FAMIGERADA INVERSÃO DE VALORES
Mais uma vez se faz presente! E outra vez em personagem de novela tipo cool: uma dona de agência de modelos. Pretensamente, uma mentalidade bem resolvida de primeiro mundo (só que não é tão centrada quanto deveria no momento em que não cumpre nem a si mesma a promessa de amante convícta, decidida a não se apaixonar pelo tal homem casado com quem se envolve, que é o personagem canastrão vivido pelo seu parceiro na trama).
A tal personagem passa uma descompostura na mocinha que é a filha do tal canastrão: uma modelo iniciante, tonta, e despersonalizada que só ela - tanto que desmorona feito castelo de açúcar diante dos argumentos arrasa-quarteirão usados pela agente e amante de seu pai; justamente quando se planta, indignada, diante desta agente, tomando satisfações, ao saber que o pai (de novo) enganou mais uma esposa crédula, justo com esta que é a sua chefe e, até então, sua referência divinizada de conduta profissional!
Vá lá que, sob um prisma frio, é mostra de destempero da mocinha misturar "alhos com bugalhos" na hora de assacar seus mui justos pruridos de filha indignada com mais uma prova de mau caratismo daquele pai, bem no seu ambiente de trabalho - que, por azar puro, é a agência de modelos que a promove, e cuja chefe é exatamente a amante atual do pai. Mas daí a tal agente posar de moralista da nova era para taxar de "mente provinciana" e "moral de classe média" a reação descalibrada de uma jovem - estupefata, sim - e com toda a razão deste mundo - com as derrapadas vergonhosas de um homem que, também por azar, é seu pai, e o detentor da personalidade mais escandalosamente depravada de todo o enredo da novela?!! Façam-me o favor!!
Houvesse alguém com algo mais na cabeça que não selagem térmica e nariz empinado e saturado dos falsos valores vigentes nos dias de hoje e na cabecinha daquela agente, e este alguém se meteria naquela cena idiota para argumentar o seguinte: "Escuta aqui, dona agente bem sucedida de modelos, o negócio é este: urgência não é a garota mudar a cabecinha provinciana e a moral de classe média! Urgente é você tomar noção premente de algo próximo ao que seja moral, para não classificar assim, com tanta petulância, a inversão monumental de valores em que se baseia a conduta do seu parceiro: "mundo maior do que o seu mundinho", ou "mundo mais interessante do que você imagina", e todas estas frases feitas, e de encomenda para impressionar uma outra cabeça oca de mais ou menos dezoito anos, pronta para assimilar qualquer nova moral que, de preferência, a leve para as passarelas chiques de Milão!
Moral de classe média não é uma filha se escandalizar com um pai mais perdido de si mesmo nesta vida do que ela própria aos dezoito anos! Mentalidade provinciana não é tomar-se de revolta com a conduta de um pai que joga com a boa fé de mais uma esposa, a quem ludibria por meios escusos (no caso a bondosa e idealista personagem da Camila Pitanga), primeiro caluniando o noivo dela, para depois roubá-la na posição de marido, e passar a enganá-la com outra mulher nem bem tendo acabado a lua-de-mel! Estas reações da garota, senhora agente de modelos avançadinha, enxovalhadas de maneira tão eficiente pelo seu argumento fútil, que não consegue ver no mundo senão holofotes do mundo fashion e executivos bem sucedidos, são mostra de dignidade e pundonor - mostras mirradas, tênues, esvaídas diante do desvairamento hipnótico e massificante dos nossos tempos - mas ainda vivas, louváveis e persistentes em meio a todo este caos, lutando para manter acesa a chama daquilo que, isto sim, é o que há de mais refinado no sentimento humano: a capacidade de conquistar, sim, a sua felicidade e o seu prazer; mas levando em conta, sempre, e obrigatoriamente, se existe alguém sendo injustamente tripudiado por conta disso - o que em última análise, em existindo, nos tira todo o direito à esta felicidade tacanha, que é se dar bem às custas da lesão da boa fé do outro! Representam a capacidade de enxergar na vida um sentido maior - e este sim! - mais amplo que o prazer fugaz na cama com este ou aquele (prazer este, aliás, que não sufoca na personagem o seu anseio por se envolver, por se apaixonar de fato, pois quase perde a cabeça quando o tal canastrão ameaça largá-la para não perder a esposa)".
Princípios novos de moral?! Tão frágeis quanto o cristal; tão voláteis quanto a própria contradição da personagem que, se se esmera no talento natural para a formação de modelos de sucesso, é um desastre no aconselhamento das mesmas quanto à formação do caráter que - diga-se de passagem - conforme ela mesma alardeia, na agência que dirige, pelo menos, é impecável!
Quanta contradição! Quanta divulgação irresponsável de uma inversão famigerada dos valores genuínos para a preservação do ser humano enquanto ser humano, naquela condição mais comezinha que o dignifica como tal!
É a prova de que novelistas que abordam temas atuais deveriam se ater, severamente, à narração da trama de suas estórias: porque quando se metem a moralistas da nova era, aí sim, é um desastre! Em contraparte a qualquer tipo de mentalidade provinciana, porém íntegra, o que se verifica é a demonstração cabal, xula, grotesca, do que a nossa civilização consumista e tecnológica produz em matéria da escória emocional que vem ditando a conduta dos seres humanos.
Mais uma vez se faz presente! E outra vez em personagem de novela tipo cool: uma dona de agência de modelos. Pretensamente, uma mentalidade bem resolvida de primeiro mundo (só que não é tão centrada quanto deveria no momento em que não cumpre nem a si mesma a promessa de amante convícta, decidida a não se apaixonar pelo tal homem casado com quem se envolve, que é o personagem canastrão vivido pelo seu parceiro na trama).
A tal personagem passa uma descompostura na mocinha que é a filha do tal canastrão: uma modelo iniciante, tonta, e despersonalizada que só ela - tanto que desmorona feito castelo de açúcar diante dos argumentos arrasa-quarteirão usados pela agente e amante de seu pai; justamente quando se planta, indignada, diante desta agente, tomando satisfações, ao saber que o pai (de novo) enganou mais uma esposa crédula, justo com esta que é a sua chefe e, até então, sua referência divinizada de conduta profissional!
Vá lá que, sob um prisma frio, é mostra de destempero da mocinha misturar "alhos com bugalhos" na hora de assacar seus mui justos pruridos de filha indignada com mais uma prova de mau caratismo daquele pai, bem no seu ambiente de trabalho - que, por azar puro, é a agência de modelos que a promove, e cuja chefe é exatamente a amante atual do pai. Mas daí a tal agente posar de moralista da nova era para taxar de "mente provinciana" e "moral de classe média" a reação descalibrada de uma jovem - estupefata, sim - e com toda a razão deste mundo - com as derrapadas vergonhosas de um homem que, também por azar, é seu pai, e o detentor da personalidade mais escandalosamente depravada de todo o enredo da novela?!! Façam-me o favor!!
Houvesse alguém com algo mais na cabeça que não selagem térmica e nariz empinado e saturado dos falsos valores vigentes nos dias de hoje e na cabecinha daquela agente, e este alguém se meteria naquela cena idiota para argumentar o seguinte: "Escuta aqui, dona agente bem sucedida de modelos, o negócio é este: urgência não é a garota mudar a cabecinha provinciana e a moral de classe média! Urgente é você tomar noção premente de algo próximo ao que seja moral, para não classificar assim, com tanta petulância, a inversão monumental de valores em que se baseia a conduta do seu parceiro: "mundo maior do que o seu mundinho", ou "mundo mais interessante do que você imagina", e todas estas frases feitas, e de encomenda para impressionar uma outra cabeça oca de mais ou menos dezoito anos, pronta para assimilar qualquer nova moral que, de preferência, a leve para as passarelas chiques de Milão!
Moral de classe média não é uma filha se escandalizar com um pai mais perdido de si mesmo nesta vida do que ela própria aos dezoito anos! Mentalidade provinciana não é tomar-se de revolta com a conduta de um pai que joga com a boa fé de mais uma esposa, a quem ludibria por meios escusos (no caso a bondosa e idealista personagem da Camila Pitanga), primeiro caluniando o noivo dela, para depois roubá-la na posição de marido, e passar a enganá-la com outra mulher nem bem tendo acabado a lua-de-mel! Estas reações da garota, senhora agente de modelos avançadinha, enxovalhadas de maneira tão eficiente pelo seu argumento fútil, que não consegue ver no mundo senão holofotes do mundo fashion e executivos bem sucedidos, são mostra de dignidade e pundonor - mostras mirradas, tênues, esvaídas diante do desvairamento hipnótico e massificante dos nossos tempos - mas ainda vivas, louváveis e persistentes em meio a todo este caos, lutando para manter acesa a chama daquilo que, isto sim, é o que há de mais refinado no sentimento humano: a capacidade de conquistar, sim, a sua felicidade e o seu prazer; mas levando em conta, sempre, e obrigatoriamente, se existe alguém sendo injustamente tripudiado por conta disso - o que em última análise, em existindo, nos tira todo o direito à esta felicidade tacanha, que é se dar bem às custas da lesão da boa fé do outro! Representam a capacidade de enxergar na vida um sentido maior - e este sim! - mais amplo que o prazer fugaz na cama com este ou aquele (prazer este, aliás, que não sufoca na personagem o seu anseio por se envolver, por se apaixonar de fato, pois quase perde a cabeça quando o tal canastrão ameaça largá-la para não perder a esposa)".
Princípios novos de moral?! Tão frágeis quanto o cristal; tão voláteis quanto a própria contradição da personagem que, se se esmera no talento natural para a formação de modelos de sucesso, é um desastre no aconselhamento das mesmas quanto à formação do caráter que - diga-se de passagem - conforme ela mesma alardeia, na agência que dirige, pelo menos, é impecável!
Quanta contradição! Quanta divulgação irresponsável de uma inversão famigerada dos valores genuínos para a preservação do ser humano enquanto ser humano, naquela condição mais comezinha que o dignifica como tal!
É a prova de que novelistas que abordam temas atuais deveriam se ater, severamente, à narração da trama de suas estórias: porque quando se metem a moralistas da nova era, aí sim, é um desastre! Em contraparte a qualquer tipo de mentalidade provinciana, porém íntegra, o que se verifica é a demonstração cabal, xula, grotesca, do que a nossa civilização consumista e tecnológica produz em matéria da escória emocional que vem ditando a conduta dos seres humanos.