Teresa, tia...
"Chega mais, vem! Vou lhe dar um abraço!". Abraço que é bom para a saúde, porém dias destes tentava fazer uma regressão de possíveis lembranças do passado pelas fases de idade. Nesta regressão lembrei de uma história de infância. Nossa família morava em Cosmorama/SP, sendo pai, mãe e mais dois irmãos. Eu, o primogênito com seis anos, e Sebastião e Claudhemiro, mais novos que eu. Cosmorama era próxima a São José do Rio Preto/SP e mais próxima ainda de Votuporanga/SP, que naquela época (de 1941 a 1948), esta era menor que a própria Cosmorama. Esta região era chamada de Sertão da Alta Araraquarense.
Meus pais haviam se casado em Cosmorama, em 23 de Setembro de 1942, sendo que ele foi para lá acompanhando os familiares de minha mãe que mudara proveniente de Olímpia/SP. Meu pai sempre foi fera para o trabalho. Trabalhava sol a sol na lavoura de algodão, arroz e milho na maneira artesanal da época. Todo trabalho agrícola era feito manualmente, desde roçados, queima, destoca, planta e tratos culturais. A colheita era certa, se os cuidados e tratos fossem praticados à risca. Plantava-se e podia compras as embalagens que a colheita era certa. Já tínhamos numerário para comprar um bom sitio na região para trabalhar em terras próprias, porém porque os familiares do meu pai, irmãos e sobrinhos ficaram em Barretos/SP e ele não estava se sentindo bem com as interferências de minha avó na vida familiar do casal. Certamente ela não aprovava minha mãe ajudar nos trabalhos da lavoura, o que ela insistia em fazer constantemente. Ele apressou o interesse em voltar para Barretos já programando ao término daquela safra, o mais rápido possível sendo a contra gosto dos proprietários do imóvel onde morávamos que recebia renda por produção dos produtos colhidos. Também muito a contra gosto dos familiares de minha mãe. Meio de transporte já arrumado, um caminhão Ford a gasolina ano 1946, minhas tias Teresa, Antonia, Joana, Maria e uma menor Cleyta e minha avó Anna vieram, contrariadas, ajudar na arrumação da mudança. Fizeram engradados para as aves e compartimento no caminhão para os porcos. Os animais equinos de serviço vieram com um tropeiro pago para tal tarefa. Na hora da despedida e saída da mudança, minha tia Teresa, irmã mais velha de minha mãe, ficou chorando em frente ao caminhão de braços abertos para impedir o prosseguimento. Lembro que meu pai desceu do caminhão, colocou as mãos no ombro dela conversando com a mesma e dizendo que aquela mudança era para procurar melhoria para a família e que logo voltaríamos. Ela chorando desistiu de seu intento de impedir a viagem e, chorando, acenou para nós. A estrada tinha mais ou menos 130 quilômetros toda de terra e, chegando em Barretos, nem casa tinha para morar. Então a mudança foi descarregada na casa de seu irmão mais velho até conseguir um lugar para morar, o que foi conseguido na semana seguinte. Os anos passaram, muito trabalho de sol a sol, lavouras de arroz, milho, algodão e finalmente especializando em cafezais, quando em 1964 surgiu a oportunidade de comprar a terra prometida. A escolha se deu em Tanabi/SP, de volta às origens e só após estes anos todos a minha mãe sem ver ou ter noticias de sua família, surgindo agora a oportunidade porque Tanabi estava próximo dos mesmos, porém minha avó Anna já muito doente, mas se encontraram e mataram as saudades de décadas.
José Pedroso – Publicado em jornais locais.