Isso não vai dar certo

Acredito que todos já acompanharam reportagens televisivas que mostram a expansão incontrolável da cultura de cana-de-açúcar por este Brasil a fora, principalmente no Estado de São Paulo e, agora, entrando no Mato Grosso do Sul, com investimentos de bilhões de reais na construção de usinas de açúcar e álcool. A venda de implementos sofisticados, voltados ao corte de cana, no valor aproximado de um milhão de reais cada, está tão aquecida, que a indústria especializada também está investindo maciçamente, para atender às filas de espera.

Muitos agricultores estão abandonando as suas policulturas, sejam elas agrícolas ou pecuárias, para migrarem definitivamente à moda do momento – a plantação, ao corte e ao transporte de cana-de-açúcar, ou ainda, ao simples arrendamento de grandes extensões de terras às usinas, para auferirem altos lucros, com menos riscos e trabalho. Tudo está se tornando em uma verdadeira epidemia, fora de controle, de maneira a cegar os investidores gananciosos, que estão vivendo sob miragens da “ilha da fantasia”, assim estão perdendo a noção do que seja investimento sustentável, para entrarem em aventuras de elevado índice de fracasso, logo ali mais adiante, sendo que, quanto maior seja a altura, maior deverá ser o tombo.

Mesmo para quem não tenha conhecimentos de Economia fica fácil intuir que, quanto maior seja a produção e a concorrência, menor terão que ser os preços dos produtos a serem oferecidos, devido à saturação do mercado consumidor, por essa razão os preços dos derivados da cana (açúcar e álcool) terão que cair até abaixo dos próprios custos, o que provocará prejuízos imprevisíveis aos industriais e aos agricultores, porque as leis naturais não podem ser revogadas, modificadas, burladas ou mal interpretadas, como é o caso da Lei da Oferta e da Procura.

Será que todos esses “espertos” acreditam mesmo na expansão mundial do etanol, como combustível renovável e menos poluidor do que os derivados do petróleo? Pela forma que a euforia da cultura da cana está se espalhando, é de se crer que sim! Eles estão certos de que o mundo vai mesmo aderir ao consumo do combustível “tupiniquim”, esquecendo-se de que o monopólio dos produtores de petróleo é tão poderoso que eles não precisarão fazer qualquer esforço para reduzirem drasticamente os seus preços de venda, que estão nas alturas, e que já lhes renderam o suficiente para se manterem no lucro até o final do século. O poder do “ouro negro” é tão fabuloso, que basta os seus fornecedores ameaçarem de vincularem a venda dos demais derivados à venda de gasolina combustível, para qualquer outro tipo de combustível renovável se transformar em verdadeiro “mico”. Será que todos se esqueceram do fracasso do carro a álcool, que não saiu das fronteiras do Brasil?

O perigo de tudo isso é as pessoas acreditarem no carro “flex”, que até está sendo ensaiado no exterior. O grande erro nessa crença está na aposta da manutenção, indefinidamente, do tipo de motor a explosão a quatro tempos, que já completou o seu centenário de vida, há um bom tempo, porque os produtores de petróleo o mantiveram até hoje, por interesses óbvios, enquanto as demais tecnologias estão acompanhando os novos tempos do terceiro milênio. No mesmo instante em que não houver mais interesse em se manter esse “status quo”, os motores pesados, complicados, poluidores, de grande porte e dispendiosos irão ser substituídos por outros que sejam muito mais eficientes e baratos, movidos por combustíveis não poluentes como: hidrogênio, água, ar comprimido ou até energia cósmica, cujos projetos estão engavetados, prontos para serem postos em prática, daí então toda a “parafernália” montada em derredor do combustível renovável para motores a explosão irá se tornar em peças de museu.

Não sei se muita gente já percebeu o desastre que se está desenhando para nós, os brasileiros, porque, pelo visto, o governo, pela megalomania de se manter para a posteridade, está fazendo de conta que estamos no caminho certo do desenvolvimento. Sim, estamos no caminho certo da fome, do desemprego e da dependência da importação de alimentos para a nossa sobrevivência! _Quem viver, verá.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 02/07/2009
Reeditado em 06/04/2011
Código do texto: T1677921