MICHAEL JACKSON: NÓS O MATAMOS

A repentina morte do astro da música pop Michael Jackson aos 50 anos leva-nos a indagar acerca do papel dos meios de comunicação e do público em geral nesse episódio. E a conclusão que chego é a seguinte: nós o matamos. Sim, nós o matamos, cada um de nós. O pai por ter-lhe ceifado a infância ao obrigá-lo a ensaios cansativos quando o que o menino Michael mais queria era brincar como todo garoto de sua idade; e nós – eu e vocês – com a nossa moral, uma moral onde todo ser deve se encaixar em determinados juízos de valores, nos quais o gênio Michael – aliás como a maioria dos gênios – não se encaixava. Talvez na sua ânsia em permanecer um adulto-criança e assim escapar do fantasma do passado de criança-adulta o astro da música tenha enveredado por caminhos tortuosos, experimentado coisas capazes de chocar até mesmo aqueles que se dizem não-moralistas – embora todos nós, sem exceção somos moralistas. – Mas não estaria também a fonte de inspiração para obras tão geniais? Não é onde a maioria de nós não temos coragem de chegar que os gênios vão em busca dos melhores frutos? E o que temos nós, os normais, com esses caminhos?, se o que verdadeiramente nos interessa são os frutos de tais gênios? Infelizmente hoje em dia o homem comum, mergulhado até o pescoço na inveja, nesse achar que o gênio não passa de um transgressor, se regojiza ao ver alguém como Michael Jackson, Ronaldo e tantos outros flagrados em atos moralmente condenáveis. E esse regojizar, esse dizer “tá vendo, ele não é melhor do que eu e ninguém” não passa de uma tentativa de diminuir, de nivelar por baixo (e aí é preciso concordar com Nietzsche) esses seres superiores. Talvez por isso o homem de hoje se preocupe mais com a vida privada do gênio do que com a suas obras, pois “já que não posso ser igual a ele, que ele seja então igual à mim”. E por pensarmos assim, com essa nossa moral do escravo, nós o matamos. Porque, se por um lado M. Jackson soube deixar sua marca, por outro não foi inteligente o bastante para escapar às armadilhas da mídia e daqueles que o cercava. Os primeiros ávidos e famintos por suas excentricidades, e os segundos por insistirem a todo custo enquadrá-lo num perfil, num padrão moral capaz de agradar a todos. Incapaz de se adequar a esse perfil, ele via-se de quando em quando preso às garras da voraz mídia, a qual como ninguém sabe colher seus frutos ao atirar migalhas aos porcos. Para tentar escapar, Michael Jackson jogava-se nos braços daqueles que o cercava, pois acreditava que estes o poderiam redimir. Daí o casamento de mentira e os filhos (se é que são seus) como forma de atenuar os escândalos de pedofilia e um possível homossexualismo. Mas mal sabia ele que estes, ao quererem protegê-lo de nós, seriam os responsáveis por levá-lo à dependência química, às constantes cirurgias plásticas e ao estado hipocondríaco, fatores estes determinantes para sua morte.