A verdade e seu sentido moral
Um dos grandes pensadores da modernidade foi o pensionista alemão Nietzsche. Digo pensionista, pois vivia de uma “mesada”, não se preocupando com a necessidade de ganhar dinheiro para sobreviver. Esse filósofo abalou as estruturas estabelecidas da linguagem, jogou os conceitos éticos para qualquer lugar próximo a ilusão e enlouqueceu muita gente, inclusive ele mesmo. Essas são críticas das mais pessimistas, todavia de um admirador nato. Todavia, não podemos dizer que Friedrich (Nietzsche) fôra uma flôr que se cheirasse com pureza. De fato, em seu romance-filosófico “Zaratustra” ele nos afirma que o terceiro estágio de amadurecimento do homem é de uma “criança” – vale a pena depois ler o livro para entender melhor o que ele quis dizer com isso.
“O que é a verdade, portanto?”, Nietzsche pergunta em seu ensaio intitulado: “Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra Moral”. Se não fosse irônico, ele daria um belo poeta – expressão que pode defini-lo, mesmo sem grande esforço. Respondendo sua pergunta, ele afirma que a verdade é “um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias”. Lindo, belo, palmas para Nietzsche!
Nossos políticos conhecem bem a retórica dessa linguagem. Triste, contudo, aqueles que vivem à margem da sociedade e ainda se iludem com as palavras as quais garantem, no melhor das hipóteses e pelo menos, esperança. Não há verdade nas palavras, elas são “ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas”. Vivemos, por conseguinte na triste história contada sem fundamento algum, pois nada havia para ser contado que não se tornou mentira. Que Nietzsche de pouca vergonha! Foi assim que ele contaminou nossa sociedade e diversos pensadores posteriores a ele.
As normas, segundo Alasdair MacIntyre “tornam-se o conceito principal da vida moral” e mesmo que Nietzsche tenha acertado em alguns aspectos de sua filosofia sobre a moral ele causou um “irracionalismo profético” que em parte desestruturou tudo que já era conceito formado, tido como princípio das relações humanas. Devemos nos contentar com as afirmações do alemão, acreditando que não existe verdade e tudo é produto de metáforas e etc., ou seguir em frente na convicção intrínseca a nós de que existe uma verdade e que ela deve ser encontrada a todo custo?
Prefiro ficar com a “verdade”. É pela verdade que encontramos o sentido da existência de nossas vidas. Se dissermos que não acreditamos na verdade, estamos deixando de crer em nós mesmo, pois não poderia haver verdade maior do que a minha ou a sua vida. É o sentido de verdade que nos mantém aptos a buscar a felicidade onde ela estiver, pois sabemos de sua existência e tudo que faz parte de nossos princípios mais tradicionais, contribuirão para este encontro.