Objeto de Comércio
Em nossa atual conjuntura, não há jornal que não se reduza à objeto de comércio. A questão, o problema de cada qual, resume-se no aumento da tiragem e na receita dos anúncios mais ou menos estrambóticos.
“Fazer dinheiro”, eis tudo. Por isso e para isso, maquinam-se falsas notícias, que desmentem-se logo tranquila e imediatamente; mina-se a todo instante a segurança do Espaço, mascara-se a verdade, atribuindo-se aos sábios falsos conceitos; calunia-se atrevidamente, semeiam-se escândalos, mentiras, arrazoam-se assassínios e ladroeiras, multiplicam-se os crimes por sugestão, dão-se fórmulas de explosivos recentemente imaginados, envenenando os próprios leitores e traindo todas as classes sociais num só intuito de sobre-excitar a curiosidade pública e “vender a folha”. Nada mais que negócios e reclames. Ciências, Arte, Literatura, Filosofia, Estudos e Pesquisas, nada mais interessa...
Um ator de segunda ordem, uma atriz obscura, um tenor, uma cantora, um ginasta, um corredor, um andarilho, um atleta, sobretudo um bandido da pior espécie, podem, de um dia para outro, tornar-se mais célebre que o mais eminente dos sábios, ou o mais benemérito dos inventores. Publicam-se retratos dos mais fortes corredores, como dos mais ilustres patifes e assassinos, e às vezes, dão-se ao trabalho de mascarar essa bestice com floreios patrióticos, que ridiculamente, os valorizam um tantinho mais...
Essa informação rabugenta, definha a mente, castra o indivíduo, impede-lhe de olhar para os lados e caminhar para frente...