EU NORDESTE

EU NORDESTE!

Ao largo de onde eu vejo estrelas cintilantes que ainda ousam brilhar ante o clarão vermelho do sol de maio que rompe as trevas mostrando toda a sua beleza de um horizonte de céu, mar, elevações montanhoso e campos floridos. É que as águas baixaram, as chuvas deram trégua deixando para traz o que restou da sociedade dos humanos que pela eterna desobediência à natureza mãe, sofrem intermitentemente as amarguras da desolação e do abandono... O crepitar das ondas cintilam cristais multicoloridos ante a pujança do sol que se espalha por toda a terra como se anunciasse: é hora de reconstruir... A minha voz solta, grave e alegre ecoa como se eu gritasse em um túnel, ela retumba sonora mais ninguém a ouve, é como se todos dormissem o sono eterno das paixões de amores não correspondidos e sonhassem com alcovas jamais vistas e banquetes com manjares nunca provado...

Para muitos que nunca sequer souberam o que é o requinte do conforto e se espremem nos alojamentos apertados e matam a fome com as doações vindas de todos os lados, vestem roupas usadas e de tamanho desigual e circulam de cabeça baixa pelos arredores, eles são quase que estacionários, porém, seus pensamentos viajam pelo mundo da imaginação, navegam por mares incertos e sempre aportam na preocupação constante com a mesma preocupação: onde e quando recomeçar...

Na realidade, nós estamos quase sempre recomeçando. Já enfrentamos grandes dilúvios desde a Arca de Noé que seqüencialmente as enchentes nos faz lembrar o quanto somos vulneráveis somos e, não conseguimos controlar os próprios impulsos, como o faríamos com as intempéries que se formam no tempo e que desconhecemos as suas causas, razões...

O tempo é quase sempre o mesmo, às vezes uma grande calmaria, noutra assusta-nos com grandes temporais e borrascas, ele sempre vai, nunca vem e cada vez mais nos aproxima da morte.

As excentricidades das parcimônias sociais regam mudanças comportamentais de uma década, um século... Mais ele é implacável sempre. Sua rota, velocidade constante e destino. Ele constrói, também destrói, inova, reserva, conspira, resolve, envolve, é mocinho e vilão, às vezes maltrata, ensina, fere e mata. Assim é o nosso velho mundo e nós tivemos que suportar mais essa entre o clamor de muitas almas e o silencio dos inocentes eis que surge sobre as caatingas do sertão alagado o nosso bravo Nordestino gritando, VAMOS LÁ OXENTE que é hora de reconstruir.