TECENDO NOVAS CONEXÕES

Por Seilla Carvalho
Como acontece a aprendizagem? Como se dá os saltos cognitivos rumo às novas interações?
Tomando como pano de fundo os estímulos do ambiente e levando em consideração as variáveis que alavancam ou se interpõem ao processo. Aprender equivale a “como aprender” e dar-se pela equivalência equilíbrio/desequilíbrio/equilíbrio e através de variáveis significantes que venham promover motivação para o aprendizado. O sujeito desse processo deverá perceber e elaborar significados com novas interações.
Novas formas vão se delineando, vão se estabelecendo e se complementando, dando vazão a um conhecimento que será reformulado, acrescentado ao que já se sabe. Aprendemos, quando ‘apreendemos’ os elementos de uma realidade nova; manipulamos como sendo a extensão de nós mesmos. Aprendemos a tirar partido desse elemento novo _conhecimento_ na medida em que ampliamos nosso campo de ação e novos desafios surgem.
Aprendemos por associação de fatos, idéias, que poderão gerar uma determinada concepção do objeto cognoscível. Por necessidade nos estabelecemos como espécie e o nosso legado é trilhar os horizontes do acontecimento, em que processos neuronais estabelecem novas conexões, ampliando as vertentes em que sujeito/objeto proclamam seu ‘encontro’ quase sempre entrópico e mesmo assim fortuito e gerador de potencial criativo.
O processo de aprendizagem está vinculado à capacidade cerebral de estabelecer novas sinapses?
Quanto mais se absorve novos conhecimentos, melhor é a reprodução de células neuronais?
As crianças da geração tecnológica, geradas num contexto em que a informação é o diferencial, e onde a estimulação precoce é um fato, estarão produzindo, com efeito, neo-sinapses?
Podemos afirmar ou especular que um tipo de revolução está alterando os processos através do qual a informação acontece, sendo descartada ou ressignificada no cérebro. Estudos na área constatam que o cérebro de uma criança de hoje é mais desenvolvido fisicamente que os das gerações passadas. Os neurônios crescem e se diversificam diante dos múltiplos estímulos_ sonoros, olfativos, visuais, táteis e intelectuais. As novas tecnologias produzem uma verdadeira metamorfose na capacidade de percepção das crianças de hoje.
O cérebro tem mais recursos, inclusive no que se refere a sua plasticidade, ou seja, “neurônios que se regeram quando lesionados e ampliam suas conexões de acordo com a estimulação a que são expostos”.
Estes novos indivíduos estão crescendo num mundo tão radicalmente novo, tão rico em inovações que atinge diretamente o modo de treinar a percepção, a memória, o pensamento...
O que pode significar a formação de um novo paradigma, diante dos modos de apreender a realidade. Pois, com “os referenciais de matéria e energia alterados a partir das relações virtuais produzidas pelas tecnologias da informática”, uma visão sistêmica do mundo e da existência passa a estabelecer uma nova ordem onde o conhecimento criativo e auto-gestor será um divisor de águas.
Tradicionalmente, os educadores se queixam que o “nível de inteligência baixou”, “que certa incapacidade de concentração tem impedido os jovens de se tornarem intelectualmente articulados, implicando numa perda de criticidade”. A princípio pode-se detectar uma queda de atenção e concentração diante de discursos longos e rebuscados. Talvez isto ocorra em função da longa exposição dos jovens frente à televisão ou ao computador, “ocasionando numa fragmentação da capacidade de raciocínio e impedindo a fixação num ponto específico”.
Hoje, em geral, todos nós ‘ficamos’ submersos pelas informações. Muitos adultos são pouco capazes de se fixar em pontos em que os jovens são extremamente concentrados. Há realidades e formas de tratar essas realidades, que suscitam na capacidade de concentração, memorização, elaboração de significados e potencial para o aprendizado da geração jovem.
Serão estas capacidades estabelecidas geneticamente?
O professor Ivan Izquierdo, da universidade Federal do Rio Grande do Sul, médico, pesquisador dos processos instrumentais da memória diz que “não existem pessoas com uma melhor ou pior capacidade inata de memória” (...) “todas as funções que utilizam sinapses são muitos sensíveis ao uso ou falta de uso” (...) “o uso aumenta o tamanho e a eficiência das sinapses”.
Pesquisas recentes demonstram que há etapas definidas _ as janelas de oportunidades_ para o desenvolvimento do cérebro das crianças, e informam que a inteligência, a sensibilidade e a linguagem podem e devem ser aprimoradas na escola e especialmente em casa. As fibras nervosas capazes de ativar o cérebro têm de ser construídas, e o são pelas exigências, pelos desafios e estímulos a que uma criança é submetida.
O neuropediatra Harry Chugani, professor da Universidade de Wayne nos EUA, revela “as primeiras experiências da vida são tão importantes que podem mudar por completo a maneira como as pessoas se desenvolvem”.
O cérebro precisa de estímulo, de ginástica. Pois, por mais rica que seja a herança genética recebida, muito não poderá ser feito. O máximo que os determinantes genéticos fazem é a capacidade de sustentar a vida. Nas sinapses estabelecidas pelo cérebro encontramos o segredo da inteligência. Sabe-se que após a morte do físico Albert Einstein, o seu cérebro foi doado para estudos, na tentativa de se descobrir alguma explicação para a inteligência privilegiada deste revolucionário expoente da ciência. Mas, os pesquisadores nada descobriram, nenhuma diferença significativa foi encontrada. Na realidade, até o momento, se sabe que não existem distinções estruturais entre o cérebro dos chamados superdotados e o das pessoas normais. O que faz a diferença é o número de conexões em determinadas áreas nas quais se destaca. O que determina esse fenômeno é ainda uma incógnita a ser elucidada pela ciência.
Outra questão ainda obscura para muitos, e que está diretamente relacionada ao processo de aprendizagem, é quanto à especialização dos hemisférios. Como regra, o hemisfério esquerdo controla os movimentos do lado direito do corpo e rege as funções da fala, do raciocínio lógico-matemático, etc. Em contraste, o hemisfério direito que controlaria o lado esquerdo, sendo responsável pela criatividade e todas as formas de pensamento espacial e intuitivo. No entanto, os estudos já constataram que nossos dois hemisférios não são tão especializados assim em suas funções.
A hipnose, a ioga e os estados oníricos não revelam diferenças nítidas nas atividades dos hemisférios. Os neurocientistas comprovaram padrões idênticos de atividade elétrica em ambos os hemisférios. A maioria das pessoas escreve com a mão direita, comandada pelo hemisfério esquerdo. Porém, se centros responsáveis pela fala e escrita, estiverem instalados na metade direita do cérebro, o indivíduo será canhoto. Cada célula pode desempenhar múltiplas funções, mesmo havendo alguma especialização já que a maleabilidade o sistema permite a adaptação de situações imprevistas.
Tudo o que vemos, ouvimos ou sentimos nada mais é do que radiação eletromagnética _luz_ sem formas, sons ou cheiros que nosso cérebro se incube de reelaborar de acordo com parâmetros de tridimensionalidade. Ou seja, o que o cérebro faz o tempo todo é criar imagens, dados, onde a nossa realidade é plasmada. De que forma a revolução de conceitos e percepções será apresentada no ambiente, no cotidiano em que a aprendizagem é delineada?
Partindo de qual paradigma será estabelecida a relação entre objeto cognoscível e sujeito cognoscente?
Como acontece realmente a aprendizagem? Como se dá os saltos cognitivos rumo às novas interações?
São muitos os questionamentos e as disciplinas envolvidas no aprofundamento das pesquisas precisam encontrar elos significativos que dê conta desta compreensão. Compreender esta obra fantástica que busca sentido questionando a si mesma, significa estudar a interdependência entre os processos emocionais e orgânicos, a conexão entre cérebro, consciência e espírito. Edgar Morin, afirma em A Cabeça Bem-Feita, “há mais justaposição que ligação, e menos busca de uma linguagem comum que conflitos entre disciplinas de pretensão hegemônica: ciências neurológicas, ciências físicas, teorias oriundas da informação, cibernética, conceitos de auto-organização a partir de redes de conexão etc. O mais grave é que as ciências cognitivas, que aglutinam disciplinas “normais”, próprias da ciência clássica, ignoram seu problema crucial: o objeto de seu conhecimento é da mesma natureza que seu instrumento de conhecimento. De modo que as ciências cognitivas constituem uma primeira etapa de agregação, à espera da grande virada”.
A grande virada que poderá abrir novas dimensões no entendimento desta e outras complexidades, alavancando gradativamente a condição de autoconsciência, onde tudo o que será revelado partirá de uma dinâmica única e desafiadora: si a si mesmo.

Algumas Referências:

BABIN, Pierre. Os novos modos de conhecer. Paulinas. P. 91-137
CERATO, Sônia. A Ciência Conscienciologia e as Ciências Convencionais. IIPC, p. 128-145
CALVIN, William. Como o cérebro pensa. Ciência atual, Rocco
CAPRA, Fritjof. O Ponto de mutação. Ed Cultrix
DAMÁSIO, António. O Erro de Descartes – emoção, razão e o cérebro humano. Comp. das Letras
GROF, Stanislav. A Mente Holotrópica. Rocco
HUMPHREY, Nicholas. Uma história da mente. Campus
MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-Feita, Bertrand Brasil, 2003
NÓBREGA, Clemente. O Glorioso Acidente. Objetiva, 1998
Revista Educação. In: Bastidores da memória. P. 5-7, março 2000
Revista Veja. A construção do cérebro. P, 84-89. N° 12. Ano 24, março 2000
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Seilla Regina Fernandes de Carvalho – Pedagoga (UNEB-BA), Psicopedagoga Clínica e Institucional (FAP-PR), com Formação na Docência do Ensino Superior, Mediadora em Cursos de Aperfeiçoamento e Formação Continuada dos Profissionais de Educação; Orientadora em Projetos de Educação Sexual de Crianças e Adolescentes; Consultora Educacional e Co-autora, com João Beauclair, do livro “Sinergia: aprender e ensinar na magia da vida” (no prelo).
Contato: seilla.psicop@gmail.com , seillacarvalho@yahoo.com.br
Joao Beauclair
Enviado por Joao Beauclair em 03/07/2009
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