O recorte imagético jornalístico
A fotografia jornalística é o registro de acontecimentos, um apontamento que visa transmitir uma informação, uma mensagem. Mais do que apenas compor uma matéria jornalística, a fotografia fala, dá margem às mais diversas interpretações e deve ser livre de manipulações. Sendo um recorte da realidade, ela é a síntese de um episódio, expressando-se sem impor um significado, aberta como uma pintura (KUBRUSLY, 1998).
A fotografia está ligada, fundamentalmente, pela mediação das máquinas, desenvolvidas através do aperfeiçoamento tecnológico. O produto é a própria realidade já existente, recortada de acordo com o olhar de quem está por trás da câmera. Na natureza da imagem, há um confronto entre o agente produtor e o mundo, pois o primeiro "rouba" fragmentos do real, congelando para sempre uma visão sobre a realidade que, em algum momento, lhe foi peculiar (MACHADO, 1994, p. 03).
Para Lúcia Santaella, as imagens se unem “numa arquitetura, com dimensões, por vezes urbanísticas, responsável pela criação de paisagens sígnicas que instauram uma nova ordem perceptiva e vivencial em ambientes imaginativos e críticos” (1998, p. 18). Podemos, então, concluir que muitas das imagens que vemos hoje são frutos da fusão de imagens advindas de distintos suportes de produção, configurando um novo sistema de representação e um novo campo na produção dos signos (SANTAELLA, WINFRIED, 1998, p. 18).
O fotógrafo pode, por meio da sua emoção ou da sua razão, possibilitar ao observador diferentes visões de um único objeto, seja pela luz, pelo ângulo ou pelo enquadramento. Esse profissional é capaz de aplicar ideologia ao que apenas poderia fazer mecanicamente. Isso tudo é possibilitado pelos mecanismos modernos de captura das imagens, a união da tecnologia e a sensibilidade humana (profissional), que produzem resultados surpreendentes (KUBRUSLY, 1998, p. 25).
A questão das intermediações de todo processo pelas barreiras culturais e de toda normatização social são apontadas como implicadores. De fato, o ato fotográfico exige a associação de concentração e determinação em retratar o que de fato se pretende sem se deixar ‘macular’ por conceitos pré-estabelecidos dos objetos ou do significado que eles terão ao serem observados. É interessante que, no momento de execução da fotografia, em apenas um instante no qual se reúne intenção, aparelho e motivo a ser captado, esteja presente a complexidade e a simplicidade, pela carga de significância subjetiva e pela clareza das imagens representadas. Há algo de peculiar pela subjetividade do gesto fotográfico, pela diversidade de reações que provoca ao apresentar sua conseqüência: a fotografia (KUBRUSLY, 1998, p. 34).
As fotografias no portal são importantes para retração das localidades e personagens, abrindo a possibilidade de inclusão de legendas em galerias que podem levar informação ao usuário, mesmo que este não leia a matéria sobre o assunto. O recorte da lida cotidiana, das paisagens e a imagem das personagens documentam, legitimam a ambiência descrita e estabelecem uma abertura ao leitor no sentido de uma apreensão subjetiva. A proposta é aproveitar a composição das imagens para corroborar as mensagens, os detalhamentos e depoimentos presentes na narrativa. A mesma percepção, a responsabilidade e coerência na captação de informações, do ponto de vista jornalístico, para a produção textual aplica-se na produção das fotografias. “O direito social à informação inclui a diversidade de significação do mundo, e dele fazem parte a palavra e a imagem, o jornalismo escrito e a imagem jornalística” (KARAM, 1997, p. 15).