Ouça a canção e sinta-se envolvido pela nostalgia, tempos de mãos dadas e passeios pelas praças. Ainda haviam jardins bem preservados e crianças jogando amarelinha. Hoje pouquíssimos jardins atraem os pequenos que preferem brincar nos parquinhos dos shoppings.
Lembranças de uma época em que a mulher sonhava com o casamento e família como prioridade única. Aos pouquinhos as mais modernas lutaram por idéias avançadas onde a carreira ocupava lugar de destaque. Muitas conseguiram sobreviver entre trabalho e vida doméstica, outras foram forçadas a abdicar de sonhos e ideais.

Hoje em dia esta geração está com os filhos criados, começam a viver a fase da balança e pratos limpos.
Muitas exigências atualmente soam risíveis: possuir uma casa de praia ou campo,completar bodas de prata, não seguir os passos da mãe e ser diferente, viajar o mundo inteiro e ser feliz para sempre. Sonhos de qualquer moça nos anos 50.

Ter independência emocional e financeira  para algumas ou preservar o casamento perfeito para outras. Possuíam  grandes projetos e conforme os anos passaram, foram abdicando de alguns ou seriam  eternas infelizes. O mais engraçado de tudo isto é que no final das contas, quando estão  juntas,  não percebem  muitas  diferenças além do desejo de estar  bem e em paz. Isto aconteceu em um encontro de turma de escola  após 20 e tantos anos... A maioria chegou sozinha ou com alguma desculpa. Como se fosse importante justificar a ausência do parceiro.
Ainda eram  as mesmas meninas de uniforme, quebrando regras e fumando escondidas no banheiro do colégio. A idéia era reunir todas mas muitas não puderam ser encontradas, moravam longe demais ou tinham compromissos inadiáveis.

Mais de vinte mulheres na faixa dos quarenta e tantos... cinqüenta e tais ..chegando aos sessenta.
Todas capricharam na produção e o tempo foi implacável com umas e benevolente com poucas. Curiosas com as mudanças e falando sem parar, abraçavam-se em uma confusão completa até que a euforia inicial abrandou e tornaram-se  mais sociáveis.

Aos poucos o assunto relacionamentos aconteceu, em meio a muitas risadas  porque ele sempre foi o mais debatido. Mulheres adoram discutir, trocar confidencias,  experiências e aconselhar. 
Quantas estão casadas, solteiras , viúvas ou separadas? Cada qual puxando a sardinha para seu braseiro, começaram  a tecer mil histórias. Fragmentos de uma vida inteira resumidos em poucos minutos. A velha intimidade resgatada com  força total.


Quem está sozinha tem hábitos e manias que acham complicado mudar. Claro que saem e eventualmente engajam namoros. Em um ponto concordam: Cada um na sua casa é meio caminho andado. Finais de semana prolongados e viagens são maravilhosos, modificar a rotina de solteiros é dificílimo.
O ideal para quem já passou dos quarenta e mora só é tem seu espaço preservado. Segundo a maioria que defende a liberdade de ir e vir sem explicações.
Puxa daqui e prova dali, são pessoas que sabem muito bem o que querem. E acham perfeito não precisar  ficar exigindo ou cobrando.
Melhor ainda... São monogâmicos em sua maioria. Algumas não entendem  muito bem a questão distancia com traição. Apressam-se a explicar  que a graça está justamente em saborear a saudade. Apontam  o dia a dia como vilão e o convívio diário um completo transtorno. Há controvérsias e discussões acaloradas. 

Não acham justo  acordar de mau  humor e precisar fingir para ser agradável. Em contrapartida também não exigem 24 horas de companhia. É a tal relação adulta, sem crises de ciúmes a ataques bobos de carência. Segundo as defensoras de tal situação, sair sozinha não é bicho de sete cabeças.
Se o companheiro  quiser manter seus programas exclusivamente masculinos, simplesmente não se importam. Afinal abrir mão de velhos hábitos após uma certa idade... é quase impossível. Namorados e  isto basta no estágio em que estar um com o outro é prazer e parceria.  Ambos no período mais  estável ,  vida tranqüila e sem preocupações financeiras. Resumindo: Sentem-se bem e são felizes vivendo da forma em que a maioria acha triste e solitária.
Cá entre nós,  onde está a solidão para quem vive indo a teatros, cinemas, passeios e viagens? Impossível avaliar quem afirma em alto e bom tom que é feliz assim. Enquanto  isso, algumas casadas prestes a festejar as bodas, falam dos anos de convívio em comum e da perda da individualidade com pesar.
Filhos desatenciosos e grandes sacrifícios não reconhecidos. A dedicação a família e a casa vazia. Opções carinhosas sem respaldo e ainda assim, feitas sem arrependimento. 



Mas ainda existem casamentos maravilhosos segundo duas colegas. Duas! Uma ponta de inveja surge  entre as colegas, a forma carinhosa que elas usam para descrever maridos, companheiros e grandes aliados.
São mulheres realizadas, ambas possuem vida própria. Uma é médica e outra voluntária em um projeto famoso. São ocupadas com suas responsabilidades. Conseguiram conciliar a vida a dois sem  perder a individualidade. Talvez seja o segredo do sucesso de relações duradouras. Não colocar nas mãos do parceiro a felicidade. Houve relatos das  que vivem  em quartos separados e não sabem o que é sexo há tempos. Não fazem questão de resgatar a relação, esqueceram  da última vez que saíram juntos sem ser por obrigações sociais. Comodamente não se separam ,  dividir bens é um problema e alguém sairá perdendo. Mulheres que  reclamam do mercado de trabalho e culpam o sistema, o governo, a sociedade, a discriminação e todo o resto do mundo. Defendem como aceitável  viver de mesada... Afinal sentem-se parte do sucesso financeiro do casal e nem sentem que ainda estão repetindo o padrão materno de tantas... Preferem manter as aparências e uma vida solitária. Pausa para troca de olhares e silencio.

Outras mulheres que acordam as seis da manhã, falam da falta de tempo  e sonham com a aposentadoria. Mães solteiras, mães de pais presentes, doentes  ou ausentes... Batalham do jeito que podem os dias melhores e simplesmente sobrevivem as tempestades. Ainda fazem graça enquanto trocam idéias sobre a marca de batom e melhores liquidações. Mulheres comuns que estão em todos os lugares. A casa de chá serve bolos e todas elogiam o serviço e  preocupam-se com as calorias. A próxima reunião será em um lugar onde sirvam saladinhas ou na casa da ex-gordinha atualmente dona de uma firma de light e diet.




Beijos e abraços emocionados. Mil fotos e promessas de nunca mais perderem contato.
Trocas de cartões de visitas e as antigas afinidades reaproximando gente especial que julgavam perdidas.  Alma leve e a constatação de que solteiras ou casadas, aparentando menos ou mais, mais ou menos bem sucedidas...  que importa!? Em um ponto chegaram  a um consenso: Não é impossível ser feliz sozinha!
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 13/07/2009
Reeditado em 04/06/2018
Código do texto: T1697196
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