O PAPEL DA CIÊNCIA NO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO ATUAL

1.Introdução

O conceito de ciência pode ser encontrado em diversas obras sendo definido de várias formas. Mas segundo Lakatos e Marconi (1982), a ciência pode ser definida como um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza. Nesta ordem de pensamento facilmente podemos deparar com a ciência em tudo que é natural e inanimado, portanto na ciência não existe limites do saber ou do conhecimento empírico. Mesmo no passado, os humanos recorreram a ela para obter conhecimentos que alguns deles são úteis até para orientação nos tempos atuais mesmo que esteja globalizado, aliás, a ciência antes da globalização do sistema mundial ela já surgiu globalizada.

2. Desenvolvimento conceitual

Kourganoff (1961) afirmou que a ciência arruma, classifica, metodiza, simplifica tudo exceto a si própria. Esta afirmação mostra claramente o quanto a ciência é autônoma nos caminhos a trilhar na busca de descobertas, interpretações e até condução do pensamento humano. Isto é o que se passa mesmo até hoje em dia, enquanto o mundo vai abandonando o que considera ultrapassado e até esquece ou apaga as práticas consideradas inúteis na sua memória histórica, a ciência trata de conservar tudo aquilo segundo a qual foi motivo ou objeto de estudo, portanto nuca queima os arquivos. È com esta motivação que o Kourganoff (1961) observou que em muitos campos a pesquisa científica conserva um caráter artesanal, que dificulta uma divisão mais desenvolvida do trabalho.

Mas o fato de a ciência ser conservacionista, ela é bastante flexível no desdobramento em mecanismos que a torna mais confortável, por isso ela é metódica. Com a sua metodologia, faz com que os trilhos seguidos sejam racionais. Se até na época de Kouganoff (1961) não vislumbrava separação em diferentes campos de conhecimento científico, já não se pode dizer o mesmo nos nossos dias. Ela se abre e se desdobra em função da demanda contemporânea do mudo atual. Se no passado era o generalismo do pensamento científico, hoje a especialização tomou conta do pensamento e pesquisa científica.

A valorização do conhecimento técnico-científico faz com que as respostas dos cientistas a essas demandas sejam diversificadas no seu meio acadêmico atual. No passado o cientista do século XIX era em geral um professor que dedicava à pesquisa os confortáveis lazeres que lhe deixava o pequeno número de estudantes e a lentidão geral do ritmo da vida, “descobertas” eram pago em princípio, tão somente pelo ensino que ministrava (KOURGANOFF, 1961). A maximização do capital que caracteriza os nossos tempos fez com que ao mesmo tempo em que se avance na especialização, se busque afirmação econômica competitiva entre as diferentes áreas do conhecimento.

De fato competindo é lógico que as áreas que mais despertarão valor e importância serão aquelas que mais dinheiro produz ou proporciona aos seus profissionais. O interesse científico se vê confrontado nos nossos dias com o interesse político principalmente na construção de hegemonias comparativas entre os países do mundo, que não raramente afrouxa se não receber apoio financeiro de que é necessário para execução das suas pesquisas e descobertas. O avanço proeminente das áreas de interesse político e econômico não faz com que a ciência se limite a esses campos, ela continuamente se tem desdobrado a medida das suas necessidades o que mais uma vez afirma o caráter autônomo do pensamento e de produção de conhecimento.

A globalização atual consiste em mundialização de todos aspectos socioeconômicos dos povos mundiais, isto significa eliminação de fronteiras nacionais e promover a homogeneização e uniformização global. Por isso que Santos (2002) afirma que o processo de globalização mostra que estamos perante um fenômeno multifacetado com dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais, religiosas e jurídicas interligadas de modo complexo. Na verdade, o sistema mundial segue atrasado o passo da ciência.

A produção do conhecimento desde nunca observou limites de pensamento, todos grandes pesquisadores ou cientistas desde épocas primitivas produziram conhecimento, interpretaram fenômenos naturais e inanimados, conduziram o mundo com os seus princípios. Independentemente do local onde o conhecimento foi produzido, sempre foi usado além fronteiras locais, nacionais, regionais e universais, fazendo com que a absorção e o linguajar científico fosse o mesmo. Dando como exemplos em áreas como agrárias, biológicas, a categorização dos seus elementos de estudo em família e até em espécie levou a universalização das linguagens técnicas, que apesar de poder ter nomes locais possui um nome universal de conhecimento de todos.

Portanto como a ciência nasceu globalizada ou mundializada, com os passos do sistema mundial ela continua ainda mais válida na condução do pensamento e produção do conhecimento que possibilite a criação de condições cada vez melhor de habitabilidade do planeta terra. Mesmo na década de 60 o Kourganoff (1961) afirmou que a ciência era uma das manifestações mais características e mais notáveis da nossa época e da nossa civilização.

Embora o mundo atual o localismo vai sempre cedendo lugar ao global ou mundialismo, nada mostra que o localismo desaparece ou desaparecerá, o que provavelmente acontece ou vai continuar a acontecer é a coexistência do local com o global. Visto que o global não responde as questões individuais mais sim globais é lógico que o localismo continuará firme muito embora esteja numa condição submersa e adjacente. Vimos isso no paradigma da intervenção do estado, em que a medida que responde o global ele se vê na obrigação de reorientar os seus povos com políticas específicas de gestão territorial dos seus recursos, estabelecendo formas práticas de como lidar com aspetos gerais do mundo globalizado.

O relacionamento entre a ciência e a tecnologia é uma das receitas que os pesquisadores encontraram para gerir o mundo globalizado e isto entra em concordâncias com o pensamento de Gilberto (2005) que essa relação produz mudanças estruturais partes do processo de globalização. Ainda de acordo com Gilberto (2005) o objetivo da ciência é melhor conhecimento e compreensão de tudo quanto existe; a criação de novas realidades , busca proveito espiritual , proveito material dos Homens.

Segundo Kourganoff (1961), a ciência progride sem dúvidas graças às descobertas mais variadas contínuas e por adição de pequenos aperfeiçoamentos em aspectos de pesquisa , valor dos resultados “antigos” , valores imediatos , valores da esperança e valores ignorados (a luta pelo progresso) . Estas contribuições da ciência não são novas, no entanto ganham mais proeminência com o desdobramento dos diferentes ramos do conhecimento científico. Por isso mesmo de acordo com o Kourganoff (1961) afirma existir duas subdivisões da ciência: a pura (voltada para explicação do real) e a aplicada (voltada a ação sobre o real).

A universalização não é só um processo linear, mas sim também um processo consensual (SANTOS, 2002). Assim também a ciência o é. Se não fosse assim ela não teria a capacidade de iluminar o mundo na sua trajetória, visto que apesar de existir produção localizada de conhecimento possui uso amplo. Esta idéia é comungada pelo Saraiva (1997) que afirma existir uma trajetória científica no âmbito das relações internacionais que foi empreendida pelos historiadores das relações internacionais e por alguns cientistas políticos insatisfeitos com os próprios padrões de análise do mundo contemporâneo da era pós-bipolar.

Antes da era pós-bipolar em que o mundo esteve virado para a antiga URSS e EUA , atualmente existe essa característica também movida pela insatisfação de diferentes naturezas, individuais, coletivas dos seus princípios cosmológicos. Atualmente, as tecnologias de informação exercem uma importante contribuição na flexibilização da produção do conhecimento e que em pouco tempo se pode deparar com experiências bem sucedidas realizadas em outro local distante do nosso. Portanto é inquestionável o reconhecimento da influência profunda em que a ciência e tecnologia provocam em qualquer dos níveis e camadas sociais do planeta, por isso que Santos (2000) diz que as transformações de ordem tecnológica repercutiram no funcionamento da atividade científica, produzindo novos padrões de organização na pesquisa, estabelecendo novas e variadas formas de interação.

3. Considerações finais.

A ciência é de fato a essência da evolução do sistema mundial:

• Ajuda a interpretação de fenômenos observáveis e não observáveis; Possibilita o desenho e redesenho de mecanismos de conduta ou trajetórias do sistema mundial; Estuda e propõe soluções quer por via de políticas públicas nacionais, quer universais das sociedades mundiais para a melhoria de bem-estar; Luz de orientação e patrono de todo conhecimento;

• Apesar de que afirmo que a ciência é a essência da nossa existência, naturalmente não significa que é o princípio e o fim de tudo, há aspetos limitativos a observar como os levantados por Flick (2004) de que a ciência não mais produz “verdades” absolutas, capazes de serem adotadas indiscriminadamente.

4. REFERÊNCIAS

FIICK, U. Uma introdução a pesquisa qualitativa. 2 ed. São Paulo: Bookman, 2004, 312p.

GILBERTO, S. O papel da ciência e tecnologia dentro da estratégia de segurança nacional da doutrina bush. In: Relações Internacionais no Mundo Globalizado Atual. Curitiba: faculdades integradas, 2005, p.9-24.

KOURGANOFF, V. A Pesquisa Cientifica. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1961, 135p.

LAKATOs, E.M. e MARCONI, M.A. Metodologia Científica. São Paulo:Atlas, 1982, 231p.

SANTOS, B. S. Os processos da globalização. In: SANTOS, B.S. (Org.). A Globalização e as Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 2002, p.25-102.

SANTOS JUNIOR, V. L. Organização e Interação dos Pesquisadores na Prática Científica. Um estudo de grupos de pesquisa da UFRGS. 2000, 103p.

SARAIVA, J. F. S. O objetivo de estudo e a evolução do conhecimento. In: SARAIVA, J. F.S. (Org.).Relações Internacionais Contemporâneas. Da construção do mundo liberal à globalização: de 1815 á nossos dias. Brasília: paralelo 15, 1997, p.17-59.

Dovine
Enviado por Dovine em 05/07/2009
Código do texto: T1683261
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