O Uso de Gastrópodes no Tratamento de Asmas.
No mês de fevereiro de 2009, moradores da área de ressaca do Bairro Muca, localizado na zona Sul da cidade de Macapá (AP), foram sondados. O objetivo desta sondagem foi de conhecer mais sobre a relação entre os moradores e os gastrópodes, os quais podem ser encontrados "aos montes" na região, onde foram construídas centenas de palafitas.
Antes de comentar os frutos desta conversa, permitam-me apresentar-lhes o sujeito que foi objeto de discussão:
Gastrópodes são "invertebrados" do grupo dos Mollusca, geralmente possuidores de uma concha espiral, sendo representados por mais de 2000 espécies no Brasil. Muitos servem de alimento aos seres humanos, são importantes na ciclagem de nutrientes nos ecossistemas ou são considerados pragas agrícolas. Além disso, podem ser usados como fonte de medicamentos. Inversamente, algumas espécies podem ser vetoras de organismos patogênicos ao Homem, como aqueles do gênero Biomphalaria, que participam do ciclo vital que pode resultar na esquistossomose humana, ou barriga d'água. São conhecidos popularmente como caracóis, caramujos e lesmas.
Durante o diálogo com os moradores do Muca,, verificamos que os gastrópodes também recebem a denominação de "Aruás". Para 23.3% dos informantes, os gastrópodes podem causar danos diversos ao Homem; destes, 100% estiveram de acordo que podem causar, direta ou indiretamente, enfermidades diversas. Para 10%, estes animais são fonte de alimento.
Porém, o dado mais curioso que surgiu ao longo das entrevistas foi o uso de gastrópodes no tratamento de asmas, por meio de suas massas de ovos . Outros pesquisadores, como COSTA-NETO, já haviam feito tal registro, no nordeste do Brasil, de onde centenas de pessoas chegam mensalmente ao Amapá, trazendo esses e outros conhecimentos valiosos acerca da biodiversidade de seu antigo entorno.
Voltando ao Muca, vejo nesta situação uma boa razão para a proteção dos gastrópodes. Em geral, a população não destruiria o que lhe serve de fonte de remédios. Trata-se de uma motivação antropocêntrica de proteção deste grupo, mas este é um dos poucos méritos de tal paradigma, não é? Ressalta-se que nem todas as espécies de gastrópodes são vetores de agentes causadores de doenças no Homem, embora numa zona de ressaca com águas poluidas por dejetos humanos, a maioria destes animais esteja bactérioinfectada. Porém, são necessários estudos que identifiquem os táxons de gastrópodes presentes na região e, praticamente, não existe este tipo de especialista no Amapá.
Foto:
Um exemplar da classe Gastropoda.
Sugestões de Leitura
COSTA-NETO, E. M. Os moluscos na zooterapia: medicina tradicional e importância clínico-farmacológica. Biotemas, 19 (3): 71-78, setembro de 2006.
COSTA-NETO, E. M. Conhecimentos e usos tradicionais de recursos faunísticos de uma comunidade afro-brasileira. Interciencia, 25:423-431, 2000.
SILVA, M. C. Conhecimento Científico e o Saber Popular Sobre os Moluscos nos Terreiros de Candomblé de Recife e Olinda, Estado de Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal da Paraíba, 2006.
No mês de fevereiro de 2009, moradores da área de ressaca do Bairro Muca, localizado na zona Sul da cidade de Macapá (AP), foram sondados. O objetivo desta sondagem foi de conhecer mais sobre a relação entre os moradores e os gastrópodes, os quais podem ser encontrados "aos montes" na região, onde foram construídas centenas de palafitas.
Antes de comentar os frutos desta conversa, permitam-me apresentar-lhes o sujeito que foi objeto de discussão:
Gastrópodes são "invertebrados" do grupo dos Mollusca, geralmente possuidores de uma concha espiral, sendo representados por mais de 2000 espécies no Brasil. Muitos servem de alimento aos seres humanos, são importantes na ciclagem de nutrientes nos ecossistemas ou são considerados pragas agrícolas. Além disso, podem ser usados como fonte de medicamentos. Inversamente, algumas espécies podem ser vetoras de organismos patogênicos ao Homem, como aqueles do gênero Biomphalaria, que participam do ciclo vital que pode resultar na esquistossomose humana, ou barriga d'água. São conhecidos popularmente como caracóis, caramujos e lesmas.
Durante o diálogo com os moradores do Muca,, verificamos que os gastrópodes também recebem a denominação de "Aruás". Para 23.3% dos informantes, os gastrópodes podem causar danos diversos ao Homem; destes, 100% estiveram de acordo que podem causar, direta ou indiretamente, enfermidades diversas. Para 10%, estes animais são fonte de alimento.
Porém, o dado mais curioso que surgiu ao longo das entrevistas foi o uso de gastrópodes no tratamento de asmas, por meio de suas massas de ovos . Outros pesquisadores, como COSTA-NETO, já haviam feito tal registro, no nordeste do Brasil, de onde centenas de pessoas chegam mensalmente ao Amapá, trazendo esses e outros conhecimentos valiosos acerca da biodiversidade de seu antigo entorno.
Voltando ao Muca, vejo nesta situação uma boa razão para a proteção dos gastrópodes. Em geral, a população não destruiria o que lhe serve de fonte de remédios. Trata-se de uma motivação antropocêntrica de proteção deste grupo, mas este é um dos poucos méritos de tal paradigma, não é? Ressalta-se que nem todas as espécies de gastrópodes são vetores de agentes causadores de doenças no Homem, embora numa zona de ressaca com águas poluidas por dejetos humanos, a maioria destes animais esteja bactérioinfectada. Porém, são necessários estudos que identifiquem os táxons de gastrópodes presentes na região e, praticamente, não existe este tipo de especialista no Amapá.
Foto:
Um exemplar da classe Gastropoda.
Sugestões de Leitura
COSTA-NETO, E. M. Os moluscos na zooterapia: medicina tradicional e importância clínico-farmacológica. Biotemas, 19 (3): 71-78, setembro de 2006.
COSTA-NETO, E. M. Conhecimentos e usos tradicionais de recursos faunísticos de uma comunidade afro-brasileira. Interciencia, 25:423-431, 2000.
SILVA, M. C. Conhecimento Científico e o Saber Popular Sobre os Moluscos nos Terreiros de Candomblé de Recife e Olinda, Estado de Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal da Paraíba, 2006.