Onde andarão Vandré e Cat Stevens?

Veio à minha cabeça dia desses um mistério que até hoje não foi bem explicado na história da Música Popular Brasileira. Onde está Geraldo Vandré? O que faz? Continua compondo em silêncio ou encostou seu violão? A ditadura brasileira o calou, e, ao que parece, para sempre. Ele não mais se levantou. Embora seja por motivo muito diferente, outro grande nome da música, dessa vez a pop inglesa, Cat Stevens também encerrou carreira. Ele tornou-se muçulmano e largou seu violão e não mais ouvimos sua bela voz, que se parecia com a de Bob Dylan.

Vandré e Stevens: dois exemplos de abandono, dois talentos perdidos que até hoje fazem falta ao mundo. Eles compuseram coisas lindas, bem diferente do lixo musical de hoje. Não deveriam parar. Mas tudo bem, cada cabeça, uma sentença, como dizem.

Fui à internet pesquisar alguma coisa sobre esses ídolos que participaram de minha formação como gente. Vandré nasceu em 1935. Tem hoje, portanto, 74 anos. Pelas parcas informações que obtive, ele vive recluso num apartamento no centro de São Paulo. Não dá entrevista e também nem deve ser procurado pela imprensa, que só trata de assuntos factuais, do momento. Vandré, infelizmente, é passado. Pertence a uma época que muitos querem esquecer, a da ditadura militar.

Esse homem fez canções maravilhosas, sendo que duas delas são mais famosas: Caminhando, cujo nome correto é Pra não dizer que não falei de flores, e Disparada, cantada por Jair Rodrigues. A primeira perdeu o sentido, por ser música engajada e hoje poucos entendem o que quer dizer. A outra, também engajada (tudo que ele fez tinha teor político), terá vida longa, talvez eterna na MPB, por ser uma obra-prima, onde tudo é bonito: canção, letra, interpretação e arranjo.

Vandré sumiu da MPB no final da década de 60, quando deixou o país dos generais, onde era persona non grata por causa da canção Caminhando, provavelmente a música mais proibida de nossa história, liberada quase vinte anos depois. Pelas informações da internet, Vandré ficou quatro anos fora do Brasil e quando voltou já não era mais o mesmo e caiu no ostracismo, embora tenha lançado mais um disco, Terrras do Benvirá, em 1973. Numa das notícias, li que Vandré poderá gravar um disco com Zé Ramalho, futuramente.

O inglês Cat Stevens surpreendeu a música pop mundial quando anunciou sua conversão ao islamismo em 1977 e se retirou do cenário para se dedicar totalmente a Alá. Adotou até um nome árabe: Yusuf Islam. Curiosamente, Stevens viveu no Brasil, no Rio de Janeiro, mas antes de ficar famoso na Inglaterra. Deixou para nós algumas canções lindíssimas como World Wide, gravada por muita gente, Oh very young, Were do the children play, Morning has broken, Lady D’arbanville e a maravilhosa balada Father and Sun.

Aliás, Renato Teixeira e seu filho Chico fizeram uma versão de Father and Sun. Pena que ouvi somente uma vez num programa da TV Cultura, de São Paulo. Outra curiosidade. Numa eleição anos atrás o candidato Eduardo Suplicy resolveu inovar em sua campanha de TV. Interpretou Father and Sun com seu filho ao violão (não, não era o Supla, era o outro). Pelas pesquisas na internet, soube que Cat Stevens gravou um disco dois anos atrás.

Hoje, ele (vive, acho, ainda na Ingleterra) participa de ações beneficentes e humanitárias. No entanto, lembro-me que quando o escritor indiano Salman Rushdie, radicado na Inglaterra, publicou Versos Satânicos em 1989, o mundo islâmico caiu em cima dele (Rushdie) e o condenou à morte, por achar que sua obra profanava o Islã. Na época, fiquei sabendo por uma matéria de rádio, Cat Stevens teria aprovado a pena de morte a Rushdie. Revoltados, muitos fãs ingleses atearam fogo aos discos de Cat Stevens em praça pública. Depois, não ouvi mais nada. Se foi verdade, lamentável Stevens. Quem cantou a paz e o amor não poderia jamais concordar com o fato.

Dois artistas talentosos, maravilhosos, que deixaram uma obra fantástica e contribuíram para tornar o mundo melhor, que no entanto nos deixaram de uma hora para outra para se dedicar a outra causa, que não a música. Será que voltaremos a ouvir canções inéditas desses dois? O tempo passou, mas talvez ainda dê. Peguem seus violões.