Pocotó, pocotó, pocotó...

Éramos pequenos, de família numerosa, com muitas crianças. Acabávamos de despertar, tomar o café da manhã que geralmente era café, leite, algum tipo de bolo de polvilho e frutas. Pão não tinha, pois a nossa casa ficava a dezoito quilômetros da cidade de Barretos/SP. Depois do café, cada um tomava seu destino no trato para as aves de consumo, porcos e equinos também de serviço. Os maiores já tratavam de se preparar para ajudar o pai na roça.

Um dia desses, no café da manhã, ouvimos esse ruído: "pocotó, pocotó, pocotó" e todos correm para ver. Era uma moça gorda montada num lindo e forte cavalo. Tratava-se de uma vizinha cujos seus pais eram fazendeiros e moravam logo há uns seis quilômetros e seu nome era Wilma Bernardes Pedroso, já falecida. "Aqui mora a família dos Pedroso?" "Sim", respondemos. "Seu pai é o seu Yoyo?". O nome do meu pai era Aurelino José Pedroso e, desde criança, tinha o apelido entre os mais próximos de Yoyo.

Ela pediu para chamá-lo. Meu pai veio atendê-la, pediu para apear e adentrar. Conversa vai, conversa vem e ela disse: "Sou filha do seu Joaquim Pedroso e da dona Magnólia, vizinhos aqui de vocês. Sou professora e estou escalada pela Secretaria de Educação do nosso município para gerir a Escola Municipal da Fazenda Monte Alegre que vai funcionar aqui pertinho de vocês a uns três quilômetros. Como ainda tem poucos alunos, vim solicitar que o senhor mande seus meninos para a escola. As aulas vão ser de manhã".

Meu pai pensou um pouco e disse. "Dona Wilma, agora não vai poder porque estamos numa tarefa grande fazendo tratos culturais em 10.000 pés de café, tudo manualmente e os meninos já estão me ajudando". Ela disse em tom rústico, pois sua fala já era assim forte: "Não tem conversa não. O senhor vai mandar os meninos, pois se não mandar vou denunciá-lo na Secretaria de Educação". Ponderando ainda disse "O senhor pode mandá-los, pois vai ser só de manha. À tarde poderão ajudá-lo normalmente".

Foi isso que aconteceu e na próxima segunda feira nós, os três irmãos mais velhos, já estávamos na escolinha e, talvez por isso, estou a delinear essas linhas.

José Pedroso

Josepedroso
Enviado por Josepedroso em 26/06/2009
Reeditado em 28/09/2009
Código do texto: T1668461
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