Vida: uma arte.

Fui muito mais além do que pretendia ir e muito aquém do que poderia ter ido.

Fui muito mais feliz do que imaginei pra mim e bem menos do que estava escrito que poderia ter sido.

Fui audaz, valente e corajosa,.... até certo ponto.

Aventureira, com limites. Conquistei espaços, fiz até “estardalhaços discretos”.

Abri caminhos, passo a passo. Não tanto por covardia quanto pela situação que se apresentava.

No fundo admirava e invejava quem conseguia ser um “bandeirante” na vida.

Poderia ter calçado botas sete léguas mas preferi, meu calçado 36.

Poderia ter trocado o certo pelo “incerto com tendência a certo”; ter olhado atrás da porta e não só até onde a luz clareava.

Teria sido fácil espiar por sobre o muro, gritar mais alto um certo nome; acenar, pedir pra voltar.

Reconhecer fracassos, também não seria “a morte”.

Conjugar o verbo “errar” na primeira pessoa do singular, poderia ter mudado minha história e, quase sempre para melhor,... é o que dizem os mais experientes.

Mesmo assim sinto orgulho. Orgulho desta “pequena grande pessoa” que sou, das aventuras “pé no chão”, dos passos “gigantes”, dos medos disfarçados, das meias verdades. Dos gritos ensurdecedores que nem de perto conseguiriam despertar o mais insone dos mortais. Até onde fui, sei que fui bem. Até onde aprendi e vivi, também.

Mas, e esse vazio, essa sensação oca, como de um ladrilho sem massa, que, mais cedo ou mais tarde acabará se soltando? Será que faz parte da vida ou será um prenúncio da morte? Até que ponto é normal, faz parte da jornada, ou, quem sabe, esse é o vazio das coisas que não fiz, do que ficou pra trás. Inexoravelmente irrecuperável.

Vem daí o que se ouve constantemente: “Ah, se eu soubesse o que sei hoje quando era mais jovem...”

Todos dizem isso. Se ainda não disseram, certamente já pensaram ou ainda dirão.

Fica a dúvida e, como é sabido, a dúvida dói mais que a certeza.

Mas resta-nos, sim, uma certeza: a de que daqui para trás tudo está perdido, deletado, apagado. Se assim é, inútil lamentar.

Até a famosa experiência que se adquire ao longo da vida, de nada vai adiantar pois, cada dia que vivermos será uma experiência nova, única.

A sabedoria que acumulamos servirá somente para dar conselhos,

inúteis por sinal, aos que estão vindo depois de nós, os mais jovens.

Assim como também não ouviremos os conselhos dos que estão a nossa frente, os mais velhos.

Assim é a vida: uma arte a ser interpretada, cujo êxito depende única e exclusivamente de nossa capacidade criativa.

inken
Enviado por inken em 11/06/2009
Código do texto: T1644030