Era um biquíni...
Ainda jovem tive um flerte com uma garota e, meio inexperiente no assunto, cai no desconsolo e meio cabisbaixo, apaixonado temporário como todos jovens ou maioria passam na fase de pré e mesmo pós adolescência por uns sentimentos de amor que invade o seu ser, muitas vezes uma espécie de amor platônico (impossível) à primeira vista e nos torna capaz de tudo para tentar dar certo, dada a inexperiência, nos fazendo até cometer certas gafes, certas aventuras, certos disparates, por conta de um amor sem alicerces para dar certo, ou seja, sonhos em castelos de areia.
Hoje a linguagem mais adequada que se fala aqui no meio de mecânicos e auxiliares, nesta situação é apelidá-lo de “bezerro”, amor inconsequente.
Eu, morando pela primeira vez longe dos familiares, talvez um pouco carente fosse o estopim para o início de um amor mesmo impossível, também pela falta de estar espiritualmente mais preparado me deixando apaixonar por um amor que não é para você.
Lembro de ir um baile com ela e sua mãe, de termos dançado divertido (brigar por ela, beber por ela, mostrar valente por ela, se auto promover por ela, sonhar por ela). Ela já experiente, eu ainda meio barriga verde, sem carro e quando você menos espera, ela te deixa por outro que tem carro. Aqueles sonhos, aqueles castelos, vão por água abaixo, mamando no dedo como diz a gíria, por começar a gostar de uma amor vulnerável, volúvel igual a folhas de bananeiras.
Você muda de vida, se afirmam completos seus estudos na medida do possível, se estabelece comercialmente, mas por ventura ainda pensa nela. Quando fora à capital de São Paulo fazer compras sempre encontra no centro de São Paulo, por exemplo, nas imediações do antigo Mappin pessoas conhecidas, ora de Barretos, ora de Frutal e certa vez cheguei a olhar por aqui e por acolá, em meio a multidões, pensando encontrá-la. Uma idéia sem lógica. Pensando, como encontrou por acaso alguns conhecidos, e se valendo da idéia que ela foi para a grande metrópole para trabalhar e estudar.
Lembrei de certo noite que fui encontrá-la no caminho de volta da escola, o Ginásio Estadão, e eu também vinha do Ateneu Municipal. Íamos à frente e as colegas vinham atrás cantando. "Era um biquíni de bolinha amarelinha...", pois o nome dela era Ana Maria a qual não era um mulherão de fechar o comércio, mas não de se jogar fora, magra, esguia, 1,65m, cabelos pretos curtos meio enrolados, mais para morena, um dente meio encavalado na frente, quase imperceptível, mas de perto dava para notar. As colegas faziam o refrão da música, sucesso da época, em 1964.
O pai dela era taxista, meu conhecido e cliente de auto peças, pois de vez em quando comprava comigo peças e acessórios para seu carro ano 1952, se não me engano um Peugeot importado usado como táxi, na Casa David Rolamentos de Barretos/SP. Considero que meu atendimento para com ele era nota 10, principalmente quando pensava: era um biquíni de bolinha amarelinho...
José Pedroso
Publicado em 03/01/2003