Eu só queria entender

Ouve-se agora, quase todos os dias, que o trânsito de veículos na Capital Paulistana está cada vez mais batendo recordes de lentidão, deixando os seus moradores num crescendo de estresse, o que logicamente provoca a subida da pressão arterial dos indivíduos, como consequência abre-se o caminho para a intolerância, que, por sua vez, cria a violência urbana e suas mazelas. Acontece que tudo isso não é apenas um fato isolado, surgido do nada, mas é simplesmente o resultado da incompetência do ser humano em enxergar além de um palmo diante do nariz, de analisar os fatos passados para projetá-los, nem que seja para o mínimo de um ano à frente, porém não é o que acontece, porque o imediatismo e o egoísmo colocam o homem no estado de catalepsia, fechando-se em si mesmo, julgando que tudo o que ocorre à sua volta não lhe diz respeito porque é apenas problema “dos outros”.

Basta darmos algumas voltas por São Paulo para chegarmos à lógica conclusão de que a Capital e seus municípios adjacentes estão prestes a entrarem em colapso irreversível, haja vista a quantidade absurda de grandes edifícios sendo levantados, num piscar de olhos, provocando assim cada vez mais a concentração de gente por metro quadrado, gente essa que tem de se locomover de um lugar pra outro, em vias limitadas e insuficientes para o fluir desordenado do tráfego urbano. Estamos acompanhando também a “maravilha” que está acontecendo com a produção e a venda de automóveis e de motos, principalmente pela quantidade absurda de licenciamentos de veículos zero quilômetro, por dia, dentro dessa cidade já sufocada pela poluição ambiental, cujo elemento mais ativo é justamente a fumaça tóxica, espargida no ar pelos escapamentos dessa frota crescente de veículos, somada ao diesel queimado, jogado na atmosfera pelos ônibus e caminhões.

Então podemos perguntar: _Qual a solução? Vamos responder: _Não existe! A continuar o andar do andor, a Grande São Paulo vai “fechar”, vai implodir, vai parar, vai se decompor!

Existem fatos que nos intrigam, que eu gostaria de entender – por que será que o homem, sabedor do que acontece quando se impermeabiliza o solo de toda uma cidade, ainda teima em construir nas beiradas dos rios e córregos, ficando assim, com toda certeza, sujeito a sofrer inundações? Por que será que se permite construções, em quantidades assustadoras, de enormes edifícios, de forma amontoada em pequenos espaços, cujas estruturas de saneamento básico, como água e esgotos, encontram-se perigosamente saturadas? Como é possível alguém continuar pautando a sua vivência, ainda mais acreditando na continuidade de vida dos próprios descendentes, dentro de uma megalópole já com mais de doze milhões de habitantes, que está prestes a entrar em colapso, e ainda achando que seja possível continuar indefinidamente comprando-se carros e motos, para locomoção pessoal e de familiares? _Vejam, eu só queria entender.

Muitos poderão argumentar que a saída é construir mais metrôs, terminar o anel rodoviário, abrir mais avenidas e elevados, melhorar o transporte público, restringir ainda mais o uso de veículos no centro e cobrar-se pedágio para a locomoção de carros particulares. Ora, se tivermos um recipiente, cuja entrada de água seja maior do que a saída, ele irá transbordar, isto é matemático, portanto todas essas obras, quando finalmente terminadas, o caos já teria se instalado, ainda mais que existe um ponto a ponderar, se transformarmos a cidade em um canteiro de obras, aí sim que será humanamente impossível a sobrevivência local, principalmente porque nada do que se fizer dará bom resultado, se não mudarmos totalmente a infra-estrutura de fornecimento de água e dos esgotos, que já não suportam mais o aumento da demanda desenfreada. Vejam que este seria o calcanhar de aquiles de toda essa mudança espetacular, que simplesmente iria parar tudo de vez, daí o morador paulistano vir a conhecer em vida como é o inferno!

Acho que agora dá pra se perceber o porquê da minha conjetura: _Eu só queria entender.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 02/07/2009
Reeditado em 25/10/2010
Código do texto: T1677832