"O HOMEM NOVO E O HOMEM VELHO"
Ele tinha uma horta em seu estômago esquerdo, onde criava curiós. Sempre que podia plantava uma alface no esôfago, regada a uísque com água mineral sem gás. Alimentado com os sonhos coloridos de uma noite ou outra e os pesadelos invernais no inferno de todas as noites, ele passeava suas frustrações no sol do Natal.
Um dia pendurou o curió estomacal na parede de uma firma de negócios escusos. Cercaram-lhe o pássaro com dizeres acintosos. Só porque o curió não cantava, nem se mexia. Só porque vez por outra, em vez de alpiste, ele lhe dava pó-de-arroz. Arroz da melhor qualidade, pó-de-arroz da melhor tradição, curió cujos antepassados foram enormes corvos antediluvianos.
O tempo passou e surgiram-lhe nos sapatos latidos de cães amestrados. No estômago direito continuava mudo o curió e no estômago esquerdo o mudo continuava curió. No do centro fluíam os mais diversos “não entendo”, “não entendo” imediatamente seguidos pelos “não-sei-não”.
Mas realmente, quando o tempo chegou, os olhos meridionais deste homem que regava seu pé de alface com uísque aguado, não pararam de chorar uma mágoa antiga. Ele se esquecera de viver e não havia mais tempo para reviver.
Durante sua vida sob tijolos e nuvens de gás letal, pensara ser apenas um homem como os outros. Agora descobria ser muito mais que um homem. Era único. Seu ponto de vista jamais poderia ser partilhado por mais próxima que lhe estivesse a amante. Sua opinião não seria compreendida por ninguém que nele não acreditasse, porque ninguém viveu-lhe a vida para saber fruto de que nasciam as opiniões.
O seu pé de alface, depois de morto ele próprio, alimentou o curió mudo ainda por dias e dias. Até que surgisse o homem novo. Deus disse que seu filho só seria plenamente aceito pelo homem novo, que o velho não tinha olhos para ver nem ouvidos para ouvir.
O homem novo, herdeiro do curió mudo e do pé de alface, desde seu nascimento, sempre soube ver com os olhos e ouvir com os ouvidos. Uma aberração da natureza. Mas que fazer? Era o homem novo. Seus olhos viam, e seu interior ficava iluminado. O curió gostou da alegria que entrava em sua gaiola do estômago do centro. Cantou e sorriu.
O homem novo, mesmo com alface regada a uísque aguado e com três estômagos, não era o homem velho. O curió cantava. Os olhos viam. Os ouvidos ouviam. As mãos lutavam. O cérebro compreendia. O coração perdoava. Um dia, quase sem querer, se encontrou com Deus. Eles se entendiam muito bem. Ambos tinha olhos para ver e ouvidos para ouvir. A única diferença era que Deus não tinha um curió que cantava. Não precisava, tá certo. Mas tinha. Só por isso o Homem Novo olhou pra Deus e entendeu o sentido das palavras, dos gestos, dos atos e da vida. Quando ele contou isso para o vizinho, ninguém acreditou. Não é de acreditar assim sem mais nem menos. É preciso fazer o curió cantar.
Ele tinha uma horta em seu estômago esquerdo, onde criava curiós. Sempre que podia plantava uma alface no esôfago, regada a uísque com água mineral sem gás. Alimentado com os sonhos coloridos de uma noite ou outra e os pesadelos invernais no inferno de todas as noites, ele passeava suas frustrações no sol do Natal.
Um dia pendurou o curió estomacal na parede de uma firma de negócios escusos. Cercaram-lhe o pássaro com dizeres acintosos. Só porque o curió não cantava, nem se mexia. Só porque vez por outra, em vez de alpiste, ele lhe dava pó-de-arroz. Arroz da melhor qualidade, pó-de-arroz da melhor tradição, curió cujos antepassados foram enormes corvos antediluvianos.
O tempo passou e surgiram-lhe nos sapatos latidos de cães amestrados. No estômago direito continuava mudo o curió e no estômago esquerdo o mudo continuava curió. No do centro fluíam os mais diversos “não entendo”, “não entendo” imediatamente seguidos pelos “não-sei-não”.
Mas realmente, quando o tempo chegou, os olhos meridionais deste homem que regava seu pé de alface com uísque aguado, não pararam de chorar uma mágoa antiga. Ele se esquecera de viver e não havia mais tempo para reviver.
Durante sua vida sob tijolos e nuvens de gás letal, pensara ser apenas um homem como os outros. Agora descobria ser muito mais que um homem. Era único. Seu ponto de vista jamais poderia ser partilhado por mais próxima que lhe estivesse a amante. Sua opinião não seria compreendida por ninguém que nele não acreditasse, porque ninguém viveu-lhe a vida para saber fruto de que nasciam as opiniões.
O seu pé de alface, depois de morto ele próprio, alimentou o curió mudo ainda por dias e dias. Até que surgisse o homem novo. Deus disse que seu filho só seria plenamente aceito pelo homem novo, que o velho não tinha olhos para ver nem ouvidos para ouvir.
O homem novo, herdeiro do curió mudo e do pé de alface, desde seu nascimento, sempre soube ver com os olhos e ouvir com os ouvidos. Uma aberração da natureza. Mas que fazer? Era o homem novo. Seus olhos viam, e seu interior ficava iluminado. O curió gostou da alegria que entrava em sua gaiola do estômago do centro. Cantou e sorriu.
O homem novo, mesmo com alface regada a uísque aguado e com três estômagos, não era o homem velho. O curió cantava. Os olhos viam. Os ouvidos ouviam. As mãos lutavam. O cérebro compreendia. O coração perdoava. Um dia, quase sem querer, se encontrou com Deus. Eles se entendiam muito bem. Ambos tinha olhos para ver e ouvidos para ouvir. A única diferença era que Deus não tinha um curió que cantava. Não precisava, tá certo. Mas tinha. Só por isso o Homem Novo olhou pra Deus e entendeu o sentido das palavras, dos gestos, dos atos e da vida. Quando ele contou isso para o vizinho, ninguém acreditou. Não é de acreditar assim sem mais nem menos. É preciso fazer o curió cantar.