Ética para professores é aniquilar os companheiros

Ética para professores é aniquilar os companheiros

A Segunda Conferência de Educação de Laranjal do Jari deve ser avaliada pelos empregadores da região como muito positiva. Afinal, alguns professores e técnicos ali presentes optaram por atacar os próprios colegas de profissão a exigir melhorias para a categoria. Segundo os inveterados guardiões da ética, o fato de parte dos professores terem mais de um trabalho prejudica a qualidade do processo de ensino-aprendizagem. É típico dessa categoria fuzilar os próprios companheiros na ingênua expectativa de que assim receberão alguma recompensa ou pelo menos se expiarão da culpa pelos miseráveis índices educacionais. Excluído o comportamento hostil desse radicais, o evento foi um sucesso, principalmente nos aspectos da organização e participação.

Num país de desonestos, antiéticos, corruptos e vadios, os trabalhadores que se propõem a oferecer sua mão-de-obra qualificada para contribuir com a sociedade são mal vistos pela própria categoria. É claro que os professores não escolhem ter mais de um posto de trabalho apenas por amor a profissão, mas por uma questão de sobrevivência. Não vejo pecado algum no desejo de mudar de condição econômica, até porque se tivéssemos uma categoria constituída de miseráveis certamente seríamos ainda menos reconhecidos e menos ainda serviríamos de exemplo de profissional para as futuras gerações.

Médicos e advogados são, consensualmente, mais éticos do que professores, entretanto, os primeiros não se envergonham (e não haveria motivo algum) de acumularem empregos, clientes e patrimônios. Médicos jamais esmiúçam falhas dos companheiros de profissão mesmo que isso tenha concorrido para graves mazelas físicas e até para a morte de pacientes, mas professores fazem isso apenas pelo prazer de prejudicar os pares ou simplesmente porque confundem o verdadeiro significado da palavra ética. Outros fazem pacto de “pobreza”, pois acreditam que o verdadeiro professor é aquele que fica míope, caquético e que se acostumou com o passar dos anos a não ter dinheiro nem para pagar a condução de dois terços dos dias que ainda precisa trabalhar. São professores com esse tipo de espírito que preparam alunos para serem na vida apenas “coitadinhos” que nunca chegarão a lugar algum porque não têm ambição, nem projeto de vida nem competência.

Pode ser muita coincidência, mas a ojeriza contra o acúmulo de empregos vem sempre daqueles que têm apenas um vínculo ou que nunca conseguiram a aprovação num concurso público. Geralmente os bons professores, ou pelo menos os mais informados, conseguem obter os melhores resultados nos certames. O grupo dos defensores do emprego único na região do Jari esta cada vez menor. Um dos seus adeptos mudou radicalmente de idéia depois de contabilizar o segundo e o terceiro vínculo.

O ideal seria que o profissional recebesse um salário justo em apenas um posto, mas como esse desejo beira a utopia, seria sensato que nos contentasse com a realidade. O fato de um professor ser exclusivo de um quadro não garante a eficiência dos seus serviços, pois se assim fosse, teríamos encontrado a solução definitiva para a educação brasileira. Conheço profissionais de referência que trabalham em mais de um emprego e conheço péssimos professores que atuam em apenas um estabelecimento.

Em linha geral, os melhores profissionais são mais requisitados e se algum dia forem obrigados a ficar apenas com um dos vínculos, sairá perdendo aquela unidade que paga o menor salário. Não é que esses profissionais considerem aqueles empregos com menor remuneração menos importante, mas é que o verdadeiro professor é alguém capaz de tomar decisões inteligentes. O pacto de “pobreza” fica para aqueles que insistem em conceitos arcaicos, numa ética que ataca os companheiros de trabalho e que acreditam que a melhor forma de contratar funcionários é invertendo a classificação daqueles que tiram as melhores notas nos concursos públicos.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. (E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br - site: www.recantodasletras.com.br/autores/ivanlopes)

IVAN LOPES
Enviado por IVAN LOPES em 16/06/2009
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