ONDE ESTÁ PRESA A SENSIBILIDADE?
Reinam os brutos e as tochas. Saltitantes e voluptuosos os seres que transitam nas ruas, com labaredas de fogo, peitos imponentes, olhares amedrontadores. Poucos de nós nos damos conta de que essas pessoas, que muitas vezes são vistas como fortes, como rochas, estão tentando de alguma maneira, através de um mecanismo de defesa biológico, se proteger da dor, e continuar sobrevivendo. Sim, isso é importante: o homem de hoje em sua grande maioria, está se satisfazendo em apenas sobreviver.
Não há mais tempo. Não há tempo para rir, não há tempo para brincar. Não há tempo mais para a poesia, para o encanto, para a primavera da alma. Simplesmente não há mais tempo. Deslizamos por um mundo que exibe suas regras rígidas: “você pode ter medo, mas tenha cuidado com o amor!!”. Ou você pode chutar uma pessoa na rua, esbofeteá-la...mas não poderá ama-la ali, caso contrário imediatamente será preso. Você não será preso se matar, mas somente se amar, é mais ou menos isso. Falamos de amor, mas nossas ações.... Falar é da mente, da cabeça. Ação é seu verdadeiro ato. No agir você mostra o seu ser, não no pensar. No pensar você pode enganar. E quando digo agir, falo de uma união harmoniosa corpo, coração e mente. A cabeça pensa , o coração sente e a vontade atua.
A verdade é que estamos perdendo sensibilidade. Paramos de sentir. Para nos protegermos do sofrimento, nos anestesiamos. Sabe como o corpo se anestesia? Através de química, de drogas. Sabe como a mente e o coração se anestesiam ? Através de crenças e condicionamentos familiares e sociais. Como podemos nos sensibilizar novamente ? Trazendo a poesia, a música, a beleza, a arte, o silêncio, a celebração, a contemplação do sol e da chuva, a caminhada esticada, a lua de madrugada...
Creio que a terapia e a meditação são a parte de remover as bobagens que estão na gente como lixo emocional, tensões musculares crônicas... E a segunda parte caberia então à criatividade, a dimensão criativa de nosso ser. É nessa dimensão criativa que a vida acontece... A dimensão espirital do viver é só uma harmonia perfeita entre a parte criativa e a parte material do nosso ser. Ser criativo é estar cheio de energia. A criatividade é uma energia transbordante. Você tem demais, então tem de derramá-la, e ela afeta outros seres. Se você é criativo, todos ganham com isso, mas não que você esteja pensando em dar, você simplesmente afeta o mundo de alguma maneira criativa. Talvez seja esse descompromisso que gere um impulso criativo que traz alegria e prazer.
Há o mito da rosa e da rocha. Quem você prefere ser ? A rocha é dura, resiste às tempestades, parece muito forte, mas está morta. A rosa é frágil, nasce em meio a espinhos, pode ser destruída pela tempestades, mas ela está viva, e exala seu perfume tanto ao bons como os maus. A rosa está feliz assim. A rosa está viva, e sente dor e prazer... A rocha está morta, embora seja mais forte.
O segredo é que a rosa tem sensibilidade e isto é o segredo da vida. Se você quer viver, aprenda a morrer para o passado. Se você quer amar, aprenda a ver como tem ódio dentro de si. Temos de aceitar a vida como ela é. O rocha foge da dor, mas foge do amor também. Sempre que você fugir e tentar se explicar com justificativas, você se tornou uma rocha. Aprenda a se levar menos a sério. Brinque mais com você mesmo. No fundo, todos queremos ser rosas, felizes e sensíveis uns com os outros. É que aprendemos um jeito não-natural de viver, em que a máquina está sendo mais valorizada que o homem. Ou seja, o homem foi escravizado por ele mesmo. Não foram as máquinas que escravizaram o homem. As máquinas são um reflexo de como ele escravizou a si mesmo. As máquinas são uma exteriorização de uma mente robótica. Só a sensibilidade poderá dar rumos a um novo modelo social em que o prazer, a alegria e o ato criativo possam estar acima da obrigação e da repetição.