Richard Dawkins, um delírio
Não sei a qual dos significados da palavra delírio, Richard se referiu quando a usou como título de seu livro: Deus, um delírio. Digo não sei, pois não tive a oportunidade de perguntar a ele. Por obviedade poderia dizer que ele usou pelo significado 1 do Aurélio: distúrbio mental caracterizado por ideias que contradizem a evidência e são inacessíveis à crítica. Porém, não deve ser este o sentido que o levou a usar, pois, Deus é suscetível a críticas, tanto que, Richard se ocupa bastante disso.
Eu classifico neste artigo Richard Dawkins, um delírio, pelo significado 2 desta palavra: exaltação do espírito. Em minha opinião, este cientista e escritor é todo um divino espírito.
Deus, um delírio foi uma das mesas literárias mais esperadas na Flip, e quem esteve lá não se decepcionou, Richard Dawkins é brilhante.
Por anos em Oxford foi titular da cátedra Compreensão Pública da Ciência, isto, além de outras características e experiências, possibilita que ele transmita conhecimentos científicos por vezes extremamente complexos a leigos, numa linguagem fácil e acessível. Embora, lamentei minha falta de fluência no inglês que me impediu de abrir mão da tradução simultânea, era nítido que faltavam palavras que conseguissem exprimir com precisão seus sentimentos, por diversas vezes.
Eu comprei o livro dele A grande história da evolução, ainda não pude começar a ler, pois não terminei O médico doente de Dráuzio Varella e A cidade Ilhada de Milton Hatoum. Mas de antemão intuo que vou amar e aprender muito, pois nos poucos minutos do seu debate, perguntas não paravam de pular da minha cabeça e para cada uma delas ele dava as evidências. Respostas? Meu próprio coração achou.
Richard dividiu com o público a sua agonia em sendo professor de ciências, ver seu trabalho de divulgação de A origem das espécies de Darwin e as aulas que explicam a evolução sabotados. Nos livros didáticos, segundo ele, a palavra evolução muitas vezes vem entre parênteses, em outras épocas a disseminação dos conhecimentos científicos era ridicularizada apenas em meios educacionais americanos, mas hoje na Europa já ocorre, não só pela influência americana, mas também pela crescente presença islâmica. Assim, o princípio central e norteador da biologia é subjugado, dizem que em nome e em respeito à fé, eu digo que não, se desrespeitam conhecimentos e evidências e as pessoas que os produzem é em nome do medo e do orgulho. Medo do desconhecido. Orgulho por presumirem-se detentores de verdades absolutas, o que nesse mundo, ninguém tem, detém ou conhece, isso só Deus. E Deus o que diria sobre a teoria da evolução? Talvez ele ache que evoluímos, crescemos e pudemos achar algo mais plausível que as teorias da criação do mundo que figuram na Bíblia e nos livros sagrados das demais religiões. O que em nenhum momento os desmerecem, pois embora eu só conheça melhor a Bíblia e minimamente a Torá, são livros que guardam todos os ensinamentos para que as sociedades vivam com justiça, respeito e prosperidade.
Acreditem, Richard Dawkins também concordou comigo nisso. Reconheceu o valor da Bíblia como referência para uma vida, uma conduta, digna. Deu um tiro certo ao afirmar que os conceitos da Seleção natural não devem ser aplicados à sociedade e suas leis sociais, pois foi deturpando tais conceitos que os USA acreditaram-se superiores, capazes de dominar o mundo, através da propagação de suas ideias e violência, sem respeito aos demais.
Um dos pontos altos do debate foi quando ele falou como responde quando alguém lhe diz: o temor a Deus faz com que o homem mantenha uma conduta moral e não cometa erros, pecados. Sua anedota neste momento foi bárbara:
— Vocês acham que quando Moisés desceu com a tábua dos dez mandamentos e disse: Não Matarás! As pessoas ouviram e disseram: Nossa, que boa ideia, a partir de hoje não mato mais. É claro que não! Nem todas as pessoas nascem com um instinto assassino ou com a capacidade de tirar a vida de alguém, por consciência os indivíduos sabem que não devem tirar a vida do próximo.
Falando em consciência... Ao ser perguntado sobre o que é a consciência, ele humildemente disse não saber, que se soubesse ganharia o prêmio Nobel. Porém, acredita que é algo que inexplicavelmente está dentro dele, de mim e de você... No momento desta resposta, ele refletia um dos semblantes mais humildes que já vi, talvez envergonhado por não ter a resposta. Neste instante, me ocorreu correr, (feia esta combinação de palavras), subir ao palco e no microfone dizer: poderíamos... haveria algum problema se chamássemos de Deus está coisa que tem consciência e habita cada um de nós? Foi só um delírio meu, a logística não permitiu isso.
Não concordei com sua fala sobre a educação dos filhos. Disse que deveríamos deixar os filhos sem qualquer ensinamento religioso, agnóstico ou ateu, para que no decorrer da vida a criança criasse o seu próprio julgamento. Eu não concordo. Quando colocamos um filho no mundo damos a ele nossa base genética, com louvores e desgraças, genes bons e ruins, aptidões e fraquezas, biologicamente é impossível sermos pais e não transmitirmos nossa herança genética, pois bem, isto é natural. Natural então também deva ser que transmitamos nossas crenças e cultura. É também nossa herança para os filhos, isto cria a nossa responsabilidade perante as verdades que defendemos. O que farão com aquilo que passamos e ensinamos, já não nos pertence, a partir do momento que demos tudo, que eles, os filhos, usem o livre-arbítrio e escolham suas próprias verdades. Assim como Deus fez ao homem ao criá-lo, lhe deu o livre-arbítrio, e se a criação foi através de Adão e Eva, em 7 dias ou 4 bilhões de anos, pesa muito pouco essa questão, perante a essência da criação.
Vi certa semelhança entre um retrato colorido de Nicolau Copérnico e Richard Dawkins, algo no olhar e no nariz. Talvez vejam coisas que seus contemporâneos não conseguem, sintam quando algo não cheira bem, ao ver pesquisas e trabalhos científicos vencidos pelo mau uso do poder daqueles que se acreditam estar na terra em nome de Deus. Em nome e pelas mãos de Deus todos estão, até o tempo derradeiro, que nunca sabemos quando será. Um dia chega a morte...
Richard confessou seu medo da morte e considerar injusto que não possa ter um fim tal qual ao de um cachorro, pela eutanásia. Um pouco de fé em Deus o ajudaria lidar melhor com esse fato irremediável que nos iguala, ricos, pobres, cristãos, judeus, islâmicos, budistas, enfim, toda a gente.
Uma das chamadas para este debate era uma frase que suponho seja de Dawkins: “A terra estaria em paz se Deus não existisse.” Para nós, brasileiros, frase estranha à nossa realidade, visto que não temos guerras santas aqui, com humildade reconheço, que para habitantes pensadores do oriente médio isto faça algum sentido.
A falta de paz na terra não é por conta da existência de Deus, mas sim, pelos homens usarem o santo nome de Deus em vão, pelas paixões e vaidades que tomam por sua conta, quando se esquecem de amar ao próximo como a si mesmo.
Nas visões de Daniel sobre o fim dos tempos, texto bíblico, os que buscam justiça sobreviverão e são filhos de Deus. Nas palavras de Jesus Cristo bem-aventurados os humildes e nem todos que dizem: Senhor, senhor, entrarão no reino dos céus. Partindo desses versos, passando por tantos outros que comungo, respondo para Dawkins o que ele disse que perguntaria a Deus, caso este existisse e Dawkins chegasse a Ele:
— Afinal, que Deus é você? Buda, Krisna, Deus de Davi, Jesus?
Deus responderia: Eu sou o senhor teu Deus, conforme a sua fé.
Não sei a qual dos significados da palavra delírio, Richard se referiu quando a usou como título de seu livro: Deus, um delírio. Digo não sei, pois não tive a oportunidade de perguntar a ele. Por obviedade poderia dizer que ele usou pelo significado 1 do Aurélio: distúrbio mental caracterizado por ideias que contradizem a evidência e são inacessíveis à crítica. Porém, não deve ser este o sentido que o levou a usar, pois, Deus é suscetível a críticas, tanto que, Richard se ocupa bastante disso.
Eu classifico neste artigo Richard Dawkins, um delírio, pelo significado 2 desta palavra: exaltação do espírito. Em minha opinião, este cientista e escritor é todo um divino espírito.
Deus, um delírio foi uma das mesas literárias mais esperadas na Flip, e quem esteve lá não se decepcionou, Richard Dawkins é brilhante.
Por anos em Oxford foi titular da cátedra Compreensão Pública da Ciência, isto, além de outras características e experiências, possibilita que ele transmita conhecimentos científicos por vezes extremamente complexos a leigos, numa linguagem fácil e acessível. Embora, lamentei minha falta de fluência no inglês que me impediu de abrir mão da tradução simultânea, era nítido que faltavam palavras que conseguissem exprimir com precisão seus sentimentos, por diversas vezes.
Eu comprei o livro dele A grande história da evolução, ainda não pude começar a ler, pois não terminei O médico doente de Dráuzio Varella e A cidade Ilhada de Milton Hatoum. Mas de antemão intuo que vou amar e aprender muito, pois nos poucos minutos do seu debate, perguntas não paravam de pular da minha cabeça e para cada uma delas ele dava as evidências. Respostas? Meu próprio coração achou.
Richard dividiu com o público a sua agonia em sendo professor de ciências, ver seu trabalho de divulgação de A origem das espécies de Darwin e as aulas que explicam a evolução sabotados. Nos livros didáticos, segundo ele, a palavra evolução muitas vezes vem entre parênteses, em outras épocas a disseminação dos conhecimentos científicos era ridicularizada apenas em meios educacionais americanos, mas hoje na Europa já ocorre, não só pela influência americana, mas também pela crescente presença islâmica. Assim, o princípio central e norteador da biologia é subjugado, dizem que em nome e em respeito à fé, eu digo que não, se desrespeitam conhecimentos e evidências e as pessoas que os produzem é em nome do medo e do orgulho. Medo do desconhecido. Orgulho por presumirem-se detentores de verdades absolutas, o que nesse mundo, ninguém tem, detém ou conhece, isso só Deus. E Deus o que diria sobre a teoria da evolução? Talvez ele ache que evoluímos, crescemos e pudemos achar algo mais plausível que as teorias da criação do mundo que figuram na Bíblia e nos livros sagrados das demais religiões. O que em nenhum momento os desmerecem, pois embora eu só conheça melhor a Bíblia e minimamente a Torá, são livros que guardam todos os ensinamentos para que as sociedades vivam com justiça, respeito e prosperidade.
Acreditem, Richard Dawkins também concordou comigo nisso. Reconheceu o valor da Bíblia como referência para uma vida, uma conduta, digna. Deu um tiro certo ao afirmar que os conceitos da Seleção natural não devem ser aplicados à sociedade e suas leis sociais, pois foi deturpando tais conceitos que os USA acreditaram-se superiores, capazes de dominar o mundo, através da propagação de suas ideias e violência, sem respeito aos demais.
Um dos pontos altos do debate foi quando ele falou como responde quando alguém lhe diz: o temor a Deus faz com que o homem mantenha uma conduta moral e não cometa erros, pecados. Sua anedota neste momento foi bárbara:
— Vocês acham que quando Moisés desceu com a tábua dos dez mandamentos e disse: Não Matarás! As pessoas ouviram e disseram: Nossa, que boa ideia, a partir de hoje não mato mais. É claro que não! Nem todas as pessoas nascem com um instinto assassino ou com a capacidade de tirar a vida de alguém, por consciência os indivíduos sabem que não devem tirar a vida do próximo.
Falando em consciência... Ao ser perguntado sobre o que é a consciência, ele humildemente disse não saber, que se soubesse ganharia o prêmio Nobel. Porém, acredita que é algo que inexplicavelmente está dentro dele, de mim e de você... No momento desta resposta, ele refletia um dos semblantes mais humildes que já vi, talvez envergonhado por não ter a resposta. Neste instante, me ocorreu correr, (feia esta combinação de palavras), subir ao palco e no microfone dizer: poderíamos... haveria algum problema se chamássemos de Deus está coisa que tem consciência e habita cada um de nós? Foi só um delírio meu, a logística não permitiu isso.
Não concordei com sua fala sobre a educação dos filhos. Disse que deveríamos deixar os filhos sem qualquer ensinamento religioso, agnóstico ou ateu, para que no decorrer da vida a criança criasse o seu próprio julgamento. Eu não concordo. Quando colocamos um filho no mundo damos a ele nossa base genética, com louvores e desgraças, genes bons e ruins, aptidões e fraquezas, biologicamente é impossível sermos pais e não transmitirmos nossa herança genética, pois bem, isto é natural. Natural então também deva ser que transmitamos nossas crenças e cultura. É também nossa herança para os filhos, isto cria a nossa responsabilidade perante as verdades que defendemos. O que farão com aquilo que passamos e ensinamos, já não nos pertence, a partir do momento que demos tudo, que eles, os filhos, usem o livre-arbítrio e escolham suas próprias verdades. Assim como Deus fez ao homem ao criá-lo, lhe deu o livre-arbítrio, e se a criação foi através de Adão e Eva, em 7 dias ou 4 bilhões de anos, pesa muito pouco essa questão, perante a essência da criação.
Vi certa semelhança entre um retrato colorido de Nicolau Copérnico e Richard Dawkins, algo no olhar e no nariz. Talvez vejam coisas que seus contemporâneos não conseguem, sintam quando algo não cheira bem, ao ver pesquisas e trabalhos científicos vencidos pelo mau uso do poder daqueles que se acreditam estar na terra em nome de Deus. Em nome e pelas mãos de Deus todos estão, até o tempo derradeiro, que nunca sabemos quando será. Um dia chega a morte...
Richard confessou seu medo da morte e considerar injusto que não possa ter um fim tal qual ao de um cachorro, pela eutanásia. Um pouco de fé em Deus o ajudaria lidar melhor com esse fato irremediável que nos iguala, ricos, pobres, cristãos, judeus, islâmicos, budistas, enfim, toda a gente.
Uma das chamadas para este debate era uma frase que suponho seja de Dawkins: “A terra estaria em paz se Deus não existisse.” Para nós, brasileiros, frase estranha à nossa realidade, visto que não temos guerras santas aqui, com humildade reconheço, que para habitantes pensadores do oriente médio isto faça algum sentido.
A falta de paz na terra não é por conta da existência de Deus, mas sim, pelos homens usarem o santo nome de Deus em vão, pelas paixões e vaidades que tomam por sua conta, quando se esquecem de amar ao próximo como a si mesmo.
Nas visões de Daniel sobre o fim dos tempos, texto bíblico, os que buscam justiça sobreviverão e são filhos de Deus. Nas palavras de Jesus Cristo bem-aventurados os humildes e nem todos que dizem: Senhor, senhor, entrarão no reino dos céus. Partindo desses versos, passando por tantos outros que comungo, respondo para Dawkins o que ele disse que perguntaria a Deus, caso este existisse e Dawkins chegasse a Ele:
— Afinal, que Deus é você? Buda, Krisna, Deus de Davi, Jesus?
Deus responderia: Eu sou o senhor teu Deus, conforme a sua fé.