OS NOVOS MESTRES
 
Conversando com meu professor de Literatura Portuguesa, perguntei-lhe se não houve inovação na literatura desde a 3.ª Geração Modernista. Respondeu-me que sim. O poema processo, os textos concretos – com colagens e outras figuras – dentre outros. Agora, vendo alguns colegas de escrita do Recanto das Letras, selecionei os mais expressivos autores que tem muito a oferecerem ao futuro da Literatura Brasileira. Isso não quer dizer que, se por um acaso, eu não citar um ou outro, esse não faz parte do processo da escrita. Não farei análise de figuras de linguagem – senão casualmente – citarei apenas o estilo e inovação – ou não de cada um. 

MARCOS LOURES
– é o poeta dos poetas. Como mesmo se intitula um grande repentista. É completo em tudo falando: Na escolha das palavras, fluência verbal, cadência rítmica, musicalidade, metáforas, lirismo. Na verdade, é um fenômeno literário. Merece o reconhecimento e todas as homenagens.

ARÃO FILHO
– é poeta que escreve com o coração. Apesar de dizer que “precisa” de inspiração, vê-se que é apenas uma brincadeira. Ao lê-lo, percebe-se um vernáculo escolhido, umas figuras de linguagem que enriquecem seus poemas. Nota-se o grande lirismo – um estilo à Manuel Bandeira – original e comovente, não é, à toa, que é o poeta do Coração.

XAMA
– pseudônimo de SÔNIA SANTOS, verdadeira rainha dos textos riquíssimos em metáforas  e carregados de um erotismo intenso – sem  ser vulgar –, há uma ânsia em ser feliz e em amar perdidamente. Bem ao contrário de Florbela Espanca. Encanta e fascina em seus versos de pura magia e sedução. Neles, o eu lírico demonstra-se ser o próprio Verso, onde o eu é – também – a Xama – um pseudônimo –, metáfora da chama que arde ao peito da poetisa.

ZÉLIA NICOLODI
– com versos, leves, saudosistas, crepusculares, musicais, lembrando Cecília Meireles, Zélia traz, além de versatilidade e harmonia – uma vibração mística – simbolista – que  irradia em seus poemas. Lê-los é como contemplar Cruz e Souza. Onde luz, desejo, erotismo, esperanças, saudades, dançam no versar da poetisa.

MILLA PEREIRA
– em verso e prosa, a cada escrita se renova. Nos poemas, nota-se reminiscências de Florbela Espanca; porém há um afastamento também. As semelhanças são na intensa fome de amar, na saudade, no desejo do re-encontro, na esperança de uma saudade que, talvez, retornará. Afasta-se também na forma como cada uma encarava a realidade das coisas. Florbela se via fadada em não amar; tão infeliz que o melhor lhe era a morte. Nisso, Milla se afasta, há a dor da ausência, a procura, a saudade, porém, há a esperança de viver.

EDSON GONÇALVES FERREIRA
– um verdadeiro memorialista de Minas Gerais. Um novo Pedro Nava. Seus poemas recordando o aconchego de um colo e um carinho de seus pais. O aroma do campo, as brincadeiras de infância. Trazem uma nostalgia tão profunda que toca a alma. Outra influência em seus versos é Fernando Pessoa, com seu heterônimo Alberto Caieiro. Nos poemas aonde o Deus-menino vem conversar com o poeta. Além da riqueza vocálica, percebe-se a  intertextualidade – tão rica – nesse autor.

DELEY
– pseudônimo de Wanderley Márcio Teixeira – esse o considero um dos mais originais – ao lado de Abílio Henriques. Auto-intitula-se um poeta sem uma classificação. Seu verso, aparentemente, sem metrificação, demonstra-se de uma cadência rítmica incrível, o que lembra Alphonsus de Guimarães. Além disso, há temática social – muito bem utilizada –, de uma arguta visão – aproximando-o de Cesário Verde. Ora o eu-lírico se torna a personagem, ora apenas descreve e observa a cena. Além disso, há o jogo de idéias e palavras, intertextualidades, ironias, desejo e amor.

ABÍLIO HENRIQUES
– poeta português que se aproxima de Deley na originalidade e no jogo de palavras. Porém Abílio utiliza-se do humor. Outro promissor da Literatura de Língua Portuguesa.

JACÓ FILHO
– é junto com Deley, também, um poeta do cotidiano. Adota um versar ao estilo de Cesário Verde, onde “olhe somente a prosa de meus versos”, é um conversar com o leitor de um jeito irônico, que provoca e faz-nos pensar, fora o os versos metafísicos que calam fundo na alma.

AIMBERÊ ENGEL MACEDO
– um poeta que sabe como e o que escreve. Tanto no lirismo quanto no erótico-irônico. O que o aproxima de grandes poetas como Bocage, Gregório de Mattos e de Marquês de Sade, por exemplo. Coisa difícil é escrever textos eróticos com qualidade, poucos conseguem. Esse poeta – assim como Loures – é um dos poucos que acertaram. Dono de uma prosa dinâmica lê-lo é literalmente um prazer. 

 
ZELDA – poetisa portuguesa, como Zélia Nicolodi, escreve de uma maneira leve, cadente e muito musical – como Cecília. Assim, aproxima-se tanto de uma como de outra.

CLÁUDIO CAMARGO MARTINS
– seus textos infantis, em muito falam com os adultos. Consegue – e com muita categoria – falar às duas classes distintas de pessoas. Numa linguagem pueril, sua leitura torna-se algo palatável, como uma criança tomando sorvete num dia de verão. Há os poemas de estilo camonianos também. Concisão, reflexão, cadência, ritmo o torna um grande expoente dos poetas.

MÁRIO ROBERTO GUIMARÃES
– não há outro poeta que escreve temas sobre o amor tão bem como Mário Roberto. Com reminiscências totalmente camonianas, é um dos melhores poetas na área passional. Exímio sonetista, rimas ricas, vernáculos muito bem entremeados e bem escolhidos, um verdadeiro gentleman na poesia.

SAM MORENO
– ao lado de Deley e Ronaldo Rhusso, Sam Moreno pode ser considerado um inovador da poesia. Seus poemas misturam-se aos folclores nacionais, mitologias de vários países, metafísica, transcendentalismo, um poeta atípico. Nas histórias sociais, percebe-se um Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca ou Bukolwisk. Figuras de linguagem exdrúlas, o tornam um estudo à parte.

CYRO MASCARENHAS RODRIGUES
– com seus bucólicos haicais, transporta o leitor a um lugar bem ao gosto Árcade. Em seus textos nota-se o Cape diem, lócus amenus, fugere urban tão ao gosto dos poetas do arcadismo.

HLUNA
– uma das rainhas dos haicais também. Mas fora isso há em seus versos uma nostalgia, uma ardência sensual, uma reflexão crepuscular que ao lê-los, um sentimento de aconchego é que passa.

RONALDO RUSSO
– é, também, uma das grandes promessas literárias. Exímio sonetista. Um verdadeiro engenheiro da poesia. Seus poemas são melódicos, ricos em rimas – inclusive as internas – tornam seus versos de alto nível. Há uma genialidade. Porém – assim como Gigio Jr – esse não se intitula poeta. O que é então?

AMARGO
– pseudônimo de Alessandro Martins Camargo – poeta que prima pelo belo e estético. Altamente parnasiano, seus poemas, sempre bem rimados, cadências perfeitas, dentre outros atributos, são poesia pela poesia. Aproxima-se de Francisca de Júlia e de João Cabral de Mello Neto.

PAULETTO J.A.
– grande prosador. Suas crônicas mais parecem uma conversa como leitor – detalhe que o tornou muito lido. Seus contos levam o leitor à linha de raciocínio e no final acaba sendo inusitado. Cômico, irônico, erótico, revela-se também um poeta promissor. Nas crônicas memorialistas mostra-se um estilo de Érico Veríssimo. Outras horas Alberto Caieiro

PAULO KOSTELLA
– é – ao lado de Pedrinho Goltara – um grande humorista das letras. Porém, mostra grande domínio da escrita também. Poucos escrevem textos humorísticos de um jeito leve e descontraídos como ele.

PEDRINHO GOLTARA
– é outro humorista nas letras, porém inova na uso do linguagem do povo do interior – o que lembra o grande Guimarães Rosa. Seus textos são de muito bom gosto.

MARCO RODRIGUES
– além de músico é excelente poeta. Em seus versos, mostra nostalgia e saudades dos tempos áureos onde não havia tanto descasos e desdém como se mostra nos dias atuais. Uma preocupação como o tempo e passagem da vida. Nota influência de Mário Quintana, onde esses temas eram muito recorrentes ao poeta.

ANA MARIA GAZZANEO
– é o avesso do avesso. Ao mesmo tempo que reinvidica, escreve maravilhosos poemas à Camões. Poucos poetas conseguem essa façanha.  

TERIS HENRIQUE FILHO
– considero-o um Álvares de Azevedo sempre que leio um poema de sua autoria. Um garoto que demonstra uma paixão ao escrever. Os sentimentos são puros e no ardor na juventude. Em muito lembra nosso Byron Brasileiro.

JUCIMAR ESTRELA - poeta, compositor - Jucimar - ao lado de Sam Moreno - é bandeira de nostalgia e inovação. Irônico, observador e polêmico, poucos mostram seu lado mais radical como esse poeta.

Pararei no momento por aqui. Não quero estender-me mais para não ficar muito extenso o texto. Como disse, não fiz análise minuciosa literária, apenas quis mostrar a nova ordem de autores, ou melhor, fundar a Escola “OS NOVOS MESTRES”. Ainda farei um estudo mais apurado desses poetas aqui citado. Sei que farei a segunda parte com outros poetas promissores. Aguardem.

 
19-20/06/09 – ( 01:55)

Gonçalves Reis
Enviado por Gonçalves Reis em 20/06/2009
Reeditado em 20/06/2009
Código do texto: T1657899
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