Quando perdemos um ídolo.

O mundo parou para enterrar Michael Jackson. Que tenha paz esse homem que acompanhou o crescimento de gerações e foi a melodia da muitas vidas. Michael foi ídolo de multidões e continuará sendo porque quando morre um homem como ele, nasce uma lenda que todos respeitam.

Eu não conheci muito seu trabalho, admirava-o como artista e creio que não haverá quem o supere. Ele é único. E o mundo sabe disso. O relacionamento dos fãs com seus ídolos é no mínimo intrigante. Curiosamente sabem-se sobre eles a data e o local de nascimento, nome dos pais, tipagem sanguinea, nome do cachorro, prato preferido, cor preferida, altura, peso e tantas particularidades que impressionam. Mas sobre os vizinhos, que moram ali ao lado, nem sequer o número do telefone para emergências, se é homem ou mulher, solteiro ou casado.

É próprio do ser humano apegar-se às histórias ou músicas que falem de sua realidade, de sua vivência. Talvez venha daí a dependência ou a cumplicidade de muitas pessoas em relação a seus ídolos. Como se eles falassem a mesma língua, tivessem vivido os mesmo dilemas e suportado as mesmas crises. Um melhor amigo distante; assim pode ser definido o sentimento do fã com seu ídolo? A dedicação dos admiradores pelas pessoas públicas, em alguns, é maior que pela própria família. Há quem deixe de comprar gêneros de primeira necessidade para adquirir seu novo CD ou que programe sua rotina para poder acompanhar a do idolatrado.

E quando acontece a perda dessa pessoa? Perde-se a estrela que guia a vida? O que acontece com as pessoas que reagem de maneira tão intensa, tão apaixonada à perda de seu ídolo? Nessas ocasiões se presenciam as mais lindas manifestações de amor e carinho que uma pessoa pode ter para com outra. Homenagens, flores, dedicatórias, infinitos gestos que não são comuns nelas nem para com os companheiros de suas vidas. Tudo pelo ídolo. Por aquele que nem sabe onde mora seu fã, que nem desconfia que ele fica acordado esperando sua última notícia passar, que mesmo sem dinheiro para comprar camiseta, colecionar revistas ou até para ir onde ele estiver, dedica a ele muito do seu tempo, da sua atenção e do seu amor.

É lindo ver que num mundo onde a violência gera traumas e assusta as pessoas em geral, há espaço para demonstrações de admiração infinita, gestos de pura doação à uma última homenagem. E quando mobiliza o mundo inteiro, comove, conquista e contagia. Mesmo que não se conheça quem parte, um comentário, uma referência sempre acontece. E esse sentimento floresce naturalmente. Foi assim com o Senna, foi assim com o Leandro. Impossível esquecer as manifestações de respeito, amor e gratidão que se presenciou a esses dois homens tão queridos, amados, idolatrados. Por seus ídolos, as multidões aglomeram-se e ficam à espera de um consolo, talvez alguém que diga que foi brincadeira e nada aconteceu. Que amanhã lá estará ele, no programa de TV, cantando aquela música que é o tema do namoro de alguém ou de um momento difícil de uma vida. E fazendo todos sorrir. Novamente despertando emoções, dando aconchego e momentos de carinho, paz e alegria. Aquela alegria que só um ídolo pode dar a alguém.

As pessoas identificam-se entre si. Realizam seus sonhos através das outras, deixam a imaginação viajar, esquecem os momentos difíceis e intensificam os felizes. Um ídolo é diferente de uma pessoa da família. Às vezes ele é considerado até mais parente porque não se envolve diretamente com suas vidas, e quando participa sempre é para o bem.

Quando a comoção toma conta da população por perder alguém e coloca homens, mulheres e crianças em igual nível de dor e saudade, é que se percebe que as alegrias e as conquistas fazem os homens sentirem-se maiores e melhores uns que os outros. Mas a perda, a morte, fazem todos lembrar que nosso tempo com as pessoas que amamos às vezes é muito curto para fazer tudo que poderíamos para promover sua felicidade. Creio que os ídolos sabem disso, fazem isso e por essa razão as pessoas sentem tanto a sua partida.

Ediane Menosso
Enviado por Ediane Menosso em 28/06/2009
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