A REFORMA ORTOGRÁFICA NA VISÃO LINHACIANA
A REFORMA ORTOGRÁFICA NA VISÃO LINHACIANA
Jorge Linhaça
Confesso que acho muito engraçada essa celeuma toda em torno da reforma ortográfica, ou do Acordo como queiram.
Engraçada sim, porque , pra começo de conversa não me lembro de ter sido consultado. Se alguém aí foi levante a mão.
Não amigos, não se trata de achar que sou um grande estudioso da língua pátria, mas já que um pequeno grupelho de intelectuais pode reclamar de não ser consultado, por que é que eu, o Zé Povinho, não posso reclamar?
Afinal quem é que escreve? Só os intelectuais e intelectualóides? Claro que não, todos aqueles que são alfabetizados ou semialfabetizados escrevem, bem ou mal, mas escrevem...
Ao invés de partir para o sentido prático
da coisa, o tal acordo ortográfico só fez embaralhar as cartas...cada qual puxa a sardinha pro seu braseiro e no entanto continuamos com a mesma conversinha de sempre...ditongos crescentes, decrescentes, hiatos, e etc...
Enquanto isso, coisinhas que só servem para atrapalhar, me desculpem aqui os estudiosos , continuam intocadas.
Não estou aqui desprezando a sapiência de ninguém mas sinceramente, alguém em sã consciência é capaz de me dar alguma explicação prática ( não erudita) do porquê de tantas versões do Por Que?
Pergunta, resposta, substantivo etc, todos com o mesmo som e grafias diferentes...continua tudo como dantes no quartel de Abrantes...aí ninguém mexeu.
O coitado do trema, que servia para designar as palavras com frio, por isso tremidas, pingu-u-im, lingu-u-iça, foi jogado logo pra fora sem dó nem piedade
mas o senhor Porque continua aí a reinar soberano com suas múltiplas personalidades.
A tal da crase então...motivo de regras e exceções , é outra intocável...Talvez por que incida apenas sobre a primeira letra do alfabeto o que por si só já configura um privilégio...rsrsrs
Já as tais consoantes mudas, que em Portugal, por exemplo, falam, são discriminadas pobrezinhas.
Alguém já disse que cada roca tem seu fuso e cada povo tem seu uso...nada mais verdadeiro...
Homogenizar a língua falada e escrita de forma tão diversa entre os povos lusófonos não deixa de ser pretender avanços no que diz respeito a torná-la mais forte perante a comunidade internacional.
O que é engraçado é que alguns patrícios reclamam de um colonialismo ás avessas já que o Brasil deu o pontapé inicial neste jogo, no entanto, esses mesmos senhores e senhoras, não reclamam de a língua inglesa ser hoje uma língua quase que universal...
A hipocrisia lusitana vai além disso, enquanto se recusam a agregar palavras como site ( sítio) e mouse ( rato), oriundas da informática, utilizam placas de trânsito com o tal do STOP ao invés de PARE...( Que falta faz o Marquês de Pombal)...e ainda falam Sitope...vais até o "Sitope" e viras a esquerda ( ao menos lá em Aljustrel é assim)
No entanto uma coisa é verdade, tanto lá como cá...ao menos é o que me parece ao ler o tal manifesto contra o acordo, seja lá por qual motivo for ( e por certo são vários) em ambos os lados os atlântico a língua não é ensinada como se devia, as escolas mal e porcamente pincelam o idioma deixando muitas sombras sobre os porquês ( olha ele aí de novo, que gajo insistente) da infinidade de regras e exceções encontradas na grafia das nossas similares línguas.
Para quem não conhece ainda, seria interessante ler alguns textos em Galego, que por algum motivo foi e é "esquecido" quando se fala em lusofonia. Sei também que existe o dialeto Mirandês em uma região de Portugal,embora não tenha tido ainda acesso a nenhum texto assim escrito.
Em ambos os casos, para os amigos brasileiros, talvez o que mais se assemelhe a esses linguajares seja, em nosso território, o modo de falar dos fronteiriços do Rio Grande do Sul.
Ao fim ao cabo, dentro de nossos próprios países há uma diversidade linguística tão grande, que não vai ser um acordo ortográfico que há de por fim a qualquer discussão.
Talvez , para início de conversa, precisemos, antes de mais nada, entender que, embora tenhamos a mesma raiz linguística, cada árvore adaptou-se ao clima em que foi plantada e, portanto, cada fruto tem o seu peculiar sabor sem deixar de ser , ainda assim, da mesma espécie.
Se optarmos por uma "engenharia reversa" da nossa língua, como parece ser a pretensão de alguns, acho que seria bem melhor voltarmos a estudar o latim, não apenas nos países lusófonos, mas em todos aqueles que derivaram da famosa "língua morta" que aliás, de morta não tem nada, já que sobreviveu integrada a novos idiomas.
Podíamos pensar então, quem sabe, em uma comunidade dos países "latinófonos" ( por falta de um termo melhor) que agregaria, além dos países lusófonos, os hispânicos, Francos e a Itália e se não me engano ( e talvez esteja sim, enganado) o dialeto Români.
Claro que aí a dor de cabeça seria maior, mas ao menos acabaríamos com essa polarização do debate entre Portugal e Brasil, como se a nós coubesse buscar uma soberania ilusória sobre uma língua que na verdade já é derivada de uma junção de vários dialetos e regionalismos.
Quando os governantes e intelectualóides entenderem que não os donos da verdade e, principalmente perceberem que algumas centenas não devem e nem podem impôr sua vontade sobre milhões, aí sim, podemos dizer que existiu um consenso em alguma coisa e que a maioria foi respeitada.
Até lá, caros amigos, a luta junto ao braseiro há de continuar.
E haja sardinhas!
Arre gaita! ( ou será hare baba?)