Onde está a classe média?

Logo após a criação do Plano real, o Brasil passou por um momento econômico favorável, devido à devolução, pelo Estado, do “imposto” invisível que era representado pela inflação. No entanto, o Estado retomou esse “imposto”, além da criação de outros. E aí voltamos à estagnação que permanece nos últimos vinte anos.

No período entre 1992 e 2002, a taxa de crescimento da economia brasileira foi de 30%, valor este muito influenciado pelo pequeno período de crescimento pós-Plano Real. Se não fosse este período, teríamos em nossa história mais uma década perdida, como foi a década de 80.

Nesse mar de instabilidade surge o crescimento de cidades de médio porte, principalmente nas regiões Sul e Centro Oeste, que impulsionaram as exportações graças à grande produção agropecuária. Nestas cidades há uma melhor distribuição de renda do que na região Sudeste, por exemplo, onde se encontram as grandes metrópoles, redutos de riqueza e ao mesmo tempo de miséria.

Ao longo dos últimos dez anos melhoraram os níveis de saúde, moradia e educação no país. O analfabetismo diminuiu bastante juntamente com a taxa de mortalidade, que fez nossa expectativa de vida ultrapassar os 70 anos. Mas tudo isso não foi suficiente para diminuir a inquietação causada pela desigualdade social e também, da falta de esperança.

Essa introdução sobre a situação econômica brasileira serve para ilustrar quem foi, talvez, o grande prejudicado: a classe média. Nos últimos dez anos, o salário real perdeu 25% de seu valor e 15% do seu poder de compra, devido à falta de correção do imposto de renda. Em contrapartida, houve aumento real nas tarifas de saneamento, energia elétrica e telefonia. As empresas, portanto, focaram suas estratégias na classe A, imune às crises, e nas classes C e D, menos favorecidas. Alguns ramos, como as redes de supermercados, criaram estratégias de atendimento à classe média, mas em baixa escala. O que veremos daqui para frente é um mercado cada vez mais atraente para a classe A, que está cada dia mais rica e mais numerosa.

O mesmo aconteceu com as organizações de médio porte. Enquanto as grandes empresas crescem ainda mais, pois só assim terão lucratividade, as pequenas empresas sobrevivem principalmente devido à sonegação fiscal. Com isso, as médias empresas, que são obrigadas a trabalhar dentro da lei, terão dificuldades para manter as atividades.

O governo continua insistindo em cobrar dos pobres as mesmas taxas pagas pelos ricos. A inadimplência aumenta a cada dia e somente a classe A terá poder de compra daqui a alguns anos.

O caminho é longo até que a renda real dos trabalhadores volte ao nível atingido logo após o Plano Real. No geral perdemos um terço da renda real e a desigualdade social tende a aumentar.

Mas quem disse que o brasileiro se entrega? O famoso “jeitinho” está em evidência, apesar de não ser o método mais correto, mas segurando as pontas enquanto nossa economia cresce lentamente.