PATRIOTISMO EM TEMPOS DE COPA

Estamos às vésperas de mais uma Copa, e como sempre, muito se ouve falar em Patriotismo, orgulho pela bandeira e pela Camisa Canarinho [?]...Mas, pensemos juntos e francamente, caro leitor: o brasileiro sabe REALMENTE o que significa Patriotismo? Sente genuíno orgulho por ter nascido nesta terra, que como já disseram, “em se plantando, tudo dá”?

Tenho minhas dúvidas, e vou além: tenho certeza, que a grande maioria da mesma massa que balbucia [raros são os que sabem cantar, vide os próprios jogadores nas apresentações] nosso belo e exultante Hino Nacional, não tem a exata (ou parca) noção do sentido de Patriotismo -diferente daquele tão difundido pela mídia que vende camisas, bottons, bandeiras, bandeirolas, todo tipo de apetrechos e penduricalhos que se possa imaginar, e, claro, as transmissões dos jogos.

Afinal de contas, o que é, exatamente, ser Patriota? Ostentar e beijar a Camisa amarelinha (inacessível para a maioria) da Nike durante os jogos, gritar histericamente a cada gol, achar-se no direito de extrapolar até a madrugada, “parar” o país pq é dia de jogo da Seleção, para minutos depois, durante as notícias de roubo e corrupção no telejornal soltar o velho “Esse país não tem jeito!”, ou uma de suas variantes, como “Esse país é uma m***a, mesmo!!” ? É assim que expressamos nosso amor à Pátria?

Concordo que temos motivos de sobra para nos revoltarmos com a corrupção (que de tão comum em nossa Terra Brasilis, faz com que os honestos sejam tidos como bobos ou ingênuos, no mínimo), com nossa falta de segurança, saúde, educação, justiça.. Enfim, com a ausência da Dignidade que nosso “Estado-de-Contos-de-Fadas” prometeu-nos prover, via Carta Magna, outra bela ilusão.

Entretanto, expressões derrotistas, conformistas, que apenas acentuam ainda mais nosso pessimismo em relação as pessoas [políticos, e nosso povo, de uma forma geral] e ao futuro de nosso país, não irão nos ajudar a reverter o caos nosso de cada dia. “Sim, eu sei disso! Mas o que fazer?”, você provavelmente perguntará [se já não o fez em outras oportunidades]; e eu responderei: Indigne-se! Exerça aquilo que seu trabalho, impostos, e votos implicitamente lhe concedem: sua Cidadania.

Crie grupos de discussão em sua comunidade, fiscalize e cobre ações do representante eleito [ou não] por você; denuncie fraudes, injustiças; conscientize-se, e aos seus sobre a importância e amplitude da honestidade em todos os aspectos de nossas vidas, ensine às crianças o valor do trabalho honesto, fomente nos pequenos, heróis reais: o bombeiro que arrisca sua vida entre chamas, para salvar que nem conhece, o pai/ mãe que trabalha arduamente em busca do sustento e mínimo conforto de sua família, aquele que cede o lugar num ônibus/metrô aos idosos, que os respeita não apenas pela sua idade, mas pelo sentimento de humanidade que [pelo menos em tese] é intrínseco à todos nós, seres humanos.

Talvez seja uma meta ambiciosa demais, principalmente quando temos exemplos contrários tão próximos de nós –no trabalho, escola, universidade, família, nossa comunidade. Talvez você ache que seja pedir ou sonhar demais com um mundo onde pelo menos uma parcela significativa das pessoas sejam multiplicadoras da real Civilidade (que é bem diferente daquele maldito “Bom dia! Tudo bem?” Só “por educação”)...E talvez seja justamente por causa do pensamento derrotista de que “uma andorinha só não faz verão”, que os valores básicos da vida em sociedade deteriorem-se com tamanha rapidez e facilidade: temos uma preguiça moral estúpida!

Mas não nos preocupemos com isso: certamente, o hexa, hepta...Deca Campeonato Mundial nos libertará de nossas enfadonhas [e muitas vezes desconhecidas] consciências cívica, moral e humanista, não? Salve a Seleção!

Gustavo Marinho
Enviado por Gustavo Marinho em 02/06/2006
Código do texto: T168117
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