As paredes têm ouvidos
Minha mãe sempre dizia em tom de brincadeira ou algumas vezes falando sério, nas conversas que se despreocupassem com nossos vizinhos, compadres ou parentes. Já que tinha muitos filhos (doze) era compadre, comadre e parentes para todos os lados.
Era nestas reuniões descontraídas os momentos propícios para isto que se davam em alguns feriados e finais de semana. Estes vizinhos se dirigiam à nossa casa para estes papos, atualizar as conversas, momentos de confraternização e um bom cafézinho de produção e benefício próprio. Na época própria se fazia pamonhada, em outras era rapadura de amendoim, de mamão verde, do miolo do caule do mamoeiro e de gergelim, entre outras. Nunca faltava um farto almoço com macarronada, frango caipira ao molho e mais.
No entremear das conversas via minha mãe, às vezes, proferir estes chavões: “A corda sempre se arrebenta do lado mais fraco”, “As paredes têm ouvidos” ou "Em boca fechada não entra mosquito", quando se referia da nossa obrigação em guardar segredos e não comentar a vida alheia.
Nada adianta este leva e traz, pois só provoca aborrecimento, inimizade e muito mais. Raiva, ódio e mais um dedo apontado para os defeitos do outro, mas com o retorno dos outros quatro para o delator.
Dei-me conta que são frases já ditas há quase sessenta anos, porém ainda hoje é pura verdade. Não importa o que você fez ou vai fazer, quando se está vendo somente perante a sociedade e do lado material. Todos tendem a ver somente por este lado, se esquecendo do lado mais forte e verdadeiro que é o espiritual.
O que prevalece sempre é o lado monetário de maior valor, não importando quanto se fez e quanto ainda vai fazer, você vai ser destacado e distinguido pela moeda que tem e não pelo serviço que presta. Isto se dá em todos os setores, seja na vida pública, na sociedade ou nas instituições. Os primeiros lugares serão distribuídos pelo valor monetário ou pelas influências políticas e não pelos feitos.
Para muitas coisas silenciar é preciso, em nome até de mais saúde, felicidade e prosperidade. Silêncio é ainda a regra máxima da Maçonaria, pois sua perpetuação se efetiva pelo segredo que, na verdade, não é segredo. É trabalhar por uma sociedade e por uma Pátria mais justa.
José Pedroso