Sindicalismo de araque
Ora os sindicatos se apresentam como resposta às necessidades de organização grupal, ora como centro de apoio para decisões travestidas de patrões/empregadores/empresas que mantêm capachos e bajuladores na direção das instituições. Pela omissão, também contrariam os interesses dos trabalhadores.
Durante a ditadura militar (1964-1985), os sindicatos desempenharam importante papel na luta pela redemocratização. Nos anos do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), organizaram marchas gigantescas em capitais ou grandes centros ou rumo à Brasília, reivindicando melhores salários e condições de trabalho.
Quem não se lembra da cavalaria da Polícia Militar lançando bombas nos professores que, em passeata, protestavam pacificamente na Avenida Paulista contra o arrocho salarial do governador Mario Covas? Quem esqueceu dos discursos de Lula? Em prol de grevistas, quando candidato, e contra os trabalhadores, depois de eleito presidente?
Os rumos do sindicalismo se perderam: milhões colaboram anual ou mensalmente com mensalidades que servem para tudo, menos para defender seus interesses. Daí, as demissões em massa nos últimos meses respaldadas por sindicatos que deveriam defender a dignidade de seus sindicalizados e simplesmente silenciaram.
O sindicalismo glorioso do passado se transformou num sindicalismo de araque em que bajuladores e assessores valem-se de seus cargos não para garantir o trabalho das pessoas, mas para obterem vantagens pessoais, ampliando seus patrimônios, promovendo a mazela da condição laboral e desaguando naquilo a que o jurista e filósofo Bobbio alcunhou de privatização do público, que significa “(...) a revanche dos interesses privados através da formação dos grandes grupos que se servem dos aparatos públicos para o alcance dos próprios objetivos”. (“Estado Governo Sociedade”: 1999, p. 27)
Embora a maioria esqueça dos interesses coletivos – principalmente os que misturam interesses sindicais e políticos e, com suas negociatas, prejudicam descaradamente o trabalhador – ainda podemos contar com sindicalistas corajosos, que não se acovardam, não se vendem e nem deixam os interesses pessoais se sobreporem aos anseios do grupo.
Nesse seleto grupo de sindicatos e sindicalistas comprometidos, podemos incluir alguns nomes. Um deles é o sindicato dos comerciários de Assis, cuja diretoria trabalha diuturnamente em prol da classe na região. O sindicalista Zambito, de Cândido Mota, coordenador da mais recente greve em Palmital. Dessa pequena lista não podem faltar o psicólogo José Antônio da Silva e o líder comunitário José Aparecido dos Santos, popular Zeca, diretores do Sindicato dos funcionários públicos municipais de Maracaí que, de maneira corajosa, têm combatido as estratégias questionáveis do governo municipal.
Respondendo a pergunta de um leitor que se disse enganado e apunhalado por seu sindicato, concordo que a configuração sindical atual é lastimável, mas ainda existem líderes sindicalistas de verdade como os acima enumerados.
A exceção deve se tornar regra: o sindicato deve responder aos anseios de seus associados. Você acredita que seu sindicato trabalha por você? Ou, assim como o leitor, você “sabe” que seu sindicato está vendido, enriquecendo diretores fajutos que têm boa vida à custa de suas mensalidades e de seu trabalho?
*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 24 de junho de 2009.