ou mais personagens é transcrito. Nesta técnica, a narrativa apresenta-se como um fluxo de consciência que intercepta presente e passado, quebrando os limites espaços-temporais. No fluxo de consciência há uma quebra da narrativa linear, em que já não é tão claro distinguir entre as lembranças da personagem e a situação presentemente narrada. Isso acontece nas obras da autora “Mrs. Dalloway”, “Orlando” e a narrativa de “O quarto de Jacob”, de 1922, que é conduzida não pela ação, mas pelo monólogo interior e pelo fluxo do pensamento. A história de Jacob Flanders, personagem central, é contada de forma fragmentada, sem um enredo que oriente o leitor.
Em “Orlando” a crítica aclamou o livro pela abordagem vanguardista que a autora fez da biografia enquanto gênero literário. Sendo Orlando imortal e, num primeiro momento, um nobre a serviço da pátria, a sua vida calca os mesmos caminhos de importantes acontecimentos históricos, o que lhe confere uma capacidade desejada pela maioria dos mortais e que tanto talento e perspicácia exige ao biógrafo: ser, num único corpo, múltiplos indivíduos, viver inúmeras vidas e ver através de mais do que um par de olhos, relativizando (ou tornando obsoleta) a noção de tempo.
Muito se poderia dizer sobre esta biografia magistralmente ficcionada pela escrita elegante, inteligente e ritmada de Virginia Woolf, a cada leitura o texto se torna mais plural e as deambulações pelas quais a autora atinge epifanias sobre os temas que aborda parecem abrir novos caminhos.
Orlando contém alguns elementos comuns a toda a obra de Woolf e que fizeram dela uma das mais importantes escritoras do Modernismo literário de início de século: a exploração do íntimo da personagem (impossível imaginar Orlando sem uma boa dose de liberdade subjectiva) e dos limites da consciência.
A influencia de Woolf na escrita de Clarice Lispector
Podemos afirmar que há sim muito em comum entre Clarice e Virginia em suas obras, porque abordam temas que dão mais ênfase às questões ditas existenciais e de natureza filosófica e metafísica que ela aborda e instiga a pensar. Outra semelhança em suas obras é o uso da técnica de fluxo de consciência em suas personagens como, por exemplo, na obra de Clarice quando Macabea a protagonista de “A hora da estrela” está sozinha em seu quarto humilde a qual divide com algumas colegas, a protagonista ao propiciar este momento a ela, o fato de estar só no quarto, Macabea goza do momento e da condição de fazer o que quer, feliz, apreciando o que para muitos é um ato insignificante.
Não podemos deixar de mencionar o fato quando Clarice, na pele do escritor Rodrigo S.M em “Ä hora da estrela”, escrevendo a biografia da personagem Macabea, escreve a obra na pele de um escritor fictício em que ele relata a biografia da protagonista e ao mesmo tempo questiona a cerca de seus conflitos, comparamos com a mesma ação de Woolf em sua obra “Mrs Dalloway”.
Podemos comprovar também que muito do que escreveram Clarice e Virginia se apropriaram de experiências pessoais de situações reais de fatos vividos por elas e que influenciou muito em suas obras descritas, sobre Woolf o fato de expor a questão de mulheres sexualmente se relacionarem e a de Clarice por escolher escrever sobre uma nordestina, porque viveu algum tempo no Nordeste regressando ao Rio de Janeiro e em uma ocasião foi consultar uma Cigana e com isso faz uso em sua obra transcrevendo a situação vivida por sua protagonista Macabea.
Não podemos deixar de mencionar a respeito da construção da obras de Wollf e Lispector que não segue uma seqüência linear no tempo e espaço em suas obras.
Mesmo com todas essas comparações, com base nos resultados das pesquisas realizadas em visita ao Museu da língua Portuguesa, em que na ocasião da pesquisa, ocorria uma exposição sobre as obras e pertences pessoais de Clarice e exibição de um depoimento da escritora gravado em vídeo, constatamos que Clarice Linspector foi uma leitora assídua, muitas das obras em que na sua vida escreveu, fez uso dessas leituras e do processo de transculturação.
Concluimos que em relação de Clarice ter sofrido influencias de Woolf e Proust não ocorreu, porque ao ser questionada sobre essas influencias em entrevista concedida (exibida no múseu), a escritora declarou que nunca havia lido nada de Virginia Woolf ou Proust.
No entanto, no livro Correspondências de Clarice Lispector, organizado por Teresa Montero, encontramos uma carta de Clarice para sua irmã Tânia Kaufmann, na qual a autora relata que escreveu ao crítico Álvaro Lins “dizendo que não conhecia nem Joyce nem Virgínia Woolf nem Proust” quando da concepção do livro Perto do Coração Selvagem (MONTERO, 2002: 38).
A explicação que encontramos e por nós é aceita: o fato é que houve grande influencia do contexto histórico vivido na época pela escritora, a sua grande necessidade de expor seus sentimentos, anseios, fez com que escrevesse sobre questões a qual o individuo sofria com repressões psíquicas e morais frente a questões complexas na sociedade e, particularmente, vividas por ela. (“Escrevo porque preciso. Escrevo não para ganhar dinheiro. Não acho que sou uma escritora profissional como dizem. Escrevo o que sinto e o que penso”. Entrevista exibida no Museu da Língua Portuguesa)
“Os sonhos são uma pintura muda, em que a imaginação a portas fechadas, e às escuras, retrata a vida e a alma de cada um, com as cores das suas ações, dos seus propósitos e dos seus desejos."
Padre Vieira, no Sermão de São Francisco Xavier Dormindo
Referencias Bibliográfica
• ‘Mrs Dalloway’ Virginia Woolf
• Orlando Virginia Woolf
• As Horas
• A hora da estrela Clarice Lispector
• http://www.cronopios.com.br/site/ensaios.asp?id=262
• http://br.geocities.com/claricegurgelvalente/artigos_34.htm
• http://www.cobra.pages.nom.br/ecp-psicanalise.html