A LÍNGUA DE SINAIS E A ORGANIZAÇÃO NEURAL: RESENHA DE ARTIGO

DIAS-FERREIRA, ADEMILSON¹

Segundo Rodrigues (1993), quanto à organização geral do cérebro, o mesmo é subdividido em linhas imaginárias em quatro lobos. O autor afirma ainda que as áreas primárias do cérebro são responsáveis pela capitação dos estímulos sensoriais. As áreas secundárias reconhecem os estímulos, entretanto não os nomeiam, pois são apenas conhecidos, ligados exclusivamente a modalidade sensorial. As áreas terciárias (lobos temporal, parietal e occipital), por sua vez, desmistificam as informações recebidas das secundárias, o que permite criar representações de natureza acústica ou visuais para os objetos do mundo, o que ocorre nas línguas, orais e de sinais. O lobo frontal, por sua vez, é responsável pela organização temporoespacial dos movimentos, sendo particularmente importante para os gestos de membros superiores e órgãos fonoarticulatórios, responsáveis pela fala, tanto das línguas de sinais, quanto das orais.

Rodrigues (1993, p. 12) afirma ainda que nas ultimas décadas foram feitos estudos exaustivos quanto à especialização hemisférica cerebral, os quais estabeleceram o seguinte:

a) O hemisfério esquerdo é o principal responsável pelas funções de linguagem dos seres humanos; b) o hemisfério direito é o principal responsável pela análise de estímulos acústicos não linguísticos e por tarefas intelectuais não-verbais ou de tipo construtivo; c) os estudos em indivíduos surdos com lesões cerebrais demonstram que a língua de sinais apresenta uma organização neural semelhante à da língua oral.

Bem como a existência de outras regiões do cérebro que recebem projeções de estímulos acústicos e visuais conjuntamente permitindo uma rápida interação acústico-visual e, nas pesquisas realizadas com animais ensurdecidos cirurgicamente, foram constatado que as estruturas que recebem informações acústicas atrofiam-se e as que recebem informações visuais tornam-se mais nítidas.

Emmorey (1993, p. 25) corrobora com Rodrigues (1993) afirmando que “apesar da modalidade alternativa, existe forte evidência de que os aspectos mais gramaticais das línguas sinalizadas são lateralizados para o hemisfério esquerdo”.

Emmorey (1993, p. 30) pode concluir, através de pesquisas com pessoas com lesões cerebrais que “dano diferencial no hemisfério esquerdo produz prejuízo na língua de sinais que não são uniformes, mas que rompem linhas de componentes linguísticos relevantes”.

Seus estudos comprovaram também que surdos com lesão no hemisfério direito não apresentam afasia de sinais, pois os mesmo produzem sinais fluentes, “virtualmente livre de erros gramaticais e com uma boa gama de complexidade”, Emmorey (1993, p. 31) diz ainda que no exame de diagnóstico de afasia “revelaram capacidade me língua de sinais intactas nos níveis fonológico, morfológico, e sintático”.

Nenhum surdo envolvido na pesquisa de Emmorey (1993, p. 31) com “lesões no hemisfério direito demonstrou evidência de afasia, apesar do fato de suas lesões terem ocorrido em áreas correspondentes no hemisfério direito”. O que comprova que não é a modalidade da linguagem que determina em qual hemisfério se dá o processamento gramatical, e sim a natureza da linguagem.

Emmorey (1993, p. 32) constatou também que os surdos com lesões no hemisfério direito demonstrou “incapazes de manter a configuração global dos blocos e faziam erros espaciais grosseiros”, erros comuns entre surdos e ouvintes. Ele diz ainda que o cérebro parece distinguir as atividades viso-espaciais subjacentes ás representações gramaticais das do processamento não linguísticos. Ou seja, a pessoa surda com lesão no hemisfério direito tem problemas para a localização de objetos e informações não-linguísticas no seu campo visual esquerdo, todavia são capazes de usar e compreender orações, em língua de sinais, neste mesmo campo visual.

Quanto às expressões faciais, foram detectadas diferenças nas expressões emocionais e gramaticais, sendo as primeiras organizadas pelo hemisfério direito enquanto que a outra pelo esquerdo e, novamente, o cérebro se encarrega de organizá-las.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se então que a língua de sinais se organiza da mesma maneira que a linguagem oral, no hemisfério esquerdo; a plasticidade neural contribui para que a perda da audição seja compensada pelo aumento da capacidade visual do surdo, o que a própria natureza, no sentido biológico, se encarrega.

As pessoas com lesão no hemisfério direito tem problemas para a localização de objetos e informações não linguísticas no lado esquerdo, todavia a compreensão da língua, mesmo sendo de sinais, não é comprometida.

Quanto às expressões faciais de emoção elas são organizadas no hemisfério direito e as expressões linguísticas no hemisfério esquerdo e, mesmo o surdo tendo lesão no hemisfério direito nada lhe prejudica nas expressões gramaticais (linguísticas).

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

RODRIGUES, N. Organização neural da linguagem. Em Língua de sinais e educação do surdo. Eds. Moura,M. C.; LODI, a. C. e PEREIRA, M. C. Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. SBNp. São Paulo. 1993.

EMMOREY, K.; BELLUGI, U. & KLIMA, E. Organização neural da língua de sinais. Em Língua de sinais e educação do surdo. Eds. Moura,M. C.; LODI, a. C. e PEREIRA, M. C. Sociedade Brasileira de Neuropsicologia. SBNp. São Paulo. 1993.

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¹ Professor e Intérprete de LIBRAS – PROLIBRAS – MEC/UFSC; Graduando: em LETRAS-LIBRAS – UFSC/UFES; em LETRAS: Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas – UNOPAR; em PEDAGOGIA - FACELI; Vice-presidente da Associação de Profissionais Tradutores/Intérpretes de LIBRAS do Espírito Santo – APILES; Coordenador municipal da Educação de Surdos e dos Cursos de Formação Continuada (Curso Básico de LIBRAS I E II) no município de Linhares; e-mail: ad1000sondias@yahoo.com.br.