O Brasil e sua mídia (ainda) neoliberal
O BRASIL E SUA MÍDIA (AINDA) NEOLIBERAL
No dia 6 de junho, eu me lembrei que deveríamos celebrar o “dia da liberdade de imprensa”. Sobre isto, há uma interessante entrevista de Betinho, há muito tempo atrás, onde o sociólogo († 1997) disse: “Não vivemos em uma sociedade democrática, mas autoritária. Os nossos representantes votam contra o eleitorado, enquanto a mídia encobre a realidade, com pesquisas e censura”. Será que aquela fala, proferida há cerca de doze anos tem consistência hoje? Eu acho que sim! Com coluna em mais de dez jornais, revistas e portais eu já sofri censura política em quase todos eles.
De fato, há censura, sim. Ele ocorre de acordo com a ideologia ou princípios do veículo. Recentemente dei uma palestra a estudantes de jornalismo de uma universidade da capital. Comecei provocando: “A informação é direito do cidadão ou produto de consumo da ideologia que rege o segmento de comunicação?” Temos ou não liberdade de imprensa? Imprensa, hoje, foi substituída por mídia. A expressão mídia vem do inglês, media, e representa um processo intermediário. Assim, ela está colocada entre o fato e o público, estabelecendo uma leitura, “traduzindo” o ocorrido para uma melhor compreensão do consumidor (leitor, ouvinte, telespectador). Nessa “tradução” é que aparece a ideologia. Você lê dois jornais e as notícias são “interpretadas” de forma diferente pelas redações. Parece que se está em países diferentes.
Sendo empresa, a grande mídia tem finalidade econômica. Não há idealismo. Inseridos em uma realidade mercantil, a maioria dos meios de comunicação social no Brasil trabalha em favor do mercado consumidor. Em uma interessante entrevista, Bill Gates, profetizou, para o ano 2000 o fim da TV comercial. Primeiro, só haveria tevê a cabo, tipo pay per view, e depois a Internet abrangeria as comunicações do mundo. Essa evolução, prevista em “O choque do futuro” de Alvin Toffler (1962) é comprovada pelo fato de, hoje, um garoto de doze anos, tenha em seu notebook, acesso a mais informações que os sistemas de inteligência de Washington e Moscou em 1988.
Na verdade, essa força, vista como um “poder da República”, é mais forte do que se pensa. As “pesquisas de opinião” elegem presidentes. Dizem que a mídia no Brasil já derrubou um presidente (Collor) e manteve outro no poder (Fernando Henrique), ao silenciar sobre a não concretização das CPIs dos bancos e da compra de votos. É uma ilusão, pelo menos no Brasil atual, ver a mídia como “defesa da sociedade”. As denúncias, reportagens sensacionalistas, sangrentas, ou levantamento de suspeitas, servem para vender mais, seja jornal, revista ou conquistar pontos de audiência. A mídia mantem seu ranço liberal pois privilegia o caopital (e o mercado), o poder e as ideologia de direita, todas elas "liberais".
Para essa mídia neoliberal, travestida de democrática não existem valores, o que conta é a possibilidade de faturar, mesmo que para isso tenha que comparar frei Damião com Fernandinho Beira-Mar. Na exacerbação do retrocesso, a mídia nacional em alguns momentos se aproxima dos lamentáveis tempos da ditadura. Assim, a mídia é um bem e um mal, e precisa ser julgada com um grande senso crítico para evitar a manipulação.
Filósofo, escritor, diretor do Instituto Kerygma.