Último voto
MEU ÚLTIMO VOTO
Em cinco de outubro de 2008, às 16h30min dei meu último voto obrigatório. Fiquei livre da cangalha, espora e algemas. Saí da senzala. Estou liberto. Agora me sinto um cidadão completo, ou quase. Sei que pensar assim é um absurdo. Votar faz parte da cidadania, mas as manchetes dos jornais e TV mostrando o que ocorre por este Brasil afora causa desalento e revolta. Deixarei de ser avalista obrigatório da gatunagem. Não devo mais satisfação a ninguém. A indignação me domina.
Sempre tive entusiasmo, fé e esperança no futuro do meu país. No entardecer da vida já perdi o entusiasmo e a fé. Estou cansado de promessas de palanque, de prédios suntuosos, de casas legislativas cheias de trapalhões em cargos vitalícios, onde de mordomias muito se discute e de interesse popular quase nada! Ainda espero mudar de opinião, mas acho que não vai dar tempo. Na estrada da vida política parei de caminhar, fui para o acostamento. Fico vendo passar o “oba-oba” do baixo clero deslumbrado com promessas mirabolantes nunca cumpridas. A política atual é um saco sem fundo de negociatas, destrói a honestidade e sepulta a esperança. Doando aos eleitores um dinheirinho minguado retiram a iniciativa do cidadão, constrangendo pelo abuso agressivo no aumento dos próprios salários e deixando para o povo a canjiquinha que o mantém apenas vivo. Isto é democracia de araque! Perderam a noção de limites e de vergonha. Cueca virou cofre, banheiro virou casa de câmbio, a chantagem invade os plenários. Quando a sociedade pensa que já viu tudo em matéria de abuso descobre que a pouca vergonha não tem limites.
Nada é mais perigoso do que um político faminto de poder. Vivenciamos absurdos, mas nossa realidade é maior que o maior dos absurdos. Nosso Congresso virou casa de privilégios, nepotismos e apadrinhamentos. Não representa o povo. Pertence aos congressistas. Senado e Câmara estão completamente desacreditados. Promessas extravagantes de campanha obrigam os eleitos a empregarem os “companheiros” na maioria incompetentes e desnecessários, com dinheiro dos nossos impostos! As portas dos hospitais são o retrato da miséria orgânica e financeira do povo.
Depois da primeira vitória nossos parlamentares querem apodrecer no poder. Seu picadeiro é no plenário, seu velório também. Trazem no bojo a ambição e o ranço dos grotões entranhados em seu DNA. O mandato popular virou emprego disputado a tapa! A defesa dos privilégios está acima dos interesses do povo. Nos escrutínios recorrem ao voto secreto, ou o de “bancada” ou o de legenda, pode escolher. É o voto dirigido, voto de lacaio, voto de tartufos. As decisões importantes são sempre terceirizadas. Tudo é permitido, desde que seja para o bem deles. Lá dentro o toma-lá-dá-cá, as nomeações sem concurso, o nepotismo, multidão de assessores parlamentares que entendem tanto de assessoria quanto eu de bomba atômica, água gelada e cafezinho às ordens. Aqui fora o povo mendigando às portas da opulência, a angústia dos velhos aposentados e dos professores achincalhados, explorados e subjugados, que trabalham semanalmente no mínimo 20 horas recebendo salário ridículo, tentando escolarizar um povo que não traz educação do lar. Sem a educação do lar que a escolaridade complementa nosso povo vira ralé, chega atrasado ao banquete da modernidade, quando chega, e entra pela porta dos fundos, quando entra! Juventude analfabeta e desinteressada, mas com celular nas mãos (no descobrimento vieram com espelhinhos, miçangas e colares). Isto é um deboche, é uma bofetada na cara humilhada dos que trabalham e pagam a ostentação.
Assistência médica e educação de qualidade, obrigação do governo, são compradas de intermediários que enganam de um lado e saqueiam do outro. Para o povo destinam as sobras da comida remexida e da água do copo babujado, que não matam nem deixam morrer de fome ou sede, odiosa tática que cultiva a pobreza e destrói a cidadania, criando um povo de pedintes agressivos.
Eu já disse que sou movido a entusiasmo, fé e esperança. Nada me resta a não ser desejar que Deus tenha piedade do nosso povo e nos dê um libertador. Tenho pena de você, meu amigo, que ainda será obrigado a votar continuando a avalizar a rapinagem. Para os que ficam, meus pêsames.
Na certeza de que eles sabem das mutretas e conchavos que ocorrem nos plenários, a grande maioria dos políticos nacionais em todos os níveis tem alguma culpa por AÇÃO, OMISSÃO, COMISSÃO, SUBMISSÃO, CORRUPÇÃO ou DESQUALIFICAÇÃO.