Mossoró é tão somente uma cidade junina?
Um caso a se pensar! Se há realmente validade em Mossoró ganhar o título ou então alcunha de cidade junina, como muitos preferem chamá-la. E em breves palavras mostraremos os motivos para esse momento de dúvida e reflexão. Vejam bem por que isso nos aflige. E vocês nos dirão se Mossoró é ou não uma cidade, genuinamente, junina.
É certo que fazemos um dos maiores arraiais do Brasil. A cidade fica lotada de turistas, tem um aquecimento na economia local, a polícia realmente funciona (pelo menos na área onde se concentram os eventos), mostra-se aparelhada; câmeras de segurança, detector de metal, viaturas, cavalaria, uma segurança atuante e ostensiva. E assim é alardeado além fronteiras o desenvolvimento da cidade de Mossoró. Isso sem dúvidas é bom para o fortalecimento das potencialidades da urbe amada por todos nós. “A Mossoró da gente”. E assim fica mais fácil dizer “eu adoro Mossoró”.
É muito bom andar pela cidade e perceber que ela está tendo sua malha viária recapiada. Perceber a cidade toda enfeitada, os arraiais nas praças espalhando alegria por toda a cidade. Isso dá orgulho em ser mossoroense. Compreender que nosso povo revive nossas tradições. É muita coisa bonita: Festival de quadrilhas, show de humor, Festival de repentes, que nos faz valorizar essa arte porque durante a maioria do tempo é desvalorizada ou até colocada como uma manifestação de ausência intelectual. Pode acreditar que há quem pense isso da poesia de repente, não sabem que o repente e a literatura de cordel são formas de comunicação das mais antigas e serviam, justamente, para divulgar os acontecidos para a comunidade.
Realmente Mossoró é uma cidade junina, é neste mês de junho que podemos apreciar a diversidade artística, o lazer e o entretenimento manifestando-se de uma forma grandiosa, entre essas a corrida de jegue, o espetáculo Chuva de bala no país de Mossoró, festival de penteado junino, cinema na roça... ah! Saudades! Sim, Saudades. É em junho que podemos ter acesso, quase todos os dias, à sétima arte. O cinema na roça devolve-nos um pouco a alegria de irmos ao cinema. Pena que lá não tem os filmes que são lançados a cada mês no mercado. Somente aqueles que ficaram na história.
Tem muito mais. Cantos para todos os gostos (cantos aqui vale tanto para músicas quanto para lugares, “pelos cantos da cidade... ia chorando seus amores”), a cidadela que toca entre outros a MPB , o circo do forró com o tradicional pé de serra ou a estação com shows de cantores locais e outros de expressão nacional. É assim mesmo como dizemos, cantos para todos os gostos e “cada um no seu quadrado”. Ao que parece essa divisão é de caso pensado, quem passou por eles vai-nos entender. E viva a diversidade! Por falar nisso, tem também o pau de arara elétrico.
Para quem está cansado e não quer sair a pé por aí visitando esses lugares tem o burro táxi, ou o trenzinho da alegria, mas também se o sujeito for tinhoso, um verdadeiro cabra da peste vai a pé seguindo o comboio junino, e não se preocupe se der uma tonteira, você está numa cidade junina, e nesse mês tudo funciona até o SAMU.
Parece à primeira vista que estamos desdenhando de todos os esforços em fazer do evento denominado Mossoró Cidade Junina um dos maiores eventos do seguimento em todo o país. Isso não é verdade. Mossoró realmente merece um evento desse porte, é alegria para a população tão carente de entretenimento, mesmo porque nossas praças a cada dia são mais frequentadas pelos meliantes do que pelo cidadão de bem, pelas famílias, ou pelos casais enamorados, esses ficam encarcerados em seus lares receosos de enfrentar a violência que assola o município.
Mossoró só tem a ganhar com esses investimentos na cultura que refletem de forma positiva em nossa economia, principalmente, a economia informal, que dela depende a sobrevivência de muitas famílias, marginalizadas pela falta de oportunidades no mercado de trabalho formal.
Não senhores. Não somos contra o crescimento da nossa cidade, não somos contra a publicidade que fazem da nossa urbe amada, mesmo que ela venha através de humoristas pagos para aqui fazer chacota dos nossos conterrâneos. Essa alegria é marca registrada do brasileiro, nós rimos de nossas desgraças e isso é salutar, deixa a vida mais alegre. O que somos contra, caros amigos, e tememos que seja uma regra, é que passe a ocorrer investimentos apenas em decorrência de eventos como o Auto da liberdade ou Mossoró cidade junina.
Não queremos Mossoró conhecida apenas como a cidade dos grandes eventos. Queremos sim, que ela seja conhecida além fronteiras como uma cidade que valoriza tanto o passado quanto o presente, e o futuro do seu povo contanto que daqui em diante seja a cidade das grandes oportunidades, para que o povo tenha acesso ao mercado de trabalho e aos bancos universitários, ao teatro, ao cinema, aos esportes, durante todo o ano, a fim de que o cidade junina não seja um termo pejorativo para além Mossoró, visto que os serviços públicos de lazer, de segurança funcionam muito bem no mês de junho ou quando houver grandes eventos.
Desejamos esses mesmos cuidados e zelos em nossos bairros!