ASPECTOS DA BALAIADA
A BALAIADA.
by VENILDO JOSE BEZERRA REYNALDO.
BRASIL. MARANHÃO. CAXIAS.
venildojbr@hotmail.com.
O estopim dos acontecimentos da Guerra da Balaiada foi o fortalecimento da Província do Rio de Janeiro com a chegada de D. João VI ao Brasil e da família Real. O Vice-Reino de Portugal e Algarves recém instalado passou a fazer vultosos investimentos governamentais no Rio e Petrópolis em detrimento das demais províncias, notadamente a de Pernambuco, Grão Pará e Maranhão. Coincidiu com o declínio do preço mundial do açúcar. O Vice Reino passou a negar sistematicamente créditos para as demais províncias fazendo o Maranhão sofrer com a impossibilidade de manter sua produção da cana de açúcar. Restava a produção do algodão que estava em alta de preço, tendo como principal comprador a Inglaterra. Porém, a Corte Lusitana no Rio impedia que os produtores maranhenses negociassem diretamente com o Reino Unido. Some-se a isso que os produtores e comerciantes portugueses e seus descendentes diretos, sediados na província do Maranhão e Grão-Pará, tinham privilégios assoberbados com relação aos dos brasileiros natos livres. Por exemplo: os prefeitos e edis dos municípios provincianos eram escolhidos por indicação dos portugueses. Os brasileiros não participavam dessas escolhas. Os filhos dos portugueses gozavam de vantagens não estendidas a filhos de brasileiros como estudar em Coimbra e Lisboa, Portugal, recebendo bolsas da Corte. Inicialmente, a filosofia da Balaiada era conquistar a ferro e fogo o mesmo direito e privilégio reconhecidos aos portugueses e seus descendentes diretos. Manoel Gonçalves Dias, pai de Antonio Gonçalves Dias, contemporâneo da balaiada, por exemplo, era um comerciante português privilegiado pela política Real. Tanto ele como os demais portugueses detinham facilidades na Corte além mar. Dois partidos políticos regionalizados tratavam dos interesses das partes: O Partido dos Cabanos (nada a haver com a CABANADA no Pará) representava os interesses dos portugueses e era simpático à Coroa Portuguesa, enquanto que o Partido dos Ben-ti-vis era composto por brasileiros livres e se dizia liberal. Eclodiu a revolta de caráter elitista na quarta Regência do adolescente D. Pedro II, em oposição ao Marques de Olinda, o Pernambucano Pedro de Araújo Lima. A Revolta da Balaiada encabeçada pelas elites latifundiárias e algum segmento da Igreja Católica alinhados ao grupo dos Ben-ti-vis tinha como causa e bandeira de luta seus próprios interesses. Não estava previsto a abolição do escravismo negro e melhorias das condições de vida dos maranhenses pobres livres. Imprevisivelmente três líderes populares, um negro cearense (COSME BENTO DAS CHAGAS – o temido NEGRO COSME), um vaqueiro piauiense (RAIMUNDO GOMES VIEIRA JUTAÍ, o cangaceiro CARA PRETA), e um artesão maranhense (MANOEL FRANCISCO DOS ANJOS FERREIRA, o pacífico MANOEL BALAIO), tomaram o controle do movimento, destituindo o Jornalista LIVIO CASTELO BRANCO, e sob esse triplo comando a luta foi redirecionada incluindo na proposta de luta a abolição do escravismo negro e melhoria de vida da população ribeirinha do Vale do Itapecuru. As elites ditas liberais inconformadas com a reviravolta abandonaram o propósito inicial e passaram a financiar a Regência, juntamente com os regressistas Cabanos, no sentido de enviar tropas militares do Rio e combater os revoltosos. Foi quando o tenente coronel de exercito, o carioca LUIS ALVES DE LIMA E SILVA, recebeu do Regente Pedro de Araújo Lima a nomeação de Governador do Maranhão e comandante em chefe das tropas maranhenses, findando com a chacina dos insurgentes que não aceitaram os termos da anistia oferecida pelo já Imperador Dom Pedro II.
O resultado do movimento:
- LIVIO CASTELO BRANCO ganhou cargos públicos no Piaui por ter abandonado a Balaiada popular.
- MANOEL BALAIO morreu na tomada de Caxias.
- CARA PRETA aceitou a anistia, porém foi assassinado no porão do navio que o levava a São Paulo, onde seria desterrado.
- NEGRO COSME foi capturado e enforcado.
- LUIS ALVES DE LIMA E SILVA recebeu a comenda de DUQUE DE CAXIAS.
- CABANOS e BENTIVIS formaram a nova e coesa elite maranhense.
- Os NEGROS voltaram a seus antigos proprietários na condição ainda de escravos.
- Os artesãos continuaram e continuam pobres habitando como alhures a beira do Itapecuru.
Aspectos do movimento:
a) SOCIAIS - declínio das riquezas do Maranhão e Piauí com o empobrecimento das elites e miséria da população esquecida pela Corte do Rio.
b) ECONOMICOS - baixa internacional nos preços do açúcar e carne bovina, e imposição da Corte do Rio proibindo o Maranhão em comercializar seu algodão diretamente com a Europa.
c) POLITICOS - confronto ideológico entre brasileiros e portugueses, encabeçados pelos partidos dos Cabanos (portugueses) e dos Bentivis (brasileiros).
d) CULTURAIS - A cultura dominante era elitista e ditada diretamente de Lisboa e Coimbra. As manifestações culturais negras e indígenas não eram difundidas. Isto é, não saiam dos Quilombolas e das Aldeias. As quermesses católica monopolizava a cultura com danças e folguedos religiosos copiados de Portugal.
e) silvicolas - O movimento não contou com a participação indígena.