ESCATOLOGIA
Segundo o dicionário, escatologia é substantivo feminino; é um tratado acerca dos excrementos (teol.); é uma doutrina sobre a consumação do tempo e da história; enfim, é um tratado sobre os fins últimos do homem, ocasião em que as coisas deverão acontecer, como o reinado messiânico, o juízo final, a ressurreição dos mortos. Neste sentido, quase todas as religiões, senão todas pregam doutrinas escatológicas. O fenômeno da morte também é um tema escatológico bastante disseminado pelas religiões. Algumas religiões são típicas manifestações deste pensamento, como a egípcia, com o seu Livro dos Mortos.
De acordo com o cristianismo, a ideia de um fim das coisas e dos acontecimentos está intimamente ligada à da criação do mundo e de um Deus criador. Relaciona-se também com os conceitos de justiça e bondade divina, implícitos na ideia de um Deus pessoal encarnado para a redenção do homem. O cristianismo em sua escatologia prega a esperança, nos atos de Deus por meio do cumpridor de suas promessas, enquanto que a Igreja é a sociedade em que os indivíduos vivem responsavelmente face às promessas de Deus. Portanto, a espera impassível face aos acontecimentos futuros é incompatível com o cristianismo, e isso pode ser percebido segundo o pensamento de São Paulo: “operai vossa salvação”. Assim, o cristianismo é a religião dos que cooperam com Deus na redenção dos povos, numa prática de reconciliação. A história, portanto, está nas mãos de Deus, que destruirá o mundo para fazer triunfar o seu reino de justiça, amor e paz.
Já o judaísmo pressupõe a existência do povo de Israel, em que seu destino precede, coletivamente, o do indivíduo, pois as promessas da divindade feitas aos patriarcas são interpretadas como válidas para todo o povo, de modo que o Torah contém citações referentes à grandeza futura de Israel. É neste espírito que têm de ser interpretadas as profecias em relação à destruição de Israel feita pelos próprios profetas, e sua reconstrução. Embora haja controvérsias entre os doutores da lei, todos são unânimes em aceitar que as condições do mundo pioraram, como as guerras, fome, miséria e enfermidades, mostrando assim, a proximidade do fim do mundo ao mesmo tempo em que a maioria dos homens se afasta de Deus. Seu ponto culminante será a guerra entre Gog e Magog, em que Deus intervirá por meio do Messias dando o perecimento da humanidade, a ressurreição e o juízo final. Após isto, os piedosos viverão em paz na nova Jerusalém, sendo a morte finalmente vencida.
Os muçulmanos aceitaram a influência cristã e judaica, porém com algumas peculiaridades. Após a morte, dois anjos examinaram as pessoas quanto à fé, deixando-as dormir em paz se o exame for satisfatório e golpeando-as com um martelo, pisando, e comprimindo a terra sobre elas, em caso contrário. Deverá haver um juízo, em um dia só conhecido por Allah, a ser percebido de muitos sinais. Será então estabelecido um reino de justiça, com a conversão de Cristo ao islamismo. O anjo Isfill tocará sua trombeta, quando surgirão convulsões em toda a natureza, seguida da qual morrerão todas as criaturas. Vinda a ressurreição, todos relatarão suas vidas segundo os livros sagrados, num depoimento testemunhado pelos anjos que acompanharam o indivíduo em toda sua existência, passando a todos na balança. Este julgamento deverá durar de mil a cinquenta mil anos, seguido da travessia da ponte que leva ao paraíso, a qual é mais fina que um fio de cabelo e mais afiada que uma espada, passa sobre o inferno. Os bons passarão por ela, os maus cairão no abismo. O paraíso inclui prazeres materiais e carnais.
Os indianos creem num lugar de tormento para os que praticaram o mal na terra, segundo seus livros Rig-Veda e Athavaveda, desde tempos imemoráveis, sendo que aos poucos esta ideia foi substituída pela da metempsicose, ou seja, da transmigração das almas. No Satapata Brâmana existe a referência sobre os dois fogos por que passam os mortos, queimando os maus e deixando os bons incólumes. São a seguir pesados na balança, com a definição dos destinos, os bons ficarão na bem-aventurança e os maus serão encaminhados para o inferno. Os Upanishads referem-se às diversas reencarnações, segundo as condições: no céu, inferno ou na terra, conforme a vida anteriormente levada, ideia aceita em geral por todas as formas do hinduísmo. Divide-se a história em quatro fases: a primeira é Karta, a segunda Treta, a terceira Dvapara e a quarta, Kali, sendo que cada uma dura doze mil anos (mahayuga), cada ano de 300 anos humanos, ou seja, no total quatro milhões e trezentos e vinte mil anos humanos. No final de cada era, dá-se a queda e novo início, devendo no final de Kali haver a destruição pelo fogo e dilúvio, quando os bons serão absolvidos ou integrados no seio de Brama que deverá passar, em profundo sono, igual números de anos dos períodos anteriores, reiniciando-se a seguir novamente o processo.
Os budistas aceitam também que as ações da vida presente determinam as situações no futuro, caracterizadas por reencarnações sucessivas que são deuses, homens, asuras, animais em existência superiores ou inferiores, plantas e pretas (os habitantes do inferno) onde o período mais curto de castigo é de 500 anos. O budismo do norte aceita que após a morte a alma é julgada por um tribunal de dez juízes, presidido por Yama, que julga com absoluta imparcialidade.