Indústria de Multa
É admiravelmente notável a presença de agentes reguladores do trânsito em Mossoró, fazendo seu trabalho de maneira incisiva. Acredita-se que será possível melhorar as condições de condutores e pedestres no transito de Mossoró começando com a presença de ainda mais indivíduos. Mas isso não basta, está explicito a maneira inadequada de abordagem na qual condutores freqüentemente são submetidos. Não somos ouvidos, e quando insistimos em pedir algum esclarecimento do fato somos até ameaçados ao tilintar de algemas. Na maioria das vezes, essa intimidação acontece devido a falta de instrução para se resolver situações até corriqueiras no nosso trânsito incutindo na consciência do cidadão a sensação de que ele cometeu algo tão grave quanto um crime hediondo.
As ruas da cidade parecem cada vez menores com tantos carros que surgem ficando praticamente impossível localizar algum lugar pra estacionar o carro ou a moto, mesmo que seja pra comprar um copo de guaraná da amazônia na calçada para pedir informação sobre endereços. E para piorar, estamos sempre sob a mira implacável das canetas esferográficas dos agentes de trânsito espreitando todo a tráfego nos cruzamentos. Ao ponto deles ordenarem para o condutor do veículo encostar por cumprimentar com um aceno com a mão um conhecido na calçada. Esse tipo de atitude traz à memória daqueles que conhecem o Brasil na época da ditadura militar, em que não havia diálogo das autoridades com os cidadãos, todos eram tratados como se fossem criminosos, repreendidos ao máximo, sem o direito de questionar.
É sabido por todos que o nosso trânsito é assustadoramente perigoso com base em estatísticas, mas o método aplicado hoje é capaz de reduzir a violência? Em tese talvez, mas na prática está qualquer mente sensata, com bom senso percebe a avidez de canetas para “extorquir” dinheiro do cidadão sob a legitimidade do Estado. E este, não deveria facilitar a vida de quem já é obrigado a trabalhar o equivalente a cinco meses para ter direito a saúde, segurança, habitação, educação, saneamento básico e lazer (com qualidade, obviamente)? Em que medida a orgia feita nos talões de multas é de interesse ao cidadão de bem? Alguém que lê este texto pode provar onde o dinheiro arrecadado pelas multas está sendo aplicado? Precisa-se nos humilhar pra nos educar?
Então, por que não é de interesse dos nossos agentes de trânsito conscientizar no primeiro ato de abordagem? A aplicação da multa denota ao cidadão de bem uma medida repressiva e não educativa, um verdadeiro contra-senso para pessoas que vivem sob a tutela de um Estado que deve ser soberano, laico e democrático. Não faço apologia ao “jeitinho brasileiro” por que isto é uma metamorfose do que antes fora o “clientelismo”, e como resultado disso invoca-se um espectro de corrupção que vagueia pelas salas ou que se veste de idôneo em nossas instituições que devem garantir nossa salvaguarda. Tampouco insinuo que se deve passar a mão na cabeça de infratores, mas sugiro sensatez no tratamento dos diversos casos que violamos o Código de Trânsito Brasileiro por teimosia, ou por falta de informação devido à falta de tempo pra pararmos um pouco nossa rotina pra sentarmos e abrir nossa cartilha de conduta no trânsito. Medidas sócio-educativas devem ser tomadas de acordo com a infração cometida com finalidade de melhorar a conduta do condutor sem que na primeira incidência seja necessário abrir a sangria do seu bolso.
Dêem uma chance ao bom senso, respeitem o caráter do cidadão que está em dia com suas obrigações tributárias, pois é este quem efetivamente contribui para o funcionamento das nossas instituições públicas para que as políticas públicas se tornem mais eficientes para atender os anseios de uma sociedade que antes de tudo precisa ser preparada com seriedade e dignidade pra exercer sua cidadania com ética e justiça.
“A educação visa melhorar a natureza do homem o que nem sempre é aceito pelo interessado.”
Carlos Drummond.