A (falta de) consciência do povo
Lembro de ter sido abordado, esses dias, por um rapaz. Inicialmente falando que não estava lá para assaltar ninguém, justificou a abordagem dizendo que ele e seus colegas – que esperavam sentados no banco da praça – precisariam de um dinheiro para fazer “umas paradas”. Parada? Onde, não sei. Talvez não chegasse a lugar nenhum com aquela atitude, pois o que conseguiu era uma quantia bem inferior do que foi pedido...
Necessidade? Talvez... Porém, que tipo de necessidade seria essa?! Parecia apenas que estava tentando aprender a cometer um assalto, pois vibrava com certo entusiasmo e até gargalhadas após ter conseguido bem menos que a quantia desejada. Eu não sabia de imediato o motivo, mas senti um misto de vergonha e pena.
Próximo ao portão de uma escola, o fato ocorreu sem que nenhum policial fosse visto por perto. Muitas vezes, acabo achando que o povo clama por seus direitos de forma deturpada, nas situações erradas e culpando as pessoas erradas pela sua situação social. Às vezes, tenho a impressão de que o povo nem sabe de fato quais são seus direitos e deveres, com uma imprecisa convicção de que faz justiça com as próprias mãos.
Um povo trabalhador, em geral, mas que hesita na hora de exigir seus direitos como cidadãos. Um povo que, mesmo quando na miséria, não se sente culpado pela venda de votos, por exemplo, justificando de forma conformada sua situação como um erro exclusivo da primeira autoridade que vier na cabeça para acusar.
Enfim, chego a uma triste conclusão de que o povo brasileiro faz da sua doença social um motivo para justificar seus erros e, em alguns casos, sua omissão. O “povo do Carnaval” demonstra, a cada dia, que não se importa em ser massacrado pelo abuso de poder de políticos e autoridades em geral. Na maioria das vezes, tenta até justificar o que acontece com um triste conformismo, que atropela qualquer princípio ético, através de uma idéia errada de que “todo mundo faz isso”.