QUANDO AS ESCOLAS VIRAM UMA FESTA!...
Que me perdoem educadores, pedagogos e professores... ah! E pais também! Partidários desta corrente atual de que "festas na escola são importantíssimas para as crianças, porque o mundo em que vivem hoje é outro, e elas têm que se socializar, e blá-blá, blá, blá..." Mas faz tempo venho assando esta batata! E olha que o Colégio onde estuda a minha menorzinha, relativamente ao ensino Fundamental, é passável. Mas não vou aqui mencionar a Instituição, devido a este artigo ser meramente discursivo, de modo que com ele não pretendo travar nenhuma batalha educacional ou pedagógica! Até por reputar tal iniciativa inútil. Mas é que, em relação a este fim de semana, minha paciência se esgotou!
Amigos, o caso é o seguinte, e quem tem filhos vai conhecer a minha linguagem: frequento as festinhas de escola! Aquela infinidade de festinhas! Todo santo ano! Dia das mães; Festa da Primavera; Feira Cultural; Dia dos Pais; Festas Juninas; Olimpíadas! Todo ano! Mas tenha a santa paciência!...
Venho reparando: estas festinhas bombam! Mas há pais com sono; pais alheios; pais de cara feia; pais batendo boca; pais curtindo; pais fotografando - e filhos dançando com sono; filhos dançando alheios; filhos dançando de cara feia... uma mesmice, profundamente melancólica - isenta de vivacidade; de calor humano; de presença, de corpo e de alma!
Felizmente os comentários aqui tecidos resultam de observações realizadas não somente por mim. Já ouvi queixas neste sentido de muitos outros pais e mães. O que me empresta a certeza de que não sou maluca ou desajustada às realidades dos tempos em que vivemos. O caso é que outros também reclamam da mesma coisa. Então, onde há rastilho, há fogo!
O que quero dizer é que há festas demais! E, na maior parte das vezes, em se analisando friamente, qualidade de ensino de menos!...
Mas este fim de semana foi clássico. Foi o estopim!
O estopim! Após tantos anos sendo entubada com esta xaropada de que devemos ir, sim, a todas as festas, no caso também às festas juninas organizadas pela escola justo no sábado, no fim de semana - claro! - justo quando pais e mães que trabalham fora e dão duro o ano todo precisam, em muitas ocasiões, e desesperadamente, descansar! Por mais tenhamos nos comprometido com o bendito canhoto assinado na agenda, com o comparecimento da criança em não sei quantas danças, e respectivas presenças da mãe, do pai, do irmão, da avó, para prestigiar o filho ou filha... pois afinal é importante para a criança, como reza o mito, - o chavão exaustivamente sabatinado entra ano e sai ano nas cabeças de alunos e de pais e responsáveis, nas reuniões principais do ano letivo!
Então, como se pedia, e embora exausta de toda uma semana de trabalho, refratária mesmo a colocar os pés para fora de casa neste sábado, - e como meu marido, vindo de São Paulo especialmente para a tal festa junina em horário mais cedo que o usual, visto que trabalha fora do Rio a semana toda, não tivesse conseguido chegar a tempo no tal horário marcado, às dez da manhã, por mais tentasse - apesar de tudo, arrumei minha filha, tomei fôlego, me recriminei algumas boas vezes pelo meu monstruoso egoísmo, teimando contra meu cansaço que fazer o contrário seria bancar a megera para com a minha menina entusiasmada com o mesmo evento de todos os anos... e fui! Arredei-me para o tal colégio, consentindo comigo mesma que, tão logo chegasse meu marido, passaria a incumbência. E lá demos entrada, pontualmente, às dez da manhã!...
Para constatar que, em toda a extensão da escola já ornamentada, só havia naquele momento três almas penadas: eu, e meus dois filhos!
Solidária, a avó, minha mãe, chegou pouco depois. Teve que aguentar meu mau humor. Porque já estava irritada com o fato de mais uma vez a escola informar errado o horário da dança das crianças para forçar os responsáveis a prestigiar desde o início uma festa que, fossem oferecidos os horários corretos das apresentações de todas as turmas, não bombaria, de si, tanto assim. Segundo, pelo atraso de meu marido que me cheirou, num primeiro momento, a caô, já que com a sua promessa de que iria não contava, de modo algum neste sábado, ir parar, neste ano, no colégio para assistir às mesmas danças de quadrilha de um monte de turmas dos dois turnos, e de crianças de incontáveis idades, desde o maternal que, vá lá, são umas gracinhas! Mas que não estava com vontade nenhuma de assistir!
E, pior: apesar das caras de horror suportadas da avó, da filha, depois do pai, não consigo me recriminar por, num único ano, querer ficar em casa sem ser considerada mãe desnaturada, pelo meu cansaço de fim de semana estar me cobrando do corpo: pelo amor de Deus, fique no sofá! Recuso-me terminantemente, aliás, a admitir que o seja! E aqui, disso tudo, ficam algumas considerações.
Lembro que, no meu antigo primário, participei, no bom colégio público que frequentava, de umas duas festinhas juninas nas quais dancei alegremente as quadrilhas. Curti. Minha saudosa avó paterna fez a roupinha caipira, minha mãe me maquiou, foram todos, meu pai fotografou. Lembro de outras deliciosas festinhas juninas realizadas na vila onde morava no subúrbio do Rio: um regalo! Um bando de crianças o dia todo colando as bandeirinhas coloridas, os balõezinhos japoneses decorados cuja bucha só os impulsionava quatro metros para cima e para adiante, até cairem logo à frente; as delícias oferecidas por cada uma das nossas vizinhas, bolos, canjicas, cocadas... Festinhas juninas pequenas, de rua, com músicas de festinhas juninas, nas noites frias de junho!
Um regalo! Porque eram festinhas voluntárias, ocasionais, realizadas por prazer e por vontade por várias pessoas em comum acordo, na dimensão devida para a ocasião! Diferente do modo como acontecem nos dias de hoje! Festas juninas, festas das mães, dos pais, e tantas outras mais, se tornaram obrigações quase tão cacêtes quanto o ter que se passar de ano e tirar notas altas nas provas! Pais faltosos são vistos e comentados de esguelha. Noutro dia mesmo, uma senhorinha daquelas que adora um ambiente de escola por falta de coisa melhor para fazer em casa comentou com a minha mãe, o olhar carregado de indignado tom acusatório: a senhora deveria trazer sempre a menina! É importante para ela!...
Comentei na época que, fosse comigo a censura enxerida, teria respondido na bucha: "minha senhora, importante porque isto foi metido como lavagem cerebral nas mentes de alunos e de pais! Importante porque há uma tendência perigosa hoje em dia de se querer compensar e enganar deficiências educacionais graves com este tipo de fogos de artifício! E todo mundo cai nessa como vaquinhas de presépio, como tolos!..."
Importante é qualidade de ensino; valorização de professores, de ferramentas pedagógicas e de conteúdo programático! E não uma sucessão altamente aborrecida de festas, umas atrás das outras, que a qualquer um que disponha do devido senso crítico comparecem claramente como uma baita peneira com a qual se tenta tapar o sol - no caso, a falência do ensino, em dias nos quais o aluno aprende estranhamente em materiais pedagógicos de qualidade francamente sofrível, e repleto de erros crassos, pegos com facilidade em casa pelos pais em repetidas vezes nas quais acompanham os deveres de casa dos pequenos; em tempos nos quais as crianças são adestradas como cãezinhos de espetáculos, desde a mais tenra idade, a se apresentarem em dancinhas ensaiadas para festas em ginásios, muita vez contrariando despoticamente uma natureza tímida ou um natural retraimento, que deveria ser solenemente respeitado - em contrapartida a uma metodologia de ensino esquisita, cujo resultado unânime, lastimável, vêm sendo, ao final de tudo, candidatos a médicos e a advogados nos vestibulares do país que mal sabem redigir um só parágrafo nos testes de redação sem erros escabrosos de português!...
Então - festas, apresentações artísticas e esportivas, trabalhos artesanais, passeios demais... e aprendizado, que é bom, de menos!
Meus caros: podem me reputar chata, antiquada, incompreensiva, o que for! Mas, pagando quinhentos reais de mensalidade escolar ao mês, preferiria mil vezes menos festas impositivas, e mais apuro cultural, neste como noutros estabelecimentos de ensino... É disso que nossos filhos precisam... levando em conta que bem poucas chances há de que minha filha pequena, amanhã ou depois, vá ganhar a vida dignamente dançando quadrilhas ou se apresentando em peças teatrais!
Com os meus respeitos...
Que me perdoem educadores, pedagogos e professores... ah! E pais também! Partidários desta corrente atual de que "festas na escola são importantíssimas para as crianças, porque o mundo em que vivem hoje é outro, e elas têm que se socializar, e blá-blá, blá, blá..." Mas faz tempo venho assando esta batata! E olha que o Colégio onde estuda a minha menorzinha, relativamente ao ensino Fundamental, é passável. Mas não vou aqui mencionar a Instituição, devido a este artigo ser meramente discursivo, de modo que com ele não pretendo travar nenhuma batalha educacional ou pedagógica! Até por reputar tal iniciativa inútil. Mas é que, em relação a este fim de semana, minha paciência se esgotou!
Amigos, o caso é o seguinte, e quem tem filhos vai conhecer a minha linguagem: frequento as festinhas de escola! Aquela infinidade de festinhas! Todo santo ano! Dia das mães; Festa da Primavera; Feira Cultural; Dia dos Pais; Festas Juninas; Olimpíadas! Todo ano! Mas tenha a santa paciência!...
Venho reparando: estas festinhas bombam! Mas há pais com sono; pais alheios; pais de cara feia; pais batendo boca; pais curtindo; pais fotografando - e filhos dançando com sono; filhos dançando alheios; filhos dançando de cara feia... uma mesmice, profundamente melancólica - isenta de vivacidade; de calor humano; de presença, de corpo e de alma!
Felizmente os comentários aqui tecidos resultam de observações realizadas não somente por mim. Já ouvi queixas neste sentido de muitos outros pais e mães. O que me empresta a certeza de que não sou maluca ou desajustada às realidades dos tempos em que vivemos. O caso é que outros também reclamam da mesma coisa. Então, onde há rastilho, há fogo!
O que quero dizer é que há festas demais! E, na maior parte das vezes, em se analisando friamente, qualidade de ensino de menos!...
Mas este fim de semana foi clássico. Foi o estopim!
O estopim! Após tantos anos sendo entubada com esta xaropada de que devemos ir, sim, a todas as festas, no caso também às festas juninas organizadas pela escola justo no sábado, no fim de semana - claro! - justo quando pais e mães que trabalham fora e dão duro o ano todo precisam, em muitas ocasiões, e desesperadamente, descansar! Por mais tenhamos nos comprometido com o bendito canhoto assinado na agenda, com o comparecimento da criança em não sei quantas danças, e respectivas presenças da mãe, do pai, do irmão, da avó, para prestigiar o filho ou filha... pois afinal é importante para a criança, como reza o mito, - o chavão exaustivamente sabatinado entra ano e sai ano nas cabeças de alunos e de pais e responsáveis, nas reuniões principais do ano letivo!
Então, como se pedia, e embora exausta de toda uma semana de trabalho, refratária mesmo a colocar os pés para fora de casa neste sábado, - e como meu marido, vindo de São Paulo especialmente para a tal festa junina em horário mais cedo que o usual, visto que trabalha fora do Rio a semana toda, não tivesse conseguido chegar a tempo no tal horário marcado, às dez da manhã, por mais tentasse - apesar de tudo, arrumei minha filha, tomei fôlego, me recriminei algumas boas vezes pelo meu monstruoso egoísmo, teimando contra meu cansaço que fazer o contrário seria bancar a megera para com a minha menina entusiasmada com o mesmo evento de todos os anos... e fui! Arredei-me para o tal colégio, consentindo comigo mesma que, tão logo chegasse meu marido, passaria a incumbência. E lá demos entrada, pontualmente, às dez da manhã!...
Para constatar que, em toda a extensão da escola já ornamentada, só havia naquele momento três almas penadas: eu, e meus dois filhos!
Solidária, a avó, minha mãe, chegou pouco depois. Teve que aguentar meu mau humor. Porque já estava irritada com o fato de mais uma vez a escola informar errado o horário da dança das crianças para forçar os responsáveis a prestigiar desde o início uma festa que, fossem oferecidos os horários corretos das apresentações de todas as turmas, não bombaria, de si, tanto assim. Segundo, pelo atraso de meu marido que me cheirou, num primeiro momento, a caô, já que com a sua promessa de que iria não contava, de modo algum neste sábado, ir parar, neste ano, no colégio para assistir às mesmas danças de quadrilha de um monte de turmas dos dois turnos, e de crianças de incontáveis idades, desde o maternal que, vá lá, são umas gracinhas! Mas que não estava com vontade nenhuma de assistir!
E, pior: apesar das caras de horror suportadas da avó, da filha, depois do pai, não consigo me recriminar por, num único ano, querer ficar em casa sem ser considerada mãe desnaturada, pelo meu cansaço de fim de semana estar me cobrando do corpo: pelo amor de Deus, fique no sofá! Recuso-me terminantemente, aliás, a admitir que o seja! E aqui, disso tudo, ficam algumas considerações.
Lembro que, no meu antigo primário, participei, no bom colégio público que frequentava, de umas duas festinhas juninas nas quais dancei alegremente as quadrilhas. Curti. Minha saudosa avó paterna fez a roupinha caipira, minha mãe me maquiou, foram todos, meu pai fotografou. Lembro de outras deliciosas festinhas juninas realizadas na vila onde morava no subúrbio do Rio: um regalo! Um bando de crianças o dia todo colando as bandeirinhas coloridas, os balõezinhos japoneses decorados cuja bucha só os impulsionava quatro metros para cima e para adiante, até cairem logo à frente; as delícias oferecidas por cada uma das nossas vizinhas, bolos, canjicas, cocadas... Festinhas juninas pequenas, de rua, com músicas de festinhas juninas, nas noites frias de junho!
Um regalo! Porque eram festinhas voluntárias, ocasionais, realizadas por prazer e por vontade por várias pessoas em comum acordo, na dimensão devida para a ocasião! Diferente do modo como acontecem nos dias de hoje! Festas juninas, festas das mães, dos pais, e tantas outras mais, se tornaram obrigações quase tão cacêtes quanto o ter que se passar de ano e tirar notas altas nas provas! Pais faltosos são vistos e comentados de esguelha. Noutro dia mesmo, uma senhorinha daquelas que adora um ambiente de escola por falta de coisa melhor para fazer em casa comentou com a minha mãe, o olhar carregado de indignado tom acusatório: a senhora deveria trazer sempre a menina! É importante para ela!...
Comentei na época que, fosse comigo a censura enxerida, teria respondido na bucha: "minha senhora, importante porque isto foi metido como lavagem cerebral nas mentes de alunos e de pais! Importante porque há uma tendência perigosa hoje em dia de se querer compensar e enganar deficiências educacionais graves com este tipo de fogos de artifício! E todo mundo cai nessa como vaquinhas de presépio, como tolos!..."
Importante é qualidade de ensino; valorização de professores, de ferramentas pedagógicas e de conteúdo programático! E não uma sucessão altamente aborrecida de festas, umas atrás das outras, que a qualquer um que disponha do devido senso crítico comparecem claramente como uma baita peneira com a qual se tenta tapar o sol - no caso, a falência do ensino, em dias nos quais o aluno aprende estranhamente em materiais pedagógicos de qualidade francamente sofrível, e repleto de erros crassos, pegos com facilidade em casa pelos pais em repetidas vezes nas quais acompanham os deveres de casa dos pequenos; em tempos nos quais as crianças são adestradas como cãezinhos de espetáculos, desde a mais tenra idade, a se apresentarem em dancinhas ensaiadas para festas em ginásios, muita vez contrariando despoticamente uma natureza tímida ou um natural retraimento, que deveria ser solenemente respeitado - em contrapartida a uma metodologia de ensino esquisita, cujo resultado unânime, lastimável, vêm sendo, ao final de tudo, candidatos a médicos e a advogados nos vestibulares do país que mal sabem redigir um só parágrafo nos testes de redação sem erros escabrosos de português!...
Então - festas, apresentações artísticas e esportivas, trabalhos artesanais, passeios demais... e aprendizado, que é bom, de menos!
Meus caros: podem me reputar chata, antiquada, incompreensiva, o que for! Mas, pagando quinhentos reais de mensalidade escolar ao mês, preferiria mil vezes menos festas impositivas, e mais apuro cultural, neste como noutros estabelecimentos de ensino... É disso que nossos filhos precisam... levando em conta que bem poucas chances há de que minha filha pequena, amanhã ou depois, vá ganhar a vida dignamente dançando quadrilhas ou se apresentando em peças teatrais!
Com os meus respeitos...