Natália Correia - à frente do seu tempo...

Nasceu a 13 de Setembro de 1913, saiu da ingrata vida a 16 de Março de 1993

“Será preciso passar uma década sobre a minha morte para começarem a compreender o que escrevi.

Sei-o porque o sinto.

E vai ser a partir dos Açores que isso acontecerá”

Natália Correia nasceu adiantada no tempo, para o anunciar, antecipar.

Poetisa, dramaturga, romancista,, ensaísta, deputada, editora, pintora, tradutora, marcou a vida portuguesa, abalou os pés de barro dos deuses que atabafavam a cultura portuguesa.

Concebia, à semelhança de Teixeira de Pascoaes, “ a poesia como uma profecia” e o “poeta como um profeta”

Na sua obra, celebra o ser humano como “andrógino” (recordemos o vocábulo que inventou, “Mátria”); o ser completo; uno e plural.

O Desejado, o que contém a esperança e a resistência.

Pedro e Inês, símbolos da paixão, da volúpia pela morte.

Da Ilha, espaço do sagrado, da esfinge, da iniciação.

Bate-se pela recuperação do excelso, do politeísmo, do feminismo, do barroco, do diferente.

E pelo repúdio da crucificação, da massificação, do descontrolo demográfico... numa terra onde se morria de fome.

“Como atingir a paz com os olhos postos num só deus, se as guerras são fornecidas pela nossa fé na vitória sobre a fé dos outros?”, interrogava, interrogava-se.

A participação política foi-lhe, desde muito cedo, uma constante.

Introduzida nos círculos da Oposição (fase em que foi jornalista), depressa se destacou na luta contra a Ditadura, apoiando as campanhas de Norton de Matos e de Humberto Delgado.

Após a Revolução dos Cravos, aceita ser deputada independente.

“Fui deputada porque me pediram para introduzir o discurso cultural no Parlamento”

Utilizando como ninguém a riquíssima tradição cultural de escárnio e maldizer da nossa poesia.

As causas, as pessoas do coração e do sonho, da fé, tinham-na do seu lado; as causas, as pessoas da manipulação, do utilitarismo, da serventia, conheciam-lhe a cólera, o chiste, a indignação... que fazia penetrar com mestria e elegância

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“Não me mato

Antes me zango

Até ficar um cato

Quem me tocar, maldito

Que se pique”

Glória te seja dada, Natália Correia, agora e sempre... enfim!

Maria Petronilho