O CORDEL NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE
Nos últimos dias, detive-me na observação das informações que os poetas populares (sobretudo os ‘cordelistas’) produzem e (re)passam aos ouvintes e leitores. Entre os temas estão os relacionados às questões ambientais, embora ainda em pequena quantidade.
Pela sua importância, os temas ambientais há algum tempo fazem parte das discussões de governos, políticos, grupos empresariais e da população. Apesar da gravidade da situação, essas questões ainda ocupam espaços periféricos e recebam pouca atenção dos veículos de comunicação.
No nosso entendimento, a confecção da ‘Carta da Terra’ (1992), uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade sustentável a partir do século XXI, e o estabelcimento pela ONU dos “Oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (2000), são alertas para a humanidade mudar de hábitos e procurar viver de modo sustentável.
Esses registros mostram que a vida na Terra está ameaçada e se faz necessário a mudança de comportamento e dos hábitos de consumo dos seus ocupantes. O 7º ODM diz respeito, justamente, ao meio ambiente: “Garantir a sustentabilidade ambiental”.
Dezenas de folhetos de cordel (uma manifestação de folkcomunicação), publicados recentemente, abordam questões que estão relacionados ao 7º ODM. São temas muito próximos do dia a dia das pessoas, como a escassez e o desperdício da água, o lixo, desmatamento, poluição do ar e dos rios, coleta seletiva, reciclagem, extinção de animais, seca e aquecimento global. Os autores apropriam-se dos saberes da cultura popular para expressar-se e conscientizar as classes populares - e aqui citamos Luiz Beltrão, que definiu a folkcomunicação como “a troca de informações, opiniões e idéias provenientes da massa através de agentes ou dos meios populares ligados ao folclore”.
Chegamos à conclusão de que o poeta popular teve o seu papel social ampliado, não estando mais limitado a contar causos, histórias fantásticas ou relatar fatos mitológicos. Agora, também procura transmitir conhecimentos e se coloca na condição de educador nesse processo de abordagem e discussão de temas complexos e importantes para a sociedade.
Essa mudança não significa que a literatura de cordel mudou, mas apenas que a arte busca estar mais próxima dos fatos e das pessoas, discutindo os problemas atuais de forma versejada. Sem fugir da tradição, o cordel percorre um novo caminho, com a atualização da linguagem das ciências.
Os poetas populares paraibanos Vicente Campos Filho, Medeiros Braga e Dilson Barros; os pernambucanos Manoel Monteiro (falecido em 2014), Felipe Júnior, Altair Leal, Abdias Campos, Ernando Carvalho, Davi Teixeira, Edivaldo de Lima, Euclides Paiva, Pedro Queiroz, Gildo Siqueira Filho e José Evangelista; o potiguar Izaias Gomes de Assis e o cearense João Peron são alguns dos que utilizam essa forma preciosa de ‘jornalismo popular’ para abordar, transmitir e popularizar informações técnicas até bem pouco tempo ignoradas por um grande universo de pessoas, sobretudo no Nordeste brasileiro.