SOLDADOS DA PAZ

Nos tempos atuais ninguém desconhece os boinas azuis da ONU, os soldados da paz, que são enviados às áreas de conflito nas mais diversas regiões do mundo. O Dia Internacional, dedicado a estes soldados da paz, é 29 de maio.

Parece até um paradoxo relacionar o homem armado, com todo tipo de armas mortíferas, com a convivência pacífica entre os povos. Exército, soldado, polícia nos sugerem sempre armas, violência, guerras. E as guerras são a expressão do que há de mais terrível na humanidade. Pois, em todas as guerras morrem inocentes, estraçalham-se corpos, estupra-se, tortura-se, invadem-se residências, a corrupção se generaliza, incentiva-se a espionagem e a traição, espalha-se a mentira. Nas guerras, praticamente, tudo o que é considerado crime em tempos normais está autorizado. Embora a arte e a literatura, muitas vezes, glorifiquem as guerras, e exaltem os generais que as conduziram, sob o aspecto humanitário toda a guerra é uma barbárie. E nesta barbaridade, a história, geralmente, considera heróis os soldados que mais inimigos mataram. Para chegar aos mais altos degraus da carreira militar, era necessário ter sido assassino e cruel em alguma guerra.

Povos antigos, inclusive a Roma pagã, fizeram da guerra um sistema político. Eram Estados guerreiros, que, embora se qualificassem como civilizados, os seus soldados praticavam as maiores arbitrariedades e crueldades. Na medida em que os povos se civilizaram, era de se esperar que os conflitos se superassem por negociações, e pelos princípios do Evangelho de Jesus Cristo. Mas, até hoje, continuam predominando na política os princípios pagãos, que se orientam pelo esquema amigo-inimigo. E o inimigo deve ser humilhado ou eliminado. Fomenta-se, por isto, a desconfiança, o ódio entre etnias e povos. E isto ainda leva, constantemente, à barbárie das guerras. E os soldados, nestas guerras, são cúmplices de seus mandatários, e das crueldades que ocorrem em todos estes conflitos.

Evidentemente, neste sentido pagão de uma política guerreira, em que ser soldado significa ter uma profissão em que constantemente se é treinado para matar gente, não é nada digno a um ser humano assumir uma profissão destas. Se soldado apenas fosse isto, em nada se distinguiria do carrasco. A diferença apenas seria porque o carrasco executa indivíduos, enquanto o soldado participa da execução de grupos e povos. Mas, soldado e guerreiro não são sinônimos. O soldado, em sua mais nobre função, é um guardião da paz, pois a sociedade o sustenta para manter a ordem, a justiça e a honestidade. O soldado, em fazer da guerra uma profissão é uma imoralidade espantosa. Nenhum militar sensato ousaria afirmar que sua profissão consiste em matar gente. Assim, a guerra é a parte escabrosa da vida de um militar, pois a maior aspiração do soldado deveria ser o fato de, em toda a sua vida, nunca ter tido necessidade de apontar sua arma para um ser humano, com a intenção de matá-lo. Da mesma forma, ser grande na indústria bélica, especializada em desenvolver armas, cada vez mais mortíferas, deveria causar repulsa ao homem moderno civilizado e cristianizado. Assim, a maior glória dos soldados da paz, no futuro, só poderá ser o fato de nunca terem acionado o gatilho de suas armas para matar a alguém. Isto já foi dito maravilhosamente por Hugo Grócio (1583-1645), em sua obra "Sobre o Direito à Guerra e à Paz", dedicada a Luiz XIII, Rei da França, quando leva este soberano a fazer a seguinte consideração: "Quão belo, quão glorioso, quão doce à nossa consciência será poder dizer com confiança, quando um dia Deus nos chamar a seu reino, que esta espada, que recebi de Vossas mãos para defender a justiça, eu a devolvo imaculada, pura e inocente de todo sangue temerariamente derramado". Isto nos ensina que já nos primórdios do Direito Internacional a maior glória para um soberano seria nunca fazer derramar sangue em guerras. Isto há 400 anos atrás. Por isto, imagino que no mundo civilizado do século XXI, os soldados desejados para todo o futuro, deveriam ser os soldados da paz, contribuindo na educação dos povos para a tolerância entre os homens, da boa vontade que sabe perdoar, da solidariedade entre os povos. Os homens verdadeiramente civilizados não buscam guerras, nem treinam os seus soldados para matar, mas para defender a vida, e vidas com dignidade.

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