Milagre

Milagre!?

Edifício Joelma SP em algum ano, mês e dia do século passado, eu estava lá! . Sim, tratava de negócios em um escritório, teria que fazer um serviço com um profissional de minha área, me demoraria por lá o dia inteiro e, talvez enveredasse pela noite. Já me acomodara e tentava arrumar os dados necessários, quando ela chegou, conversou confidencialmente com Almir durante alguns minutos, depois, cumprimentou-me, apresentando-se formalmente. Era uma senhora bem afeiçoada, estilo balzaquiana e, já passara dos 60, olhos negros expressivos e cintilantes ocupavam um rosto outrora belo, mais desgastado pelo tempo, seria hoje um disco de vinil de inéditas melodias ou um retrato em preto e branco digo de emoldurar um ambiente estóico...

Ela olhou-me dentro dos olhos demoradamente como se eu fosse um velho conhecido ou pendia um elo familiar mais intimo. Momentaneamente senti-me incomodado, sobremaneira, como se eu fosse algo a ser apreciado ou um vírus detectado por um grande cientista. A letargia do momento foi rompida por uma pergunta dela partindo. Posso sentar-me? O que respondi afirmativamente, sim! Senhora, o que deseja, em que posso ser útil? Retrucando ela disse: jovem, tenho informações precisas de que trabalhas com tributos, contabilidade e, que é muito bom no que faz, verdade? Respondi_ Senhora, trabalho sim com tudo isso que a senhora se reportou, quanto a ser bom, bondade sua, sou igual a tantos outros que estabelecidos nessa grande metrópole, fazem o possível para agradar, nada mais. Em que posso ajudar? Interlocutando, ela voltou a falar, sua voz tinha a suavidade da brisa de primavera a acariciar as mais belas flores e exuberantes folhagens aliado a segurança das fortalezas edificadas sobre grandes montanhas, indiscritível, uma raridade, como se a mais cobiçada peca do museu de Londres, fosse vista num tosco monumento da decadente e suntuosa Alcântara no meu Maranhão. Saí do repentino transe para ouvir: meu filho, sou uma respeitada empresaria do ramo de tecelagem e estou aqui para contrata-lo, só que teremos que ir agora, o meu caso requer toda a pressa do mundo, o meu problema é muito maior do que o de toda a sua clientela e mais aos seus somados juntos. No que falei, mais Senhora, eu acabo de conseguir um trabalho e as minhas contas não podem esperar e a minha necessidade é premente. Novamente ela, com a calma das grandes bonanças e a tranqüilidade de quem aprecia o revitalizante rio que corre nos altos da Serra de São Goncalo no Município de Itapipoca no Ceará, declinou, filho, quanto vais ganhar por este trabalho e quando vais receber. De antemão, respondi, no termino dentro de quatro semanas, o valor R$ 6.000,00, sem perca de tempo ela disse: me acompanhe ao banco mais próximo, te adiantarei R$ 10.000,00 mesmo sem saber o quanto vais me cobrar. Bem, com uma proposta dessa e os credores já a baterem-me a porta, não relutei e disse. Almir, amigo, começo na próxima semana, desculpe-me, apenas uma urgência. Despedi-me e fui com a senhora de quem nem o nome perguntei.

Nas proximidades do prédio, um mercedes ultimo modelo nos esperava, adentramos o veículo e seguimos rumo a Av, Paulista em uma Ag. do Banco do Brasil onde através da Gerencia foi efetuada a transferencia de valores para a minha conta. Voltamos ao carro, e em conversa, ela me disse, filho vou deixar-te em um Flat de minha propriedade nos Jardins, voce fique a vontade que em breve enviarei um mensageiro para que se cumpra o nosso trato.

Chegamos ao Flat que por sinal de alto luxo e requinte, me alojei, no local já encontrei roupas adequadas ao meu porte físico, presentes inclusive chocolate branco que muito gosto. Muito a vontade, tomei uma cerveja assistí TV até quando, o plantão da Televisão noticiou o incêndio do Joelma, apresentando cenas dantescas que jamais eu iria esquecer, dado a tragicidade daquelas pessoas, que há pouco me incluía entre elas. Não resistí, tomei um porre, adormeci em uma confortável cama como a tempos não via. Fui acordado as 10 horas com um café na cama e a noticia de que a Senhora tinha viajado e me procuraria no próximo mês e, que a conta estaria ativa até as 12 horas do dia seguinte. Chamei o funcionário e perguntei: quem é essa Senhora, qual o nome dela? No que me respondeu, agradeça a ela porque ela se chama simplesmente SENHORA.

Airton Feitosa 25/06/2006

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