CENTENARIO DO FREVO
Neste 9 de fevereiro de 2006, tiveram inicio as festividades do Centenário do Frevo, pois, a palavra frevo teve através do Jornal Pequeno sua primeira referência escrita, no dia 9 de fevereiro de 1907, conforme documenta o historiador Evandro Rabello, em seu livro “Memórias da Folia” - O Carnaval do Recife pelos Olhos da Imprensa – 1822/1925”.
Decorrente da proposta do então Vereador Byron Sarinho, aprovada pela Câmara de Vereadores do Recife, o ex-Prefeito Gilberto Marques Paulo sancionou no dia 28 de abril de 1992, a Lei municipal nº 15.628, instituindo o Dia do Frevo, a ser comemorado anualmente em 9 de fevereiro.
A História nos conta ser em Pernambuco seu nascedouro, e esse registro oficial fortalece, ainda mais, nosso direito de propriedade sobre esse ritmo efervescente, que abriga três modalidades distintas: frevo de rua, frevo de bloco e frevo-canção.
Como se não bastasse sua natureza peculiar, que o destaca de tantos outros ritmos, suas três formas de execução expressão a grandeza dessa jóia musical que orgulha os pernambucanos.
Rico e exuberante, o frevo dá espaço, também, para belos poemas que o completam nos frevos canção e de bloco, e ainda, oportuniza uma beleza coreográfica própria e única.
Ao longo desses anos, ele evoluiu, cresceu, e chegou a “glória centenária”, nada obstante tantas omissões dos poderes públicos que têm a obrigação de preservá-lo e propiciar que as gerações que se sucedem possam aprender e conceber tudo que ele nos oferece de grandioso.
Mesmo assim, enfrentando dificuldades, ele resistiu e ai está autentico, vigoroso e envolvente em cada ciclo carnavalesco que se repete a cada ano, por conta de alguns movimentos isolados que vêm ocorrendo tal qual “trincheiras” que não se curvam às investidas alienígenas que nos ameaçam de tempos em tempos, como um “modismo” que já nasce insustentável, pela falta de essência e conteúdo que o identifique como grandeza cultural, e muito menos musical.
Sua imortalidade tem, também, como ancoradouro o Galo da Madrugada, que não adormece momento algum, tendo à frente o guerreiro Enéas Freire, que durante todo o ano energiza-se e contamina os foliões para mais uma jornada sempre vitoriosa que se repete no sábado de Zé Pereira.
No passar dos anos, o frevo teve mudanças em sua estrutura, a exemplo do frevo de rua Duda no Frevo, de Senô, que ousou nesse particular, servindo como - divisor de águas entre o antigo e o moderno -, mesmo contrariando figuras exponenciais e de respeito no cenário do nosso carnaval, como o saudoso e grandioso Maestro Nelson Ferreira.
No contexto, sem ferir sua essência, face aos novos conhecimentos, esse frevo trouxe um novo horizonte à concepção harmônica e orquestral, tendo a meu ver, enriquecido sobremaneira a estética global desse ritmo majestoso.
Pertinaz como um “ancião” que não se dobra ao tempo, seus invisíveis “cabelos brancos” moldados ao longo desses anos, confundem-se com os talcos que cobriram as cabeças de tantos foliões das épocas áureas dos nossos carnavais, confirmando sua maturidade, luta e galhardia, cujo vigor lhe fez permanecer vivo e altivo, apesar de alguns que não reconheceram durante todo esse tempo o seu valor para a música pernambucana.
Contudo, sempre contagiante, vem desbravando os anos, acelerando os corações das gerações, fazendo frever a cada ano os nossos exuberantes carnavais, deixando a grandeza de sua melodia ecoar mundo afora, tendo muitas vezes mais prestígio alhures do que em sua terra natal: Recife - Capital do Frevo...
Assim, ele finca sua resistência contra tudo e contra todos, perpetuando-se no cenário musical pernambucano como uma marca indelével, graças a sua estrutura rítmica, melódica e harmônica, - trilogia indissolúvel e inigualável -, fazendo inveja, quem sabe, ao seu primo rico: o Jazz.
Luiz Guimarães Gomes de Sá
Médico e membro da Academia Pernambucana de Música
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